Segundo Romance de Ronald Junqueiro é publicado em homenagem ao escritor

Nas madrugadas do final dos anos 1970, quem ainda estava na redação de O Liberal esperando o jornal fechar tinha, então, uma pausa para repassar o dia, conversar fiado, contar histórias. Entre as melhores estavam sempre as de Ronald Junqueiro, repórter de texto admirado e, como quase todos, trabalhador de dupla jornada.

Também administrador local do Projeto Pixinguinha, da Funarte, recebia artistas nacionais para apresentações no Theatro da Paz e sua narrativa espirituosa nos fazia “entrar” nos shows e bastidores.

Jornalista curioso, grande leitor, poeta e letrista, Ronald era um pescador de histórias, ouvinte atento também das vozes da noite boêmia do Bar do Parque, onde a “pausa” da redação se prolongava. O acervo se ampliou quando ele começou a correr mundo, especialmente nas estadas na Alemanha e no Japão.

No final dos anos 1990, imerso em experiências estéticas no universo das novas tecnologias, Ronald começou a planejar um conjunto iniciado com “Berlinda – asas para o fim do mundo”, lançado em 2013.

Nesta sexta-feira, 24, quando Ronald faria aniversário, está sendo lançado pela editora Paka-Tatu o segundo romance, que estava pronto para impressão quando ele morreu, há dois anos.

O lançamento acontece por meio de publicações em mídia impressa e em plataformas sociais, e ainda pelo website https://ronaldjunqueiro.com.br/, criado para abrigar a sua história e as suas criações intelectuais e artísticas, a partir também de hoje.

Num dos textos em que explicava seu processo criativo, Ronald definiu o romance: “É uma trama vivida por personagens que transitam entre Tokyo, Belém do Pará e Tomé-Açu, uma cidade do estado para onde vieram, no início do século passado, levas de famílias japonesas, antes e depois da Segunda Guerra. Não é história, é ficção".

O personagem é um brasileiro que sofre um acidente no estacionamento do aquário de Shinagawa e é internado em um hospital eminentemente japonês, em Tokyo, onde será submetido a uma cirurgia devido à fratura que sofreu no fêmur direito.

Esse episódio deflagra uma série de histórias por onde transitam personagens reais e imaginários, como um adorador de nuvens, um gato vidente e uma garota brasileira que foi salva pela cobra grande quando sua mãe a deu à luz à beira de um rio da Amazônia. "A narrativa funde fábulas e contos de terror do Japão, costumes e histórias feitas também em Haikai”, explicou.

Histórias que fazem o leitor ouvir o “canto lírico das vozes japonesas e do carimbó”, como escreve no posfácio do livro o professor de Teoria Literária, da Universidade Federal do Pará, Gunter Pressler, amigo que apresentou “Berlinda” aos leitores da Alemanha.

Ronald Junqueiro foi hospitalizado em Tóquio, onde fraturou o fêmur numa viagem de trabalho, em 2012. A jornalista Suely Nascimento, sua companheira, viajou para lá e testemunhou como se construiu a comunicação entre o paciente e os profissionais de saúde.

“Com a ajuda dessas pessoas, ele foi escrevendo um dicionário particular, com palavras como dor, coração, fêmur, perna... Pesquisava verbetes no computador. No processo de criação do #SeTokyo, Ronald também aprendia japonês. Ele escreveu tudo o que há em língua japonesa no livro, usou caracteres como Kanji, Hiragana e Katakana. O título da capa está em Kanji e em Hiragana”.

No material deixado por Ronald, que Suely e a fotógrafa Paula Sampaio trabalharam e dividem com os leitores em uma segunda parte do livro, ele também explica o título: “Pensei #SeTōkyō, como um neologismo/grafismo e um jogo lúdico de palavras, a partir da expressão “Se toque”, que pode significar um estado de alerta para o real, para o sentido da vida. O símbolo # define um modo virtual de origem do livro que, em princípio, foi pensado para edição em e-book".

O romance pode ser adqui-rido na editora Paka-Tatu
Informações: 2121-1169 / contato@editorapakatatu.com.br.
Site: https://ronaldjunqueiro.com.br/ ǀ website@ronaldjunqueiro.