Festas de aparelhagem movimentam a vida financeira de trabalhadores de Belém

Carregadores de som, vendedores de churrasquinho, pintores de faixas e produtores de vinhetas são algumas das profissões ligadas a estes eventos tipicamente paraenses

Juliana Maia
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Além de ser uma manifestação cultural, com ritmo, dança e festa, genuína do Pará, as festas de aparelhagem movem uma cadeia produtiva de trabalhadores. De carregadores de som a vendedores de churrasquinho, profissionais de diferentes bairros da capital, Belémconquistam sua renda e contam já ter realizado sonhos decorrentes das atividades ligadas a estes eventos, que fazem parte da vida de muitos paraenses

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Nos quatro cantos de Belém é possível se deparar com as famosas faixas de divulgação destas festas. São muitos os profissionais ao redor do estado que têm sua renda a partir deste trabalho, como é o caso de Nil Ferreira, 44, que trabalha como pintor nesse ramo há mais de 20 anos. Segundo o artista, tudo começou com um de seus tios, que era dono de uma aparelhagem e tocava como DJ. Naquela época, Nil iniciou os trabalhos de divulgação destes eventos e, de lá até então, seu talento ganhou força e ele seguiu na profissão até os dias atuais.

image Pinturas do artista alcançaram outros lugares e já foram encomendadas para eventos em outros países (Foto/Juliana Maia/O Liberal)

"No início, trabalhava sozinho, era pouco conhecido, fomos entrando nesse movimento e fomos crescendo. Há uns dez anos, as aparelhagens me deram apoio e agora sou reconhecido por vários promotores de eventos e existem DJ's que levam minhas faixas para divulgar festas internacionais. É gratificante. Hoje conto com um ajudante que trabalha comigo aqui na Nil Art e nós começamos às seis da manhã e seguimos até 23h ou 00h, de domingo a domingo. São muitas festas e faço, por dia, de 20 a 30 faixas", conta Nil.

Em sua rotina de trabalho, o paraense também faz questão de ouvir as músicas que estão presentes nas festas que ele divulga em faixas. Desde jovem ele sempre gostou de escutar o brega paraense, ritmo que, unido ao trabalho de pintor, proporcionou a realização de sonhos dele e de sua família, como a conquista da sua casa e estúdio de pintura.

“Estas festas são importantes, geram empregos para pessoas como eu, que são autônomos. Assim como o meu trabalho também ajuda e gera renda para os outros. Eu pinto, vem um rapaz em um carro som buscar as faixas para pendurar nos locais. Antigamente eu que fazia tudo isso, hoje consigo ajudar outros trabalhadores também, com o aumento da demanda”, reforça o artista.

Nuccia Galvão vende churrasquinho na frente das festas de brega há 20 anos. Atualmente com 51, ela segue tendo sua renda financeira a partir da venda da comida e conta que a clientela é grande. Para a cozinheira, seu trabalho é gratificante e ela garante que tudo é feito com muito amor, desde a primeira vez, quando iniciou as vendas em um evento no estádio Mangueirão, na rodovia Augusto Montenegro.

image Nuccia conquista seus clientes com os alimentos vendidos em frente às casas de shows (Foto/Juliana Maia/O Liberal)

Mesmo não tendo a música destes eventos como parte da rotina, por ser cristã, Nuccia vê esse forte movimento cultural como algo extremamente importante, já que leva diversão e lazer e proporciona a renda de muitos trabalhadores e suas famílias. Com a rotina iniciando às seis da manhã, ela é quem faz todo o passo a passo até estar com os espetos prontos para vender nos lugares, onde chega a partir das 19 horas e segue até finalizar seus produtos.

"Eu trabalhava em casa, porque tinha filho pequeno. Com uma cunhada minha eu comecei a trabalhar com isso e peguei o gosto. Hoje eu venho para essas festas e tenho uma relação próxima com minha freguesia, que são as pessoas que estão dentro desses eventos e até encomendam para outros lugares. Com essa profissão eu criei minhas filhas e meus netos, que consigo ajudá-los como posso, além de ter conquistado a minha casa, o que, para mim, é muito", diz ela.

Antes da festa de aparelhagem iniciar, há todo um preparo por trás, envolvendo equipes diferentes, responsáveis por levar e montar as estruturas dos sons. Flávio Souza tem 49 anos e trabalha com a profissão homenageada pela banda Andiroba: carregador de aparelhagens. Este foi o primeiro emprego da vida do paraense e hoje, 30 anos neste ramo, ele comemora ao ver que a sua rotina está ganhando visibilidade e reconhecimento.

"Comecei com a aparelhagem Jackson, hoje estou no Brasilândia. Já trabalhei com muitas. É um emprego bom e gostoso. Desde pequeno sou apaixonado por esses sons, na adolescência pedi a oportunidade para uma dessas aparelhagens mesmo sem saber nada e, de lá para cá, não larguei mais", relembra o carregador.

image Flávio já passou por várias aparelhagens, desde o Jackson ao Brasilândia, onde está atualmente (Foto/Juliana Maia/O Liberal)

"Somos uma equipe unida. Eu gosto muito do que eu faço. Via as pessoas carregando as aparelhagens e vi que queria entrar nesse ramo. Fiz muitos amigos e viajo muito. É uma vida divertida. Nós, carregadores, agora que estamos sendo reconhecidos e é muito bom poder trabalhar com música, principalmente no 'Baile da Saudade', que marcou minha vida."

Nestas festas, as vinhetas são alguns dos pontos mais marcantes. São conhecidas como as chamadas que passam em carros de sons, nas televisões, rádio ou redes sociais, anunciando os eventos e convidando a população para se divertir nestes eventos. Neste ramo, trabalha há 18 anos o produtor de vinhetas Joel Souza, que já teve suas produções com grandes nomes do cenário da música paraense, como as aparelhagens Super Pop, Rubi e Carabao.

Além de produtor, Joel é DJ. Ele sempre esteve envolvido neste meio de alguma forma, por admirar as vinhetas e as aparelhagens. No currículo, ele acumula mais de mil vinhetas produzidas para sons de grande porte. O profissional afirma que cresceu e conseguiu somar para este movimento cultural, nas duas profissões ligadas à música paraense.

image Joel produziu a primeira vinheta para a aparelhagem Rubi, há 18 anos (Foto/Juliana Maia/O Liberal)

"A trabalhava e não era tão visto, não tinham as redes sociais como hoje. Levei meu material para uma aparelhagem e surpreendentemente eles gostaram e isso me levou até onde estou hoje. Com meu trabalho, faço amizades com clientes e locutores, e início às 9 da manhã e sigo até às 18 horas. São umas 28 vinhetas aproximadamente por dia", diz.

"Meu trabalho me proporcionou o meu carro, minha moto. Estou conquistando e batalhando. É o meu 'ganha-pão', assim como a vida de DJ de aparelhagem. Este movimento está em uma crescente, sendo até representado no Rock In Rio, ou indo para outros países, isso me deixa muito feliz em acompanhar tudo isso e crescendo junto", finaliza Joel.

(*Estagiária sob supervisão do Coordenador do Núcleo de Cultura de Oliberal.com, Abílio Dantas)

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