Autismo em foco: educação inclusiva promove o desenvolvimento de crianças e jovens autistas

Na 7ª reportagem da série "Autismo em Foco", publicada no portal OLiberal.com e no jornal O Liberal às quartas-feiras, o designer Lucas Quaresma, de 29 anos, portador de TEA comprova que a educação

Gabriel Pires

A educação e a inclusão são essenciais para o desenvolvimento de crianças e adolescentes com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Aos 2 anos de idade, o pequeno Lucas Quaresma foi diagnosticado com TEA e foi aí que desafios começaram na vida dele e da família, como lembra a mãe dele, a arquiteta Eliane Quaresma. Atualmente, com 29 anos, Lucas é formado em designer de produtos, mas enfrentou adversidades do ensino fundamental até a faculdade. Mas isso não foi motivo para frear o garoto, que, futuramente, viria a ter grandes conquistas. Essa 7ª reportagem da série "Autismo em Foco", publicada no portal OLiberal.com e no jornal O Liberal às quartas-feiras.

Hoje, o jovem é conhecido pelas “HQs do Lucas”, uma série de histórias em quadrinhos produzidas por ele para abordar o autismo de um jeito diferente. “Cada etapa [na escola] trazia novas barreiras sociais e ambientais. O preconceito esteve sempre presente em todas elas, mas também o conhecimento e reconhecimento de pessoas interessadas e amorosas, manifestando verdadeiro desejo de fazer a inclusão”, disse Eliane.

“E, dentro de todo esse cenário, a evolução cognitiva, a interação era muito mais exigida. Para o Lucas, que ao meu ver, era um guerreiro em enfrentar diariamente seus medos e deficiências, a luta principal era para acompanhar os conteúdos, ser aceito e se aceitar também, visto que, ao longo do tempo, as diferenças são expostas e inquietantes”, afirmou a mãe de Lucas, lembrando que passa um filme em sua cabeça ao lembrar da trajetória do filho.

image Lucas Quaresma, 23 anos, portador do Transtorno do Espectro Autista, é a prova viva de que a educação inclusiva leva a lugares mais longe (Carmem Helena / O Liberal)

O sonho de cursar a faculdade, que parecia ser uma experiência distante para o Lucas, se tornou realidade no ano de 2012. “O vestibular parecia ser uma barreira intransponível porque, para além do conteúdo, a forma fechada com que se avalia os alunos, usando pegadinhas e comandos dentro de comandos, traz uma grande dificuldade para a maioria das pessoas autistas. É complicado para o Lucas se expressar. E, sabendo disso, fui em busca, com bastante antecedência, de entender o que ele poderia desenvolver”, contou.

“O ensino médio foi algo exaustivo e exigiu enorme investimento em apoio de professores em casa. Fiquei muito feliz com a vitória dele e, ao mesmo tempo, apavorada com a etapa que se abria: o curso superior. Mas, com acompanhamento diário, constante presença na instituição, e, também, em algumas situações a imposição da legislação, para que a inclusão fosse respeitada, fomos vigilantes e os resultados foram chegando. Lucas alcançou mais essa vitória merecida a ele que muito se esforçou”, contou Eliane, emocionada.

Adaptação

Para garantir o aprendizado de Lucas durante os anos escolares, foi necesssário algumas adaptações, como lembra Eliane. 'Inicialmente, do primeiro ano ao quarto ano do fundamental, a escola regular, que informava não ter condições técnicas para fazer a inclusão, por imposição do MP [Ministério Público] Estadual, recebeu orientação e acompanhamento técnico, para a inclusão do Lucas.As adaptações eram tanto nos conteúdos das disciplinas como nas avaliações, com abordagem técnica direcionada a necessidade de aprendizado do Lucas. De quinta a oitava séries, o acompanhamento do Estado foi substituído por uma estratégia na qual a escola contrataria o serviço psicológico que também atendia o Lucas em sessões específicas dentro do nosso plano de saúde", lembrou.

Na faculdade tivemos novos desafios e recorremos novamente ao MP para as adaptações, nesse momento houve também uma exigência do MP para treinamento e conscientização na instituição, como também mudanças nas estruturas curriculares e de avaliações", complementou.

Foi durante o curso de designer que Lucas se sentiu motivado a produzir as histórias em quadrinhos. Ele lembra que em alguns momentos a faculdade apresentou momentos de dificuldade: “Foi difícil me relacionar com as pessoas e compreender os conteúdos.”, contou Lucas. No entanto, o jovem contou com bons amigos durante esse processo. “Foi bom porque conheci muitas pessoas legais. Conheci a Thayz, que me dava apoio em casa com o curso de design. E depois foi uma pessoa que me incentivou a fazer os quadrinhos”.

Ações

Com o objetivo de mobilizar ações para o público com TEA, o Conselho Nacional de Educação (CNE) mobilizou, em 2019, uma iniciativa para realizar uma resolução sobre as Diretrizes Nacionais da Educação Especial, como pontuou o presidente do CNE, Luiz Roberto Liza Curi. “Esse documento foi para o Ministério da Educação, foi homologado. E, agora, vem sendo aprofundado pelo Conselho Nacional, junto com o Ministério da Educação e as entidades, no sentido dele ser plenamente implantado nas instituições”, pontuou Luiz Roberto.

“Ela [a resolução] induz ao movimento de acolhimento curricular, inclusive. Essas pessoas devem ter, da parte das instituições, os espaços adequados para se formar. A resolução é um passo nessa direção e, portanto, é necessário que seja acompanhado. E já é produto de regulação no Ministério da Educação”, pontuou o presidente do CNE.

A conselheira nacional de educação e representante da Região Norte, Sueli Menezes, explica que o CNE mantém um grupo de especialistas para discutir e formular políticas e protocolos de como as escolas devem lidar com as crianças com TEA. Isso inclui “a formação do professor, como é que tem que trabalhar esse auxiliar, como é que nós vamos fazer um um trabalho de planejamento individual desse aluno, como traduzir esses detalhes para orientar as escolas populares”.

“Ela deve apresentar um atendimento educacional especializado que atenda essas diferenças. Então esse professor tem que ter princípios básicos que vão ajudar ele a entender, compreender, para poder conviver com essa criança da melhor forma. Esses princípios de como lidar com ele, como compreender o seu jeito de trabalhar, essas crianças são muito delicadas porque elas têm uma sensibilidade, o contexto é muito maior. Os professores precisam ser capacitados para saber como lidar com essa criança”, detalhou.

(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Atualidades)

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