Globo de Ouro 2024: crítica avalia os premiados e fala sobre o prestígio da premiação

Wellingta Macêdo comenta as escolhas da premiação e o impacto do Globo de Ouro 2024 na indústria do cinema

Gabi Gutierrez | Especial para O Liberal

O Globo de Ouro 2024, palco de controvérsias e mudanças estruturais, suscita questões sobre seu impacto no Oscar após a edição deste ano, que ocorreu no último domingo (07). A jornalista, atriz, educadora social e militante Wellingta Macêdo, faz uma análise da premiação do cinema norte-americano e destaca a incerteza sobre o retorno do Globo de Ouro como termômetro confiável para a maior premiação do cinema estadunidense. 

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“O que deve impactar no Oscar 2024 é a principal obra premiada no Globo de Ouro, que também deve ser a principal obra premiada no Oscar. ‘Oppenheimer’ é a produção que tem tudo para vencer as principais estatuetas da indústria do cinema estadunidense. Mas a gente só vai ter de fato uma certeza que o Globo de Ouro, enquanto uma premiação da indústria do cinema, eles fizeram toda uma nova configuração, a premiação deixou de ser organizada pela associação de imprensa estrangeira, botaram a premiação nas mãos de dois produtores. Só vamos saber quando de fato a gente vê a premiação do Oscar”. 

A cerimônia que aconteceu neste domingo (7), na visão de Wellingta, indicou um esforço da organização do evento em reverter essa situação, sugerindo uma disposição do Globo de Ouro em recomeçar sua trajetória como uma das premiações mais relevantes da indústria cinematográfica.

“Após todas as polêmicas envolvendo o Globo de Ouro, correndo o risco de deixar de existir, já fazia tempo que ele não era mais o principal termômetro do Oscar. Mas ontem a cerimônia deu a entender que o Globo de Ouro está a fim de virar essa página e recomeçar sua história como uma das mais importantes premiações da indústria do cinema estadunidense, que é a maior indústria do cinema mundial. Então, meio que a cerimônia de domingo revelou para nós, crítica e público, que o Globo de Ouro está a fim de fazer as pazes com essa indústria, com o público e voltar a ser o principal termômetro”, disse. 

Ela ainda comenta sobre a escolha de "Oppenheimer" para o vencedor da categoria de melhor filme como um possível indicativo do favoritismo ao Oscar 2024. Ela ressalta que, a menos que dê uma ‘zebra’, o longa parece destinado a se destacar nas principais categorias do Oscar. “Acho que a premiação de Oppenheimer como melhor filme pode ser um indicativo, porque tudo leva a crer que Oppenheimer vai ser o vencedor do Oscar 2024. Esta é a produção que tem tudo para vencer as principais estatuetas da indústria do cinema estadunidense. Então acho que é muito cedo, mas a cerimônia de ontem, volto a repetir, já foi uma prévia positiva de que o Globo de Ouro quer ser, novamente: o principal termômetro da maior premiação da indústria do cinema estadunidense, que é o Oscar”, explicou. 

 

Oppenheimer mereceu?

Porém, a crítica se opôs à escolha do filme dirigido por Christopher Nolan para melhor filme na categoria drama, sugerindo preferência por "Anatomia de uma Queda", de Justine Triet, para a estatueta. “Eu não acho o ‘Oppenheimer’ um filme ruim, não é o meu filme favorito, não daria o prêmio para ele. Particularmente não curto muito a ideia, apesar de achar o Nolan um diretor muito competente, de romancear fatos históricos. ‘Oppenheimer’ traz uma versão muito particular do Robert Oppenheimer, o criador da bomba atômica. E ele constrói um filme que nos leva a refletir sobre a vida desse homem. O que eu quero dizer é que o roteiro de Oppenheimer foi feito para ganhar o Globo de Ouro e para ganhar o Oscar. Então nesse sentido não me apetece, não me agrada, nem como crítica e nem como telespectadora”, explica. 

Embora tenha pontuado que não é seu preferido, a crítica elogia a direção do filme, e defende a indicação do protagonista do longa que, na sua opinião, graças ao talento de Cillian Murphy, o filme fugiu do pieguismo e do óbvio. “Ele é um dos melhores atores da geração dele. O Cillian Murphy é um ator que é carismático sem querer ser carismático, Então para mim ele é a grande conquista do filme do Nolan. O talento do Cillian Murphy ao conduzir esse personagem”, defende a jornalista. 

“Não por conta da minha avaliação da atuação do Cillian Murphy e como ele conduz, e também pela competência do Nolan, mas eu acho que  muitas vezes é um filme cansativo, não é um filme que eu daria o Globo de Ouro. Eu gosto muito mais do roteiro do Anatomia de uma Queda, porque ele propõe algo novo na condução da sua história, o que Oppenheim não faz”, pondera Wellingta ainda sobre a escolha de melhor filme. 

 

A volta às salas de cinema

 

Ao abordar o cenário pós-pandêmico, Wellingta destaca o impacto das grandes produções hollywoodianas, como "Barbie" e "Oppenheimer", que revigoraram o cinema ao retornarem às telonas, marcando uma mudança em relação à predominância dos serviços de streaming durante a pandemia. “Ano passado, as grandes produções do cinema hollywoodiano, como ‘Barbie’ e ‘Oppenheimer’, voltaram a mobilizar o cinema como um todo e a ditar, inclusive, uma nova dinâmica, um ritmo, às produções que estrearam nas salas de cinema e não nos streams, como estava acontecendo no período pandêmico mais grave. Então, isso foi positivo para o cinema estadunidense e para a indústria do cinema hollywoodiano. E, obviamente, isso teve um impacto muito grande nas demais indústrias do cinema, principalmente aqui, o nosso cinema sul-americano e latino-americano como um todo”, pontuou. 

Ela salienta que o Globo de Ouro, envolvendo cinema e séries, pode, agora, voltar a influenciar a indústria cinematográfica à medida que se reestrutura após polêmicas que a premiação se envolveu, com acusações racistas, falta de transparência na votação, na escolha dos premiados, dentre outras. Além de levar em consideração o peso da greve de Hollywood no ano passado. “Este é um processo que a gente deve acompanhar, sem perder de vista que o principal foco do Globo de Ouro é agradar a indústria hollywoodiana. E não podemos esquecer que atravessamos uma greve histórica da indústria hollywoodiana por conta das questões trabalhistas que envolvem inteligência artificial, dos roteiristas e dos atores, ou seja, da classe que trabalha na indústria hollywoodiana. Então acredito que as formas que o globo de ouro que vem passando por esse processo de reestruturação vão refletir na indústria do cinema têm mais a ver com a indústria hollywoodiana”, pondera a especialista.

Injustiçado da noite

 

Wellingta aponta o grande injustiçado do Globo de Ouro: "Barbie". Ela argumenta que o filme, que ela considera uma influência marcante e positiva, foi negligenciado em suas categorias principais. Assim como no caso de “Oppenheimer”, ela antecipa a possibilidade de um cenário semelhante no Oscar, expressando descrença na vitória expressiva do filme dirigido por Greta Gerwig. “Barbie foi completamente injustiçada no Globo de Ouro e muito provavelmente vai ser no Oscar também. O Globo de Ouro separa drama e comédia, então nesse sentido eu estava muito tranquila, porque na minha avaliação crítica e pessoal, Barbie seria premiada. Para mim, Barbie foi o grande filme da indústria estadunidense do ano passado, e é o filme que marca esse retorno da indústria de Hollywood, as grandes salas, as suas grandes bilheterias, como nós crescemos assistindo e vendo, e acabamos sendo influenciados. Foi a maior influência midiática, uma das maiores que nós vivemos no ano passado, e de um filme que foi muito bem dirigido, que tem um ótimo roteiro, que tem ótimas atuações”.

Nesse aspecto, Wellingta lamenta os títulos de melhor atuação não terem sido para Margot Robbie e Ryan Gosling: “A Margot Robbie perder o Globo de Ouro para Emma Stone, eu acho completamente injustiça, porque a Margot é a própria Barbie no filme. E Ryan Gosling, ao não ganhar na categoria ator coadjuvante, já que ele brilha ao mesmo tempo que a protagonista no filme e ouso dizer que tem vezes no filme que ele rouba a cena da Margot”. Além de Barbie e Ken, ela também dá destaque para America Ferrera, que interpreta Glória: “uma atriz maravilhosa, latina, também tem sido ignorada é uma injustiça”.  

Além disso, Wellingta exalta a direção de Greta Gerwig, que segundo ela, construiu um roteiro que questiona essa imagem da boneca Barbie ao longo da história, resgata a história da Barbie e projeta o futuro.“É uma diretora maravilhosa. Acho fantástico, acho divertido, acho que é um filme que tem uma mensagem muito positiva para uma geração de meninos e meninas. Então acho extremamente injustiça a Barbie não ter levado o Globo de Ouro nas suas principais categorias onde ela estava indicada, que é a categoria comédia musical. Então, na minha avaliação, essa foi a grande injustiça do Globo de Ouro e muito provavelmente também será do Oscar. Vamos ver, mas eu não acredito que ‘Barbie’ vai ganhar muita coisa no Oscar. Infelizmente”, finalizou a especialista.

Agora, aos fãs do cinema norte-americano, resta esperar para acompanhar a lista dos premiados do Oscar 2024, que conforme a avaliação de Wellingta Macêdo, poderá ser um divisor de águas para a produção cinematográfica mundial. 

 

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