Dia do Orgulho Autista: músicos autistas inspiram paraenses com TEA
Ícones da música clássica, Mozart e Glenn Gould inspiram André Ximenes e Celso Ribeiros
De apenas 7 anos, André Ximenes já sabe muito bem quem quer ser quando crescer. Diagnosticado com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ele se inspira em outro grande músico com autismo quando está fazendo uma das suas atividades favoritas: tocar piano.
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“Minha maior inspiração é Beethoven, o admiro por ele ser deficiente auditivo como eu e ainda assim, conseguir compor. Mas dentro do espectro, admiro muito o Mozart, pois prefiro músicas clássicas para tocar”, diz o pequeno que se apresentou no Festival Paraense de Talentos no Theatro da Paz, em Belém, tocando a clássica "Für Elise" no piano.
Mozart, um dos músicos com Transtorno do Espectro Autista mais famosos, é um dos compositores mais renomados e produtivos da história. Com mais de 600 obras, incluindo óperas, concertos e sinfonias, ele é um ícone do período clássico.
Considerado o maior pianista do século XX, Glenn Gould inspira outro paraense: Celso Ribeiro, 32. Ele é professor de música, especialista em Educação Especial e Inclusão Socioeducacional, tecladista e arranjador oficial da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia.
“Glenn Gould era especialista em música barroca, ele foi diretor musical e sonoro de suas próprias gravações, e controlava todas as mínimas nuances meticulosamente e com punho de ferro. Mas vendo os documentários, percebia-se facilmente que ele não estava exercendo arrogância ou mania de controle, mas tinha uma noção extremamente clara de que som queria, e fazia tudo em seu alcance para obter o melhor e mais belo resultado, e por isso era respeitado por sua equipe”, justifica Ribeiro.
A música na veia
Com talento para música nas veias, o pequeno André Ximenes conta que sempre quis aprender a tocar algum instrumento e, quando se aproximou da música para valer, sua infância ficou ainda melhor. “O instrumento que mais gosto é o piano, mas também gosto de cantar, sempre peço para me apresentar cantando na escola. A música tem me ajudado a crescer”, compartilha André.
“Tenho que ficar concentrado para não errar. Além disso, tive que aprender a ter coordenação motora com as duas mãos ao mesmo tempo, enquanto leio a partitura, apesar de que prefiro decorar. Para os eventos, precisei aprender a me apresentar em público e controlar minhas emoções”, exemplifica o artista André Ximenes.
Para Celso, a música também é uma grande amiga desde a infância. “Eu amo artes, com destaque para a música, desde meu nascimento, de acordo com relatos da minha mãe. Há um eterno debate na Educação sobre o que é mais importante para o desenvolvimento humano, potencial inato ou influência do ambiente. Eu não tenho como saber qual era o meu potencial inato para a atividade musical, mas posso dizer com certeza que fui estimulado com música desde antes do meu nascimento, e por isso sou muito grato”, descreve o professor.
“Entendo a música como uma linguagem completa, feita para expressar sentimentos em vez de ideias. Ela povoa meu pensamento, me acalma e ocupa lugares da minha mente que poderiam ser ocupados por pensamentos ruins. Na educação, almejo contribuir para que a música povoe as mentes do máximo possível de pessoas, e faça a elas o bem que me faz. Por isso sou professor de música, porque acredito que a arte transforma a vida das pessoas, lhes dá apreciação pela própria vida”, continua Celso Ribeiro.
Específico para quem tem o TEA, Celso indica que a música é extremamente vantajosa para o desenvolvimento pessoal e neurológico. “Os hiperfocos são importantes para autistas, porque servem de porta de entrada para outros estímulos ou áreas de conhecimento, como a fala, a matemática, atividades rotineiras. E a música é um excelente candidato para o hiperfoco. Ela é agradável e produzida por meio de padrões extremamente coerentes uma vez que compreendida. A música sempre foi um de meus hiperfocos e serviu para acalmar a minha mente quando a ansiedade se tornava insuportável”, explica o pianista.
Orquestra inclusiva da UFPA
Em Belém, a Orquestra Inclusiva de Violoncelista da Escola de Música da Universidade Federal do Pará (OIV-EMUFPA) dá show de inclusão e musicalidade. Ela é um grupo musical registrado, cujos alunos ativos e egressos são pessoas neurotípicas, ou seja, pessoas sem um transtorno do desenvolvimento, e pessoas neuroatípicas, isto é, aquelas que possuem algum tipo de transtorno do desenvolvimento, grupo em que se incluem pessoas com autismo.
Sob coordenação do Dr. Áureo DeFreitas, pesquisador do CNPq e professor de violoncelo da EMUFPA, o grupo tem o objetivo de oportunizar principalmente às pessoas neuroatípicas a prática do instrumento violoncelo no contexto de um grupo musical, qualificando-as a participarem efetivamente da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (OVA), projeto maior, com ampla visibilidade regional.
“A Orquestra Inclusiva de Violoncelistas da Escola de Música da UFPA foi idealizada diante da necessidade da participação efetiva de pessoas com deficiências na Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (OVA) e na Escola Técnica de Música da UFPA. As duas orquestras objetivam mostrar às pessoas com deficiências que existe uma escola de música no âmbito da UFPA que acolhe, por intermédio de projetos de pesquisa, este público alvo. Um dos objetivos principais da coordenação é capacitar pessoas com o Transtorno do Espectro do Autismo, Síndrome de Down, assim como, pessoas neurotípicas para que estejam aptos a ingressar na Escola Técnica de Música da UFPA”, explica o maestro.
Idealizador das orquestras, ele justifica dos benefícios da iniciação musical ao público específico. “Os alunos com TEA terão a oportunidade de tentar uma vaga nas escolas públicas de música, uma vaga no curso superior de música, assim como, os pais terão a oportunidade de vivenciarem nossas práticas pedagógicas musicais, e quem quem sabe, iniciar uma militância contra o capacitismo”, finaliza.
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