Dona Onete completa 83 anos festejando a cultura nortista

A Rainha do Carimbó Chamegado se prepara para receber homenagem em noite de gala da música paraense no Theatro da Paz

Sonia Ferro
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Quem não gostaria de festejar seus 83 anos com saúde, sucesso e uma homenagem nacional em um dos mais tradicionais palcos do Brasil com a participação de artistas consagrados? É assim que Ionete Gama, nossa Dona Onete, festeja hoje, 18, a idade nova. Essa professora de História e Estudos Amazônicos aposentada, nascida em Cachoeira do Arari, no Marajó, mas abraçada por Igarapé Miri, onde viveu grande parte de sua vida, em entrevista exclusiva, falou sobre a carreira, sobre o prêmio que irá receber da União Brasileira de Compositores (UBC) e de seu compromisso em divulgar a cultura do Estado. Para quem cantava para os botos na beira do rio e começou a carreira profissional na música apenas aos 72 anos, Onete se diz preparada para o novo ciclo que chega com mais um álbum (ela está gravando o quarto disco da carreira) e a agenda movimentada, que inclui show no Festival Rock The Mountain, em que representará o Pará na região serrana carioca. 

Hoje, a senhora completa 83 anos. A Dona Onete dos 72 anos, que estava iniciando a carreira, imaginava todas as conquistas da sua carreira?
Não, não imaginava, não. Eu pensava que ia ser somente um CD e depois disso, ia ficar por isso mesmo, eu cantando vez ou outra em grupos de Carimbó. Não pensei que ia chegar até onde eu cheguei. 

No dia 22 de junho, a senhora vai receber uma homenagem nacional da União Brasileira dos Compositores (UBC), que estará completando 80 anos, em um grande show com artistas paraenses no Theatro da Paz, um dos mais icônicos palcos do Estado. Como está sendo receber esta homenagem?
(Risos) Meu coração está em festa! Eu tinha um propósito: fazer tudo para mostrar um pouco das coisas que a gente tem culturalmente no meu Pará e eu fiz. Não fiz tudo, só um pouquinho, mas esse pouquinho já deu para as pessoas imaginarem como é grande esse meu Pará e como esse meu Pará tem muito folclore, então eu estou muito feliz por ser homenageada pela UBC, que cuida de muita gente famosa.

A senhora é inspiração para mulheres, que têm vontade de seguir suas paixões, que no seu caso é a música, e são impossibilitadas pelo preconceito da sociedade, pela pressão social e pela família/marido. Foram décadas reprimindo essa vontade e todo esse sucesso... Parando para avaliar, a senhora já pensou como seria se tivesse começado mais cedo? A senhora sente que mulheres empoderadas como a senhora intimidam os homens?
Quem sabe se eu começasse mais cedo estaria, a essa altura, recebendo este prêmio, esses abraços, esses cheiros? Tudo tem o seu tempo! Eu sempre disse para umas pessoas que diziam que eu sabia cantar e que eu ia ser alguém, mas que eu queria primeiro ser professora, me aposentar para ter o meu dinheiro, porque a gente não sabe se o sucesso vem. E o sucesso veio graças a Deus e eu estou muito feliz. Mas eu não me intimido não. Eu acho que todas as mulheres têm que sonhar, sonhar não custa nada, a gente tem é mesmo que sonhar e correr atrás dos nossos sonhos.

 

image Dona Onete (Adriano Fagundes)


Dona Onete é sucesso internacional cantando a Amazônia, suas lendas, sua cultura, seus encantos. A música “Banzeiro” foi gravada por Daniela Mercury e escolhida a música do ano do Carnaval da Bahia. Dizem que música regional não é entendida fora daqui... Qual seu segredo, Dona Onete?
Gente, eu não sei qual foi o segredo! Eu acho que aí tem uma coisa de Deus e de Nossa Senhora de Nazaré, a nossa Nazinha que eu falo todas as vezes, que eu oro, que eu peço pela minha banda, pelo povo do Pará e pela cultura do Pará. Eu sei que foi uma música, mas ela é muito nossa, é cultura nossa, principalmente lá do meu povo de Igarapé Miri. Falar do nosso banzeiro, da pororoca, é falar da gente.

Dona Ionete foi professora de História e Estudos Amazônicos, fez parte do movimento de luta pela cultura e educação. Pra senhora, qual a importância da cultura e da educação para a sociedade? 
A cultura e a educação estão sempre juntas, porque, às vezes, a cultura vem de uma pessoa que também não é formada. Tem pessoas que não são formadas, mas que têm uma inteligência... Eu acho que, na minha aula de história, eu tive essa oportunidade de misturar um pouco da nossa história com um pouco do nosso folclore do Pará. Eu acho que foi uma sacada muito forte de eu dizer que meu Carimbó era o Chamegado, foi um jeito de eu conseguir quebrar esse tabu (de mulher no Carimbó). Estamos aí! E vamos seguir cada vez mais com o nosso Carimbó, com a nossa cultura. Vai dar tudo certo!

A senhora já realizou algum projeto via lei incentivo? Qual a importância dessas leis para artistas independentes e da cultura popular como a senhora?
Já. Essa lei não deveria acabar não. A luta da gente é para que essa lei continue porque se alguém se aproveitou dessa lei e não fez nada, a culpa não é nossa. Não é por um que vai pagar todos. Então a gente tem mais é que fazer com que essa lei continue. O que seria de nós paraenses se não tivesse essa lei para a gente poder mostrar, lutar pelo nosso Carimbó, lutar pelo nosso Brega, lutar pela nossa Lambada, lutar pelas coisas, as músicas do nosso Pará e a cultura do Pará? Você viu agora uma grande resposta com essas leis que foi o Arraial do Pavulagem dando show na praça? Nós estamos no rumo certo, basta mais união e a gente vai para frente.

Ainda tem algum desejo a realizar, Dona Onete? 
Olha, gente, a gente sempre tem. (risos) Eu estou mais idosa, mas eu ainda tenho muita coisa para mostrar, muitos ritmos do interior, muito ritmo daqui mesmo e eu estou apostando muito agora nesse meu quarto CD. Estou apostando muito, eu vou diversificar um bocado de coisas, mas não fugindo da nossa cultura. Quero estar sempre dentro da cultura. Eu falava muito de outros lugares, mas agora eu vou falar do meu povo do Marajó.


Quem quiser conferir a diva do Carimbó Chamegado no palco, não pode perder a entrega do Troféu Tradições da União Brasileira de Compositores (UBC) que contará com um grande show no Theatro da Paz no dia 22 de junho às 20h30. A noite contará com participações especiais de Fafá de Belém, Gaby Amarantos, Jaloo, Mestre Damasceno, Félix Robatto, Lucas Estrela, Aqno e o grupo de Carimbó Sancari. Ingressos antecipados no Ticket Fácil. O evento será transmitido ao vivo pelo canal da UBC no Youtube.

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