Kamara Kó Galeria recebe ocupação '7.2 DOWNLOADING, com Miguel Chikaoka'
A exposição celebra os 72 anos do fotógrafo, artista e educador radicado no Pará.
O fotógrafo, artista e educador Miguel Chikaoka comemora 72 anos de idade com a ocupação “7.2 DOWNLOADING, com Miguel Chikaoka”, na Kamara Kó Galeria. A mostra reúne fotografias, objetos e poemas que ele produziu de forma coletiva, como gosta de ressaltar: “Essa exposição é um olhar de fora do que fui construindo com a participação de muita gente do Pará e de outras pessoas do Brasil. Essa ocupação é o momento de reencontros”, afirma. A mostra terá abertura nesta segunda-feira, 3, a partir das 17h, e ficará aberta à visitação até o próximo dia 10, de terça à sexta-feira, das 15 às 18h, e no sábado, das 10 às 13h.
Natural de São Paulo, Miguel Chikaoka escolheu viver em Belém há 42 anos. Em Belém, ele fundou a Associação FotoAtiva, referência no desenvolvimento da cultura fotográfica na região por meio da pesquisa e experimentação na metodologia pautada em abordagens da gênese do processo fotográfico, ações e projetos de formação de ativistas, professores e educadores e projetos de criação de obras, ocupações e intervenções.
“A decisão de vir para o Norte, especificamente para Belém, foi porque eu precisava conhecer o Brasil que eu não conheço”, revela. “Me envolvi em motivos sociais e culturais, onde o corpo a corpo foi muito intenso. Fiz ações, não só fotografando, mas participando de processos de teatro, música e literatura, estando junto das pessoas que estavam produzindo e que me marcaram muito. Hoje, meus processos trazem como nutriente esses momentos vividos que se somam”, descreve.
Exposição
A ocupação foi proposta pelo artista, cujo processo criativo se integra às práticas educativas com abordagens inspiradas em leituras críticas do que constitui a gênese das imagens. O evento reúne trabalhos produzidos ao longo da carreira de Chikaoka, que foram escolhidos com a ajuda da curadora Marisa Mokarzel e da galerista Makiko Akao.
Entre as fotografias da exposição, está o registro de 1989, na região do Xingu, quando jornalistas de várias partes do Brasil e do mundo vieram ao Pará registrar a manifestação de indígenas contra a chamada usina hidrelétrica de Kararaô, que veio se tornar realidade com nome de Belo Monte, anos mais tarde. “Sting veio encontrar o cacique Raoni (na ocasião). E eu subi numa árvore e fiz o contra-plano”, recorda. A imagem em preto e branco mostra dezenas de fotógrafos e cinegrafistas ávidos em registrar os indígenas.
Um dos objetos apresentados na “7.2 DOWNLOADING” que promove a interação com o público é a câmera pinhole (técnica fotográfica artesanal que permite a formação de imagem em um recipiente vedado, mas com um pequeno furo para a entrada de luz) que foi desenvolvida por ele em uma cuia. O dispositivo artesanal possui um CD acoplado, no qual é refletida a imagem invertida fotografada. “A cuia é um elemento da natureza, que, com o CD e o furo que ele possui se assemelha a um globo ocular”, descreve.
Ao visitar a mostra, o público também vai se deparar com um painel em que está exibido “um ponto”. “O ponto é onde tudo começa, onde tudo pode acontecer e tudo pode terminar. Ele dialoga com outro dispositivo, que é a câmera escura no modo mais simples, que é um furinho de luz que penetra no ambiente e nos propicia ver a imagem”, explica o artista.
A temática da fotografia aparece expressa em outras imagens da exposição, como na radiografia do próprio olho em que Miguel Chikaoka fez uma intervenção artística para acrescentar uma espécie de prego que perfura o órgão, tal como o furo que permite a entrada de um pequeno feixe de luz para formar a imagem fotográfica.
“Trago também alguns escritos que são três poemas que flertam com o haikai (poesia sintética de origem japonesa composta de três versos). As palavras constituem também um campo imagético. A prática fotográfica tem a ver com a poesia”, completa.
Vivência no Pará
A ocupação de Miguel Chikaoka promete ser um grande encontro de veteranos e iniciantes da fotografia artística e jornalística paraense. “Estou fazendo isso (ocupação) junto com as pessoas, refletindo a trajetória construída de forma plural. Tenho essa coisa do coletivo, com quem estou interagindo, sempre acabo me provocando ou sendo provocado por esses encontros e desafios que ocorrem naturalmente na relação de ensino e aprendizado, ensino e aprendo e vice-versa”, descreve.
“Fiquei no Pará porque fui construindo no tempo aqui. Muitas coisas me chamaram a atenção de realidades múltiplas que tive a oportunidade de presenciar, de viver e de compartilhar. É um balanço encantador”, acrescenta.
Perguntado se decidiu morar no estado porque “tomou açaí e ficou”, como diz o ditado local, Miguel Chikaoka responde como bom paraense “naturalizado”: “Eu ainda passei muitos anos tomando açaí como sobremesa, como sorvete. Mas, nos anos mais recentes passei a tomar açaí (na tigela)”, conta entre risos. “Não lembrava de ter tomado tanto açaí como tô tomando agora. Tomar açaí como refeição é uma coisa que não lembro de ter feito nos últimos anos. Mas já tomo com camarão, com peixe sem muita farinha pra não pesar demais”.
Segundo o artista, a ideia de “descarregar” todas as experiências que acumula na vivência no Pará partiu da equação 7+2=9, que, para a numerologia, é o último dos números nucleares, representando o fim de um caminho, o fim de um ciclo e a iminência do começo do outro. “Para mim 7.2 representa esse ir vir entre a completude e a incompletude quando falamos de realizações de quem trilha e completa um caminho. Seria o exercício de aprender a se entregar para imensidão do universo.”
Agende-se:
“Ocupação 7.2 DOWNLOADING, com Miguel Chikaoka”
Abertura: Segunda-feira, 03, a partir de 17 h
Visitação: De 03 a 10 de outubro, de terça a sexta-feira, de 15h às 18h, e sábado, de 10h às 13h.
Local: Kamara Kó Galeria (Tv Frutuoso Guimarães, 611, entre Riachuelo e General Gurjão)
Evento gratuito
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