Milton Cunha analisa a cultura popular na Feira Pan-Amazônica

O carnavalesco e comentarista da Globo participa de encontro ao lado da professora Cláudia Palheta, da UFPA

Enize Vidigal
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A cultura popular ficará em evidência no quarto dia de programação da 25a Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, nesta terça-feira, 30, no Hangar Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. Um dos principais convidados é o carnavalesco, cenógrafo, escritor paraense Milton Cunha, comentarista de carnaval da TV Globo, que tem reconhecida atuação no Rio de Janeiro. Ele participará do encontro com Cláudia Palheta, professora de Artes da Universidade Federal do Pará (UFPA), às 19h, sob a mediação de Cláudio Sapucahy.

Natural de Belém, Milton Cunha pesquisou as narrativas do carnavalesco Joãosinho Trinta nos cursos de mestrado e de Doutorado em Teoria Literária, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, hoje, realiza o segundo pós-doutorado, no Fórum de Ciência e Cultura do Museu Nacional da UFRJ sobre o Boi de Parintins, mais especificamente sobre a estrutura narrativa do patrimônio cultural dos povos da floresta amazônica. 

“Eu tenho estudado nos últimos 20 anos como a escola de samba estrutura uma narrativa. Esse modelo carioca viaja e vai se estruturando pelo Brasil, cada cidade pega isso e coloca dentro do seu universo de valores, muito parecido com o boi de São Luís, que viaja para Parintins, onde os povos da floresta assumem uma narrativa indígena. O carnaval de Macapá é caboclo com os tambores do marabaixo. Em cada cidade florescem versões muito peculiares da escola de samba. É natural que os desfiles de escola de samba sejam diferentes porque cada grupo se apropria dele e expõe uma coisa muito sua, isso é ótimo”, descreve.

Milton Cunha observa que, historicamente, a cultura popular é discriminada por surgir nas camadas mais pobres. “Eu quis abrir flancos novos de conhecimento e documentação. Me interessava desbravar a cultura popular, que é a minha pegada como artista, sou folião. Me interessa as expressões do povo, que é tão risco, complexo e sofisticado. 

Não gostaria de trabalhar sobre a cultura dita da branquitude econômica das artes ditas clássicas. É uma posição política até diante da vida. Por que o teatro, o balé e a orquestra sinfônica merecem estudo e dinheiro carimbado todo o ano, enquanto as estruturas culturais do povo não são reconhecidas, não têm nem os estudos e nem a verba. Era um desafio”, destaca.

“A cultura popular é potente e sedutora. O ziriguidum da escola de samba em praça pública, desorganizado e caótico, atrai o público do baile chique porque é bacana. O interessante é que enquanto ela (escola de samba) está sendo construída e estruturada, o povão, a negritude do início do século XX está montando a mais perfeita tradução do espírito do Brasil. Como que ela se impõe maior do que o preconceito, a perseguição, a demonização, como que ela passa a rasteira nessa patrulha ideológica que fica tentando menosprezá-la, isso é dar nó em pingo d’água”, acrescenta.

A falta de incentivo à cultura popular, Milton atribui ao racismo estrutural e à “idealização do que vem de fora”. “O Brasil é riquíssimo em expressões culturais, mas há um desprezo que as empurra para os limites, as periferias das cidades. A mesma demonização que houve com o samba no início do século XX, também teve com o funk e o rap no final do século XX”.

Milton Cunha vai bater-papo com a Doutora em História Social da Amazônia e mestre em Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Cláudia Palheta, que possui especialização em Estudos Culturais na Amazônia. 

Ele reside no Rio desde 1982. “Eu busquei o Rio aos 19 anos, como porta de entrada da indústria do entretenimento”, recorda. Milton tornou-se carnavalesco em 1993, quando desenvolveu o enredo da Beija-Flor de Nilópolis para o carnaval de 1994, sobre o tema “Margareth Mee, a Dama das Bromélias”. A última vez que Milton veio à capital paraense foi no Círio de 2015, a convite de Fafá de Belém. “Adoro voltar a Belém, adoro as comidas, as pessoas, todo mundo muito legal”.

 

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