Curta 'Caçador de Cabeças' é aprovado em mostra nacional
O curta animação retrata a vida de moradores de São João da Ponta
As histórias de visagens e encantados do interior do Pará foram inspiradoras para a produção do curta-metragem de animação “Caçador de Cabeças”, selecionado para V Mostra de Audiovisual do Sesc e para a Mostra Regional Norte. O diretor Rod Rodrigues usou do repertório de vida para a construção do material audiovisual.
O filme vai ser exibido de forma online e gratuita, pela Canal do Sesc Nacional, no Youtube, no período de 3 a 31 de Outubro. Também estará nos cinemas do Sesc na mostra regional do Norte, em exibições presenciais no Pará, Amapá, Acre, Roraima e Rondônia. No Pará, as exibições acontecerão entre 23 a 30 de Novembro.
“Caçador de Cabeças” é um curta-metragem de animação, feito no estilo motion comics. A história é inspirada em relatos de caçadores e moradores do vilarejo Bomfim, povoado encantador pertencente ao município de São João da Ponta (PA).
“Sou neto de moradora da região, passei grande parte da minha infância e adolescência lá. O lugar, as pessoas e os costumes me ensinaram muita coisa e sempre me encantaram. As histórias de visagens, por exemplo, me inspiram até hoje no meu trabalho como roteirista e produtor audiovisual. São histórias que vão além da superfície impressionável, do horror ou insólito, das criaturas e encantados. Elas são contadas pra educar, pra expandir nossa consciência, pra explicar como devemos ser respeitosos com a mata e o quanto somos pequenos demais perto do resto da natureza”, destaca Rod.
A obra foi desenvolvida em conexão com o vilarejo e o povoado ribeirinho. Por meio de conversas com moradores, o diretor diz que foi possível construir o enredo do curta-metragem.
Na trama, um sádico caçador que sobrevive vendendo animais empalhados perde seu cachorro na floresta durante uma caçada noturna. Enquanto procura o cão, descobre que a mata esconde seres tão temíveis quanto ele. Trata-se de uma visita e resgate aos costumes, cosmovisões amazônicas e contação oral do interior paraense.
O curta foi feito com incentivo do edital de Cultura Digital, da lei Aldir Blanc Pará. Rod desenvolveu a história, estruturado com painéis, um formato similar ao de quadrinho, mas com indicações de movimento pra animação. A partir do roteiro de painéis, a artista Tai Silva fez as ilustrações inspiradas em registros fotográficos do vilarejo e outras referências visuais de traços representativos da região.
O ator Roberto Ribeiro gravou a voz da narração. A trilha original foi feita pelo Thiago Albuquerque. Por fim, os painéis foram animados por Eliezer França, misturando a linguagem audiovisual com o surgimento de trechos do texto e a narração oral, criando uma obra animada que resgata a contação de histórias. E todo esse trabalho foi administrado pela produção geral da Melina Marcelino.
O diretor fez questão de captar os áudios ambientes no vilarejo, buscando uma ambientação fiel ao local, e, a parte estética, foi inspirada em registros fotográficos da região. “Foi um esforço muito grande da equipe inteira, fizemos tudo no meio da quarentena da pandemia de covid-19, respeitando o distanciamento social com a equipe trabalhando de forma isolada. Passamos por diversos problemas e imprevistos, mas, conseguimos finalizar com muita dedicação e carinho. E o resultado ficou incrível”, comemora.
A primeira e única exibição pública, até agora, foi feita no vilarejo Bomfim, no lugar e para as pessoas que inspiraram o contexto da história. Foi uma exibição ao ar livre, gratuita, com os moradores sentados em cadeiras de plástico, lanchando e assistindo a projeção do curta.
“Eles faziam comentários de quem se reconhece em diversas situações e se identifica com os cenários, de quem se reconhece nas vivências apresentadas na trama. Foi incrível. Pra mim, passar o filme no Bomfim e ver a reação positiva e empolgante das pessoas, foi a melhor parte de todos os resultados que tive com essa produção, não apenas pelo meu envolvimento emocional com a região, mas também por acreditar que é de total importância promover exibições descentralizadas de cinema. A arte tem que chegar em todo mundo”, destaca Rod Rodrigues.
Sobre o cenário de animação no Pará, o diretor pontua que é um trabalho difícil, se trata de um processo demorado, árduo, mas também prazeroso e de possibilidades infinitas.
Segundo o animador do curta, Eliezer França, “atualmente o cenário de animação paraense segue contando em grande parte apenas com investimentos privados. Estúdios de pequeno porte, que antes dependiam de incentivo de editais como os da Ancine e Funtelpa, se veem sem muitas perspectivas, contando apenas com serviços esporádicos de publicidade e canais de Youtube. Trabalhos de animação como o Caçador de Cabeças são uma grande oportunidade para produzir conteúdo local, autoral, movimentar o setor, e dar oportunidade a novos artistas. Espero que mais projetos assim possam surgir em breve para levar nossa cultura, literatura, cinematografia e qualidade audiovisual pro resto do Brasil e pro mundo”.
Não foi a primeira vez que Rod Rodrigues trabalhou com roteiro de animação, mas foi a primeira como diretor. “Aqui em Belém temos um cenário muito criativo, em crescimento, com ótimos estúdios, como a Muirak Studio e a Iluminuras, mas que infelizmente carecem de incentivos do governo, uma realidade do país inteiro no momento”, acrescenta.
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