Na rua, drag defende dissertação de mestrado ‘montada’, em evento aberto
Juliana Bentes, ou Luna Skyyssime, defendeu o trabalho que fala sobre territorialidade e influência no processo criativo das ‘drags demônias’
No último dia 20 de junho, o resultado de um estudo sobre arte ganhou as ruas. A artista Juliana Bentes defendeu sua tese de mestrado, que falava justamente sobre ocupação de espaços por artistas. A defesa ocorreu no píer da Casa das Onze Janelas, em Belém, onde a artista apresentou os resultados de sua pesquisa ‘montada’ como Luna Skyyssime, sua drag.
Com o tema “Ekovoverà - Um estudo sobre a territorialidade nos processos identitários das drags demônias”, o trabalho de Juliana faz uma análise sobre territorialidade, e de que forma ela influencia na construção da identidade das drags ‘demônias’ - como são chamadas as drags que integram o coletivo Noite Suja, em Belém.
“Eu trabalho nessa territorialidade a partir da cidade. Não só a cidade enquanto espaço físico, mas enquanto espaço subjetivo, onde acontecem as relações; espaço em que converge o imaginário com o físico, que é o Círio, o calor, o Pedreira-Lomas [linha de ônibus de Belém]. Todos esses signos e de que forma eles atravessam a influenciam a construção de identidade da drag demonia”, explica Juliana sobre o trabalho.
“É muito sobre isso de invasão urbana, de ocupar espaço, de adentrar os espaços e lutar por esse direito a cidade (...) com certeza é muito importante que a gente, enquanto artista marginalizado, ocupe esses espaços e esteja lá, esteja vivendo aquele espaço, até pra gente não se conformar nessa situação de marginalizado socialmente. A gente precisa cada vez mais estar lá, e lutar por esse lugar, de estar”, defende.
A defesa do mestrado de Juliana também foi um evento, com discotecagem da DJ S1mone, e até performances das drag queens Perséfone, Black Jambú e Shayra Brotero. Ela relembra que já havia decido que a defesa seria na rua, de qualquer forma, principalmente por conta do tema. A artista então decidiu realizar uma campanha de financiamento coletivo, para custear a estrutura do evento e as taxas necessárias.
O trabalho de Juliana se mostra não apenas como de grande importância para os estudos sobre expressões artísticas existentes no Pará. Mas também ocorre em um mês significativo para o seu objeto de estudo, já que junho marca as comemorações do orgulho LGBTQI+.
“A importância de ter defendido um trabalho com essa potência, nesse mês, feito da gente pra gente, é grande; porque a grande maioria das artistas envolvidas não só no grupo cultural, mas no trabalho, nas entrevistas, e eu mesmo, somos todos parte do espectro LGBTQI+”, destaca Juliana.
“Eu me sinto realmente como se tivesse com uma missao crumprioda, não só academicamente, nem só pra mim mesma. Mas cumpri uma grande missaõ com a minha comunidade, sabe? Com as pessoas a quem eu devo grande parte do que foi conquistado. Devolvendo para a sociedade o que ela me deu também. Até porque a montação em si, o ser demônia, o estar existir demônia é, querendo ou não, algo livre, é algo extremamente libertário transgressor; e hoje em dia ser livre é genuinamente um ato político”, justifica a artista.
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