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Doc 'O Pranto de Poinkarah' é representante paraense no Festival Curta Campos do Jordão

Filme revela cotidiano de luta de integrantes da Aldeia Ngojamoroti, na Terra Indígena Kayapó-Mebengokré, em Conceição do Araguaia, no sudeste do Pará, diante das investidas contra o território deles 

Eduardo Rocha
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Como estratégia para combater o avanço da ocupação de descaracterização da Aldeia Ngojamoroti, com cerca de 40 habitantes, na Terra Indígena Kayapó-Mebengokré, em Conceição do Araguaia, no sudeste do Pará, o professor Sandoval Amparo, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), dirigiu o documentário "O Pranto de Poinkarah" sobre essa realidade desse povo originário na Amazônia. Agora, o filme apresenta-se como o único representante do Pará na 10ª edição do Festival Curta Campos de Jordão, em Sáo Paulo, agendado para ocorrer de 15 a 22 de fevereiro

No documentário, por meio de imagens do ambiente de vida dos indígenas e das reflexões da matriarca Poinkarah e Bepkaeti, seu companheiro, ambos anciões e fundadores da aldeia, o público conhece o modo de vida dos povos indígenas, ameaçados por um processo de territorialização violento contra essas populações. 

Sandoval Amparo é professor e pesquisador do Departamento de Geografia da Uepa desde 2015. Ele tem relação com povos indígenas há muito tempo, haja vista ter atuado como geógrafo da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) por dez anos, antes de ingressar na Uepa. "Conheci Poinkarah e Bepkaeti – que são os protagonistas do filme - em 2007, durante a I Aldeia Multiétnica da Chapada dos Veadeiros (em Goiás) e desde então temos construído uma amizade enorme, forjada na luta pelos direitos indígenas", conta.

Como revela Sandoval, "os Mebengokré-Kayapó são aficionados por cinema, fotografia – que na língua deles é 'mecaron' – e artes em geral". "Há na aldeia Mojkarakô o Coletivo Beture, que realiza inúmeros filmes sobre as festas e estórias ancestrais indígenas, além do registro dos principais rituais. Nas aldeias, é comum ficarem até a madrugada assistindo a esses filmes feitos por eles mesmos. Isso sempre me impressionou. Por outro lado, a questão linguística é um problema sério para eles, pois, mesmo os jovens, tem muitas dificuldades com o português. As mulheres, por exemplo, nunca falam português. O audiovisual possibilita essa comunicação que sempre foi muito cara aos direitos indígenas", ressalta.

A ideia de fazer o documentário, como diz o professor, surgiu após a visita da professora Christy Petropoulou, da Universidade do Mar Egeu, Grécia, à Aldeia Ngojamroti. Feminista conhecida internacionalmente, Christy veio visitar a aldeia, a convite dos indígenas, e como está construindo o Atlas das Lutas Sociais Afro-Indígenas da América Latina , seria interessante a ela conhecer a líder Poinkarah, uma ativista histórica. Christy deixou o material para os técnicos e indígenas no Pará. Esse material abrangia depoimentos e produção fotográfica de primeira qualidade.

E assim eles iniciaram a produção do documentário, que exigiu 50 dias de trabalho ininterrupto. O título do documentário "O Pranto de Poinkarah" se dá pela razão de que os Mebengokré-Kayapó são, talvez, a mais importante sociedade matriarcal da Amazônia, e a Aldeia Ngojamroti é a primeira aldeia indígena a ser liderada por uma mulher desde a Constituição de 1988, que é Panhô, filha de Poinkarah. Poinkarah é a matriarca e fundadora da aldeia. " 'O Pranto de Poinkarah' é o argumento em torno do qual o filme está enredado. O filme inteiro se baseia em seu lamento pela degradação causada pelo garimpo no Rio Fresco (que em mebengokré é 'Buty Kangri') quanto pela construção da hidrelétrica de Belo Monte". 'Carom', por sua vez, significa 'fantasma', em Mebengokré, e remete ao fantasma da degradação ambiental, o tempo inteiro referido por  Poinkarah em suas falas.

O filme é patrocinado pela Uepa e que contou com o apoio de outros profissionais e instituições parceiras. O documentário está no YouTube, na categoria de filmes “não-listados”, para atender as exigências do Festival.

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