Marcelo D'Salete fala sobre a resistência quilombola na 17a Feira Literária Internacional de Paraty
Ele foi vencedor do Prêmio Eisner, o oscar dos quadrinhos
O quadrinista e professor Marcelo D'Salete, vencedor do Prêmio Eisner, o Oscar dos quadrinhos, debateu com a ativista local Marcela Cananéa sobre a importância da resistência de comunidades "tradicionais" no Brasil - seus livros premiados, Cumbe e Angola Janga (editora Veneta), tratam dos temas da escravidão no período colonial, por uma perspectiva particular dos próprios escravizados. O encontro ocorreu na programação da 17.ª Festa Literária Internacional de Paraty.
"No momento político atual, esses grupos sofrem diversas ameaças", lamentou o quadrinista, retomando um tema recorrente nesta Flip, falando sobre quilombolas e indígenas. "Mas eles têm uma maneira de lidar com a terra e com espaço muito própria, e quando a gente vê uma série de políticas e ações para excluir a diversidade, com o conceito de que tudo pode ser vendido, é de se notar uma ignorância atroz. É não compreender nossa história e o conhecimento produzido por essas comunidades. Eliminar a diversidade planifica um modelo que só beneficia um determinado grupo de pessoas no poder há muito tempo. E contra isso, nós estamos aqui", disse o escritor, aplaudido no evento que ocorre na cidade do litoral fluminense.
Ele também comentou o fato de suas histórias serem agora utilizadas em escolas. Com um grau de sofisticação elevado, D'Salete usa a ficção para construir imagens históricas de pessoas negras no período colonial. A representação mais antiga, de sua época como estudante, explica, geralmente mostrava os negros em situação de submissão - contribuir para a mudança dessa percepção é uma de suas missões.
"Ao falar da história do negro no Brasil, na educação, existo algo muito perverso: relacioná-lo sempre à escravidão", disse. "Tem uma história muito rica anterior a isso, e uma história grande de resistência ao que aconteceu ali. Quero reaver essa memória para ter um contraponto para mostrar para jovens e crianças", comentou.
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