Drag, o quê? Figurinos ganham significados nas mãos de La Falleg Condessa
Artista e figurinista La Falleg Condessa há quase 10 anos cria figurinos para o seu acervo pessoal e de outros artistas paraenses e foi responsável por vestir as apresentadoras do ‘Dinastia Drag’
Na cultura Drag, assim como na moda, vestir-se é mostrar o seu "eu" por meio de peças e ou figurinos com um recorte de tempo e local de onde se está inserido. Este é apenas um elemento da performance, mas parte importante da visualidade. Uma referência na cena Drag Themônia de Belém é a artista e figurinista La Falleg Condessa, que há quase 10 anos cria figurinos para o seu acervo pessoal e de outros artistas paraenses e foi responsável por vestir as apresentadoras do "Dinastia Drag", reality paraense e o primeiro da América Latina a premiar uma família Drag.
La Falleg Condessa é a criação de Leonardo Botelho, membro do núcleo de produção do Coletivo NoiteSuja e da Haus of NoiteSuja. Recentemente ministrou a “Oficina Drag: corpo político de intervenção” propondo um espaço de sociabilidade LGBTQIA+, debate, histórico da arte Drag e montação. Começou a se interessar pela arte Drag em 2015, na Festa "NoiteSuja Walking Drag", a convite de um amigo. Apenas observou as batalhas de lipsync (dublagem) e na festa seguinte, no mesmo ano, começou a se montar. "'NoiteSuja Dragween', um evento de halloween. Os dias que antecederam a festa foram de muita excitação. Teria que experimentar e descobrir a visualidade que iria adotar para a minha drag. Comprei alguns produtos de maquiagem. Não sabia por onde começar, mas a curiosidade e vontade de montar me levou a assistir horas e horas de tutoriais de maquiagem drag no Youtube", relembrou.
Além da maquiagem, Botelho recordou o pensamento da época: "era importante apresentar um figurino que chamasse atenção, afinal, era a minha primeira vez montada, em um rolê em que não conhecia praticamente ninguém", e criou um look feito de papel, arame e E.V.A, estilizando um corset e se apresentou. "Comprei uma peruca de cor marrom no comércio de Belém. Esse seria o meu primeiro figurino Drag. Lembro que me apresentei em uma batalha de lipsync contra Lady Deverô ao som de Lana del Rey - Summertime Sadness. Senti um misto de emoção. Ganhei o prêmio de melhor figurino da festa. No fim da noite colecionei novas amizades que iriam durar os próximos anos e algumas permanecem até hoje", destacou.
Processo de criação
Desde 2015 La Falleg Condessa buscou referências e aprimorou suas habilidades em desenhar e costurar os looks. "Segui muitos artistas Drags de Belém e do Brasil nas redes sociais a fim de buscar referências para maquiagem, figurinos e performance. Como não era profissional na área da costura nessa época, eu realizava um croqui do que queria e levava a costureira para que pudesse realizar o projeto de figurino. Nos anos seguintes fui aprimorando minhas habilidades de costura e passei a produzir meus próprios figurinos e adereços, além de ajudar outros amigos nas suas produções", comentou.
"Logo estabeleci uma estética que seria muito representativa de La Falleg Condessa. A maquiagem foi se aperfeiçoando com o tempo. Os figurinos foram ganhando volume. Desde então, idealizei e produzi tudo que foi utilizado pela minha drag", completou.
Os figurinos de La Falleg já vestiram vários artistas de Belém, inclusive, esta colunista que estreou com um look verde estampado com flores feito com tecido organza. Esta peça foi produzida para o ensaio fotográfico intitulado “Comércio” realizado no ano de 2020 com fotos de Tarcísio Gabriel. "Já fiz alguns figurinos e adereços utilizados por diversos artistas da cidade. Recentemente produzi os figurinos utilizados por Tristan Soledade e S1mone, apresentadoras do Reality Show 'Dinastia Drag'. Helena Ressoa, Skyssime, Thais Badu e Ricon Sapiencia foram alguns artistas que já usaram alguns de meus figurinos e adereço em suas produções", disse.
Condessa revelou as suas inspirações, e que os looks volumosos, que são suas características, "brigam" com o calor da capital paraense. "Não foi fácil ser La Falleg Condessa. Gosto de figurinos extravagantes, com muitos babados. Cada montação exige um pouco de nós. Há muita pesquisa por trás de um figurino. Às vezes pegamos alguma referência da internet ou de algum estilista famoso e tentamos adaptar para a nossa realidade. A arte drag nos possibilita criar coisas absurdas para o palco. Já vi coisas que me deixaram de boca aberta”, arguiu.
A experiência em quase 10 anos no que hoje é conhecido como a cena das Themônias e no Coletivo NoiteSuja, La Falleg entende como uma oportunidade e destaca a sua participação no "Dinastia Drag". "Foi uma oportunidade de deixar registrado o meu trabalho como figurinista na história da arte Drag de Belém. Foram semanas de muito trabalho, estresse, mas de companheirismo e amor pela causa drag. Desenhei e confeccionei todos os figurinos e adereços utilizados pelas apresentadoras do programa. Foi empolgante ver o resultado final. Uma forma de participar do programa, não como competidora, mas como mais um profissional que fomenta e é apaixonado pela arte Drag na cidade de Belém", concluiu.
"É muito incrível fazer parte da Haus NoiteSuja. Somos uma família de amigos que estão juntos há anos promovendo a cultura LGBTQIA+ e sobretudo o processo de montação através da arte Drag. [...] Fico feliz de ver que muitas pessoas ainda acreditam no poder transformador da montação e que ainda fortalecem os espaços que nós mesmos criamos para nós. Trabalhar com as Themônias tem sido um processo de aprendizado muito importante para mim. Acredito que cabe a nós reinventar novos hábitos, novas formas de falar, de se comunicar, andar, vestir e a arte drag, através da montação, é um berço fértil para os mais variados tipos de experimentação. O figurino Drag é apenas uma parte desse processo", finalizou.
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