Modelos conquistam espaços para diferentes raças e biótipos
Diversidade e inclusão de outros biótipos na moda começam a refletir o Brasil real
Até pouco tempo o mercado da moda era considerado um espaço de pressão e exclusão em que somente havia destaque para modelos brancos, altos, magros e de olhos azuis. Ao mesmo tempo em que esse mercado refletia os preconceitos sociais e raciais, gerava um sentimento de apartheid em um país como o Brasil, onde a maior parte da população é negra ou descendente indígena. Essa realidade tem mudado aos poucos nos últimos anos.
Após muita contestação na sociedade muitas marcas têm se tornado mais plurais e inclusivas. Apesar de ainda serem em menor número, começam a aparecer com mais frequência rostos negros e indígenas, modelos baixas, ou com corpos plus size. Essa mudança se reflete em uma geração de novos modelos com autoestima alta pelos próprios corpos.
Um desses exemplos da nova geração de modelos que tem despontado no Brasil e no mundo é a jovem Emilly Nunes, de 21 anos. Com fortes traços amazônicos, a modelo, que vendia chip de celular em Belém, já foi duas vezes capa da revista Vogue, uma das publicações mais conceituadas de moda, no Brasil e em Portugal. Atualmente residindo em São Paulo, Emilly já trabalhou em campanhas de grandes marcas.
“O mercado está tentando fazer a sua parte para incluir esse pessoal, mas é um passo a passo. A moda está sempre se renovando, mas é óbvio que é pouco, ainda tem muita gente para entrar no mercado. Com o passar dos meses isso vai aumentar, antigamente ninguém tinha referência. Eu nunca olhei para o mercado e vi uma mulher indígena como referência. As minhas referências eram as mulheres brancas”, conta Emilly.
Uma modelo que estabelece novos padrões é Sinara Assunção, de 25 anos, que desde 2014, por causa de um trabalho de faculdade, começou na modelagem. Após ser “cobaia” de outros amigos fotógrafos, Sinara decidiu investir na carreira de modelo plus size ao começar a receber convites de algumas marcas. “2020 é o ano que tenho buscado me consolidar mais, fazer carreira como modelo. Nos outros anos eu trabalhava, mas não era o meu único foco”, explica.
A jovem conta que já enfrentou preconceito velado por causa de seu corpo, que só foi desfeito quando perceberam a qualidade dos trabalhos profissionais que havia feito. “Ao longo desses anos de trabalhos enfrentei algumas situações de racismo e gordofobia também de uma forma muito velada. Mais no sentido de ser preterida mesmo, o tratamento era diferente. Nunca foi nada muito escancarado, mas já sofri esses tipos de discriminação”, revela.
O potencial de modelos mais plurais que representem mais o povo brasileiro poderá ter um efeito exponencial nas próximas gerações com a inclusão de mais profissionais negros, pardos, indígenas, plus size e de baixa estatura. Esse é um dos maiores orgulhos profissionais da jovem Emilly ao se tornar referência para muitas outras meninas e meninos do Norte que também almejam ser modelos.
“Eu fico muito feliz em saber que as pessoas me têm como espelho, inspiração, principalmente no Norte. Recebo muitas mensagens de meninas da minha terra dizendo que eu sou uma inspiração. Saber que alguma forma eu consiga influenciar essas pessoas a fazer algo de diferente na vida delas, que parem e pensem da melhor forma que também podem é muito gratificante”, assegura.
Sinara também acredita que continuar trabalhando e aparecendo em campanhas servirá para cada vez mais para mulheres com o seu biótipo plus size entrarem no mercado. “O que acho que deveria ser feito é que as pessoas deveriam desmistificar e apostar em pessoas reais. Quando se escolhe modelos de outros biótipos, rola uma identificação na população que não trabalha com isso. Eu passei bastante tempo da minha vida não me vendo como uma modelo, porque não via pessoas como eu, tanto na passarela, quanto na fotografia. Quanto mais oportunidade puder dar ou ser dada em torno de vários biótipos melhor o quadro de representatividade”, garante.
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