Documentação fotográfica sobre a Amazônia é digitalizada e transformada em e-book
Imagens coletadas pela fotógrafa Paula Sampaio durante 30 anos estão sendo recuperadas com recursos da Lei Aldir Blanc
Habituada às grandes estradas e vicinais da Amazônia, a fotógrafa Paula Sampaio dedicou os últimos 30 anos a documentar a região. Mas o resultado desse extenso trabalho já apresentava sinais de deterioração.
Prestes a ser definitivamente comprometida pela ação do tempo - e, sobretudo, da umidade -, tal documentação ganhou sobrevida através de premiação no Edital de Artes Visuais, coordenado pela Associação Fotoativa. A iniciativa de fomento cultural integra as aplicações da Lei Federal Aldir Blanc no Pará.
Assim, o projeto "Rotas Amazônicas: Salvaguarda de um acervo de imagens-histórias", empreendeu a recuperação museológica e a digitalização da parte mais deteriorada do acervo referente a primeira década de documentação fotográfica (208 negativos fotográficos 35mm e cerca de 100 slides), já organizados e identificados; bem como efetivou o reacondicionamento de aproximadamente 800 negativos fotográficos ainda em bom estado e a limpeza e arquivamento de 356 cópias fotográficas (gelatina e prata).
A ideia é prosseguir com o processo de arrolamento, digitalização e tratamento das imagens nos próximos meses. "Na verdade, os equipamentos adquiridos por meio do projeto vão possibilitar que essa digitalização seja realizada em etapas, por conta do tempo que leva para a realização desse procedimento. No projeto aprovado, a proposta foi de priorizar a limpeza e digitalização de tudo que já se encontrava em estado avançado de deterioração. Acabamos fazendo ações extras, como a higienização e digitalização de cópias fotográficas feitas em laboratório tradicional e o arrolamento dos negativos ”, acrescenta Paula Sampaio.
Para garantir a acessibilidade e o compartilhamento dessa experiência de preservação, o projeto também disponibiliza gratuitamente um e-book (com faixa de audiodescrição), contendo o processo de trabalho e proposta de atividade de arte educação no formato de uma vivência fotográfica estruturada através de exercícios lúdicos e sensoriais. O livro online pode ser acessado no site da fotógrafa (www.paulasampaio.com.br).
Para além da urgência da intervenção e salvaguarda, Paula Sampaio pensa no projeto como mais uma semente, entre tantas, para estimular a consciência de conservação e ressaltar a importância da memória.
Sua motivação como fotógrafa reflete isso, com o foco sempre voltado para o mapeamento das vivências, lutas e da resiliência dos povos amazônicos. “Nesse sentido, a minha atenção se voltou para os trabalhadores, os migrantes que, normalmente, estão à margem, fora da história oficial e invisíveis nas mídias - a não ser quando acontece uma tragédia”, explica.
O registro das chamadas estradas de integração nacional (Belém-Brasília e Transamazônica) e de áreas de exploração mineral e hídricas, presente no trabalho de Paula Sampaio, ainda se estende a quilombos e áreas históricas da capital paraense. Há um interesse central em resgatar a visibilidade historicamente negada aos habitantes de tais espaços urbanos e rurais.
“É por isso que estou feliz com essa oportunidade de iniciar o processo de salvaguarda do acervo que fui construindo a partir das experiências vivenciadas nas últimas décadas, percorrendo esses caminhos, materializadas nessas paisagens humanas, histórias de vidas que me foram confiadas por tanta gente ao longo desse tempo, pessoas que eu aprendi a respeitar e essa natureza com seus gritos e abraços, na qual todos nós estamos imersos. Tudo isso estava se perdendo, voltando ao lugar de esquecimento de onde eu lutei para que saíssem", destaca a fotógrafa.
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