Editor e poeta Thiago Kazu fala sobre a editora independente Selozelo; saiba mais
A Selozelo, editora independente criada pelo escritor Thiago Kazu, tem se dedicado a dar visibilidade a autores paraenses, publicando obras de escritores contemporâneos com um olhar cuidadoso e criativo
Abrir possibilidades e caminhos para autores contemporâneos que trabalham de forma independente é a proposta do editor e escritor Thiago Kazu com a editora independente Selozelo. Há quase cinco anos, a iniciativa tem se dedicado a transformar em realidade os projetos literários de escritores do Pará, cuidando de todo o processo editorial com um olhar afetuoso e cuidadoso, além de criativo.
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De acordo com Kazu, a Selozelo surgiu a partir de sua própria experiência como escritor e editor independente. "Eu percebia que esses autores não tinham espaço de publicação em editoras tanto nacionais quanto regionais”, relembrou.
“Comecei publicando fanzines e, posteriormente, passei a lançar livros a partir da Lei Aldir Blanc, em 2020", explicou sobre a iniciativa.
Atualmente, o cenário editorial no Pará tem apresentado novas iniciativas, o que, para Kazu, é positivo para fortalecer o mercado literário local. No entanto, ele aponta que ainda há desafios, especialmente na circulação e distribuição dos livros.
"O desafio não é somente publicar, mas também fazer o livro chegar às mãos dos leitores. É preciso mais incentivos do estado para a cultura, tanto para distribuição dentro do Pará quanto para o Brasil inteiro", afirmou.
Desde sua criação, a Selozelo já publicou dois livros sob esse selo: ‘O super-homem não sabe nadar', de Diego Freitas, e ‘Se repete se repete dentro dos meus olhos', de Rebeca B. Dias, ambos lançados em 2024. Além disso, Kazu também publicou ‘Meu corpo nos teus grãos’ (2021) e os livros ‘Lugar de se morrer é também o poema’ (2021, com segunda edição em 2023) e ‘Mulheres de fogo’ (2022, com segunda edição em 2023), da poeta e historiadora Roberta Tavares.
Para Kazu, a editora nasceu da percepção de que muitos escritores paraenses talentosos e experientes não eram publicados. Ele ressalta que a desigualdade editorial entre as regiões do Brasil reflete as diferenças socioeconômicas do país. "Os autores do Sudeste têm mais facilidade para serem publicados e divulgados, enquanto os escritores do Norte encontram mais barreiras", pontuou.
A seleção de autores para publicação ainda é feita de maneira pessoal, já que a editora não tem estrutura para abrir chamadas públicas para envio de originais. Como os livros são viabilizados por meio de editais, os escritores não arcam com nenhum custo de produção.
"Sempre faço questão de incluir no orçamento dos projetos o pagamento de um cachê para o autor. Além disso, a tiragem dos livros é dividida de forma igualitária: metade fica com o autor e metade comigo, para distribuição em feiras literárias e de artes gráficas", detalhou Kazu.
A produção gráfica das publicações também recebe atenção especial. O editor busca sempre experimentar diferentes formas de diagramação e técnicas gráficas. “Nas últimas duas publicações em que misturei a serigrafia para a capa (técnica artesanal) com impressão em gráfica (industrial) do miolo”, acrescentou.
Vidas transformadas
Rebeca B. Dias, pesquisadora e doutoranda em arquitetura, viu sua escrita se transformar em poesia durante um Carnaval atípico, quando revisitou notas dispersas. Seu livro, ‘Se repete se repete dentro dos meus olhos’, nasceu dessa experiência e do convite de Thiago Kazu.
Para ela, editoras independentes como a editora valorizam a sensibilidade do autor e permitem que a poesia seja tratada com o cuidado necessário, sem pressões comerciais.
“O circuito independente compreende como ninguém as dificuldades de lançar a escrita no mundo, viver dela, e acima de tudo, compreende o encanto que é ver as palavras por aí, prontas pra serem sorvidas pelos leitores”, disse.
Diego Freitas, bibliotecário de 36 anos, reuniu histórias autobiográficas em ‘O super-homem não sabe nadar’, explorando sua infância periférica e a cena roqueira dos anos 2010. Após colaborar com Kazu em um zine, confiou na Selozelo para publicar seu livro, destacando o respeito ao autor e a importância de dar voz a novas narrativas.
“A importância do selo é exatamente o respeito com o autor e a obra e o ideal de propagar a voz de quem tem alguma coisa importante a dizer”, destacou.
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