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Festival do Filme Etnográfico começa em Belém, nesta quinta (17), com alerta sobre desafios sociais

Evento celebra 50 anos de 'Iracema, uma Transa Amazônica', filme que mostra questões sociais relacionadas a indígenas, quilombolas, ribeirinhos e moradores das periferias das cidades na região

Eduardo Rocha
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Ao celebrar os 50 anos de "Iracema, uma Transa Amazônica", dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna, de 1974, o 6º Festival Internacional do Filme Etnográfico do Pará começa em Belém nesta quinta-feira, dia 17, com uma programação recheada de fontes de informações para quem se interessa sobre os desafios de etnias, povos que vivem na região amazônica, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e moradores de bairros periféricos das cidades. O próprio "Iracema" é uma prova da permanência de questões sociais afetas ao poder institucional e comunidades, em meio a um bioma exuberante mas também em risco.

" 'Iracema, uma Transa Amazônica' faz 50 anos de suas produção, mas poderia ter sido lançado este ano, pois as mazelas mostradas neste clássico da cinematografia brasileira (agora restaurada em 4k) permanecem. É como se a exibição de Iracema hoje esteja nos convidando a encarar de frente o fracasso da ideia de progresso e patriotismo patológico da época (que voltou a nos assombrar nos últimos anos). Prostituição infantil, corrupção, desmatamento, queimadas, exploração de trabalhadores... Tudo isso está presente nesta belíssima obra necessária de ser revista e repensada, pois o presente está ainda engessado no passado. Mas o futuro só pode ser, se quisermos permanecer por um tempo ainda neste planeta quase exaurido, se for Ancestral, parafraseando meu querido amigo Ailton Krenak", afirma Alessandro Campos, coordenador do Festival..

Olhares

Com entrada franca, o Festival será aberto às 20h de hoje, dia 17, no Cine Líbero Luxardo, no Centur, com apresentação de convidados e convidadas; homenagem aos 50 anos de "Iracema, uma Transa Amazônica"; exibição do filme "Curupira e a Máquina do Destino", de Janaina Wagner, e uma roda de conversa com o diretor do filme, Jorge Bodanzky Orlando Maneschy e Luis Adriano Daminello.

Nesta sexta-feira, dia 18, às 20h, acontecerá a exibição estreia do resultado da da IV Residência Cinematográfica "Plano Etnográfico"; exibição de "Era uma vez Iracema" e "Ainda uma vez Iracema", de Jorge Bodanzky, e uma roda de conversa com o diretor, Janaina Wagner, Edna de Cássia Cereja, Luis Adriano Daminello e Adriano Barroso. Na programação deste sábado, dia 19, a partir das 20h, o público poderá assistir à exibição especial da versão remasterizada em 4k de "Iracema, Uma Transa Amazônica"; uma roda de conversa com o diretor Jorge Bodanzky; a protagonista e paraense Edna de Cássia Cereja e mais Marco Antonio Moreira, Sydney Possuelo e Jorane Castro.

No último dia do Festival, no domingo, dia 20, às 20h, será a vez da exibição de estreia do documentário "Edna, 50 Anos Depois"; roda de conversa com o diretor do filme Alessandro Campos, a protagonista Edna de Cássia Cereja, a roteirista Janaina Alves, o diretor de Fotografia San Marcelo, Jorge Bodanzky, Marco Antonio Moreira e Orlando Maneschy.

O Festival é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual Visagem da Universidade Federal do Pará (PPGSA/UFPA), sob coordenação geral do professor Alessandro Campos e Denise Cardoso. Essa ação visa difundir, fomentar e premiar produções audiovisuais que apresentem qualidade técnica reconhecida na área da Antropologia, Cinema Documentário e Cinema Indígena, além de promover o diálogo entre produtores, cineastas, pesquisadores e público em geral.

Nas raízes

O diretor de "Iracema, uma Transa Amazônia", Jorge Bodanzky, ao chegar em Belém, nesta quarta-feira (16), contou à Reportagem do Grupo Liberal, que na primeira vez que veio à Amazônia, em 1968, como fotógrafo freelancer da revista "Realidade", ele e um repórter foram fazer uma pauta em Paragominas (PA).

"O repórter foi fazer a pesquisa e me deixou esperando em um posto de gasolina. Naquela época, Paragominas era só um entreposto para chofer de caminhão, até o avião pousava na própria pista da Belém-Brasília. Eu fiquei uns dois dias lá, observando a movimentação nesse posto de gasolina. Os choferes de caminhão faziam abastecimento, serviço de borracharia, e traziam as meninas, que depois iam para o interior. E aquilo era interessante, porque durante o dia era uma prestação de serviço e à noite, um grande bordel. Aí, eu pensei: se um dia eu contar a história dessa estrada, vai por intermédio desses dois personagens, o chofer de caminhão e a menininha que se prostituía levada por ele. Essa é a raiz do 'Iracema' ", relatou Bodanzky.

Ele destacou que o cinema etnográfico é muito importante, porque "dá voz aos marginalizados, àqueles que não têm representação na sociedade, as comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, que só recentemente estão se organizando e reivindicando, mas ainda não sensibilizaram Brasília. "Então, trazer essas pessoas para a tela, levantar essas questões eu acho que é uma dsa funções do cinema etnográfico", complementou. 

Sobre o fato de que Belém irá sediar a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), em novembro de 2025, Jorge Bodanzky destacou que se trata da "coisa mais importante que está acontecendo no mundo (questão ambiental), e a gente só vai conseguir encarar esse problema se contar com a participação das populações locais que nunca foram ouvidas até agora. Todos os projetos para a Amazônia vieram de fora para dentro, não levando em consideração quem mora nessa região. Mas, isso devagar está mudando, e a COP é uma chance de dar voz às populações que habitam de fato a Floresta Amazônica, se é que a gente ainda pode chamar de floresta", completou.

 

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