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Morre David Matos, o 'Preguinho' do Catalendas, aos 60 anos

O ator e manipulador de bonecos estava tratando uma doença neurodegenerativa que comprometia sua mobilidade. A causa da morte não foi divulgada

Abílio Dantas e Amanda Martins

Morreu nesta sexta-feira (15/11),  o ator carioca, roteirista e manipulador de bonecos, Luiz Evandro da Costa Passos, conhecido artisticamente como David Matos, que deu vida ao personagem Preguinho no programa infantil Catalendas, exibido pela TV Cultura do Pará. Aos 60 anos, David estava internado no Hospital Santa Casa de Misericórdia, em Goiânia, onde tratava de uma doença neurodegenerativa que comprometia sua mobilidade. Ele estava hospitalizado desde o dia 5 de setembro deste ano. O ator também enfrentava complicações renais, pancreatite crônica e uma infecção generalizada agravada por uma bactéria multirresistente. Mesmo com esforços médicos, o quadro de saúde de David era considerado grave. A causa da morte não foi divulgada.

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Amigos e colegas de David ressaltaram sua genialidade artística e generosidade pessoal, destacando o legado imensurável que ele deixa para a cultura paraense e nacional. As crianças que cresceram assistindo ao Preguinho, hoje adultos, guardam com carinho as memórias das lições transmitidos pelo macaquinho curioso.

A jornalista e ex-presidente da Fundação Paraense de Radiodifusão (Funtelpa), Adelaide Oliveira, destacou a relevância da trajetória de David. Em entrevista ao Grupo Liberal, ela relembrou a criação do personagem e o impacto do trabalho do ator e manipulador de bonecos no teatro.

"Há muitos anos, assisti ao piloto do Catalendas e comentei com Rogê Paes, diretor do programa, que sentia falta de um personagem que pudesse fazer perguntas para a Dona Preguiça. O Preguinho nasceu para ser esse personagem e foi lindamente abraçado pelo talento do David, que deu vida, voz e paixão ao personagem. Preguinho era amado pelas crianças e adultos, e David era respeitado por profissionais do teatro e do audiovisual", relatou.

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Adelaide destacou a versatilidade de David, que trabalhou em diversas funções, o que dava a ele uma visão única e diferenciada das obras. Ela relembrou também o ambiente das gravações do Catalendas.

"As gravações eram momentos de extremo profissionalismo e até de experimentalismo. Aquilo nunca havia sido feito antes”, disse a comunicadora sobre o programa trazer identidade, cultura, imaginário e memória da Amazônia.

Segundo a jornalista, até hoje o programa é referência acadêmica e objeto de estudo. "David contribuiu para que o Catalendas fosse muito além de um programa infantil. Ele ajudou a criar algo que até hoje inspira pesquisas e análises", afirmou Adelaide.

TRAJETÓRIA

Com mais de 40 anos dedicados à arte, David foi um nome central no teatro de formas animadas no Brasil. Nascido no Rio de Janeiro, ele se mudou para Belém no início dos anos 90, após se encantar pelo trabalho do Grupo Experiência.

Em solo paraense, contribuiu de maneira significativa para a cena cultural, passando por grupos renomados como Usina Contemporânea de Teatro, onde participou de festivais internacionais, e fundando o In Bust Teatro de Bonecos em 96.

Na Fundação Curro Velho, hoje Fundação Cultural do Pará, atuou como educador por 18 anos. David, no entanto, eternizou-se na memória de gerações de paraenses como o manipulador e criador do macaquinho Preguinho.

Com o bordão “Eu vou, mas eu volto”, o personagem cativou crianças e adultos ao lado de Dona Preguiça em aventuras repletas de humor e aprendizado. A série, que esteve no ar por 13 temporadas, foi muito além de um programa infantil.

Carol Abreu, designer e artista visual, relembra com carinho e admiração a trajetória do artista. Para ela, o artista deixa como legado um teatro humano, delicado e encantador, moldado por um olhar doce e generoso.

“Conheci o David na Fundação Curro Velho, onde ele era diretor de oficinas. Era chefe, mas dono de um carisma inesquecível. Não lembro exatamente quando soube do Preguinho, mas já admirava muito ele”, contou Carol.

Ela destaca momentos de proximidade com David, seja nas oficinas de carnaval da fundação ou em ações formativas realizadas no SESC, onde o artista compartilhava seu processo criativo com educadores e alunos.

“Ele realizava oficinas de roteiro, dublagens, e usos de áudio, sempre com uma pedagogia afetiva, alternativa e artesanal. Era simples e, ao mesmo tempo, dominava harmonicamente seu trabalho, o que nos aproximava ainda mais de seu universo”, afirmou. 

Carol destacou a humildade de David como uma das suas maiores virtudes. Entre as lembranças marcantes, ela destaca as trocas durante sua dissertação sobre memória afetiva, onde o artista contribuiu com sua sensibilidade e visão única. “David deixa seus encantos nas pessoas que atravessou. Sou feliz por ter o privilégio de encontrá-lo. Ele continuará vivo em minha memória”, finalizou.

 

 

 

 

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