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Curso 'Decolonizando Marcas' propõe nova abordagem para comunicação cultural

Ministrado por Gustavo Aguiar, diretor de comunicação da Psica Produções, curso digital desafia modelos tradicionais e discute o papel da comunicação na construção de narrativas culturais na Amazônia

Matheus Viggo

Desenvolver um novo pensamento sobre marcas, comunicação e cultura. Foi com esse objetivo que Gustavo Aguiar, diretor de comunicação da Psica Produções, reuniu sua experiência de 10 anos em projetos culturais para criar um curso inédito. Em formato digital, Decolonizando Marcas acontece nesta terça (1º), quarta (2) e quinta-feira (3), trazendo uma abordagem inovadora sobre comunicação para a cultura e provocando uma reflexão: é possível construir marcas com propósito sem focar no lucro?

Durante três dias, o jornalista especializado em comunicação para eventos culturais apresentará conceitos que reinventam as ideias de marca, marketing e publicidade, rompendo com o modelo tradicional de comunicação voltado apenas para o lucro. “Eu sei que a maioria deles quer responder à pergunta ‘o que tu fazes de especial no Psica?’. Não tem uma resposta definida, porque eu sou só um elemento nessa rede de 90 pessoas que desenvolvem essa comunicação. Mas eu posso dar um panorama geral de conceitos, técnicas e abordagens que fazem com que a gente tenha um tempero a mais nessa forma de fazer comunicação para projetos culturais”, explica Gustavo.

Além disso, o curso vai propor um olhar crítico para as ferramentas de marketing e comunicação, discutindo como elas podem ser usadas para fortalecer comunidades e narrativas culturais. “Vamos nos despir dessa abordagem capitalista para entender como podemos usar essas ferramentas com outro foco: formar comunidades em volta de arte e história. Até quem trabalha em agências que atendem contas de mineradoras pode participar desse curso e aprender bastante sobre como aplicar isso no seu trabalho. Eu posso garantir isso. Aí vai da consciência de cada um sobre como usar esses conhecimentos”, conta.

Um curso alinhado com o novo momento da cultura paraense

O atual crescimento da produção cultural no Pará e na Amazônia, impulsionado pela COP30, influenciou diretamente a criação do curso. Para Gustavo, o evento internacional atrai olhares midiáticos para Belém e gera novos investimentos em projetos culturais ligados à sociobiodiversidade. Com isso, torna-se essencial formar profissionais não apenas para planejar a comunicação de grandes eventos, mas também para compreender a responsabilidade de construir narrativas sobre a Amazônia em um momento decisivo para a pauta climática global.

“Hoje em dia, o mercado de comunicação para eventos é completamente diferente. Lembro que o Se Rasgum de 2015, que foi o primeiro que eu realizei, tinha uma equipe bem enxuta comparada com os dias de hoje: dois social medias, um assessor de imprensa, um time de três a quatro fotógrafos e uma equipe de audiovisual que não passava de cinco pessoas. No último Psica, nosso time de comunicação somava mais de 90 profissionais”, destaca.

Ele também cita a referência que o trabalho desenvolvido no Psica se tornou: “A comunicação do Psica é uma referência para todo o Brasil. Já recebi mensagens de pessoas que viram nossa comunicação ser usada como referência por agências que ativam marcas dentro do Rock in Rio, por exemplo. Isso, pra mim, mostra o quanto nós crescemos e temos um trabalho de ponta”.

Desafios do mercado cultural e a necessidade de formação

Para Gustavo, um dos principais desafios para quem deseja atuar com comunicação na cultura é a forma como o setor ainda depende de financiamento público e enfrenta barreiras burocráticas para captar recursos. “O maior problema do mercado de cultura no Brasil é o modelo de financiamento, que ainda está muito pautado em leis de incentivo fiscais. A cultura no Brasil ainda funciona com dinheiro público que chega de forma muito burocrática. A burocracia afasta essa grana de qualquer artista ou qualquer produtor cultural: tem que dominar muitos conhecimentos pra ter acesso a dinheiro público para a cultura.”

Ele enfatiza que essa dificuldade de acesso é maior para profissionais de fora do eixo Sudeste. “Quem tem mais formação para conseguir acessar essas leis? O Sudeste. Pra viver de cultura, precisa estudar e se profissionalizar. Eu tô fazendo minha parte aqui na comunicação e fico esperando que outros setores também colaborem com esse pensamento e ofereçam mais cursos de técnica, produção, cenografia e produção executiva, que é quem aprova a grana e distribui… Afinal, o profissional de comunicação presta um serviço para os projetos culturais. Mas os projetos precisam continuar rolando pra gente conseguir sobreviver disso”, afirma.

Comunicação e cultura: um novo olhar

O curso também busca preencher uma lacuna na formação de profissionais da comunicação cultural. “O único curso de comunicação e cultura que me recordo de ter participado em Belém foi ofertado pela jornalista maravilhosa Dominik Giusti, curiosamente minha conterrânea de Ourém, e que também trabalha divinamente com cultura. Não lembro de ter visto outros espaços assim nesses últimos anos. Eu precisei ir pra São Paulo para me profissionalizar, mas aí já era tarde demais: a gente já fazia um trabalho muito melhor. Voltei pra Belém com mais certeza de que o ideal era criar um jeito nosso de fazer comunicação para cultura. Acho que estamos muito bem nesse trilho”, comenta.

No curso, Gustavo também pretende compartilhar aprendizados que adquiriu no Festival Psica e como eles podem ser aplicados a outros projetos culturais. “O Psica, sem dúvida, é um case de comunicação, como os publicitários gostam de chamar. É um projeto que dialoga com filosofias decoloniais, que desafia padrões antiquados de comunicação e, por isso, a gente desenvolveu uma forma de fazer comunicação decolonial. Hoje, eu digo que faço comunicação através de um processo artístico. A confiança e a abertura que eu tive para desenvolver esse trabalho mudou não só a minha visão de comunicação e marketing como também ampliou minha confiança para compartilhar com outras pessoas esse aprendizado que, eu não tenho dúvidas, é poderoso na construção de movimentos disruptivos de fora pra dentro”.

Ele também destaca um dos grandes desafios enfrentados no Psica e que será discutido no curso: “O Psica hoje é um festival gigantesco, mas ainda não temos o orçamento de comunicação que eventos nacionais têm, como Rock in Rio e Lollapalooza (sim, não devemos ter medo de ter esses eventos como referência). Então, saber jogar o jogo criatividade versus grana é um desafio muito rico que enxergo como oportunidade. Ativamos desde influenciadores ex-BBB, passando por mídia de TV, que continua caríssima, até faixas de ráfia, muito utilizadas pela comunicação de festas de aparelhagem, ação que virou até tema de TCC de comunicação”.

Expectativa para a primeira edição

Com a primeira edição do curso, Gustavo acredita que pode contribuir para a formação de uma nova geração de comunicadores culturais no Pará. “Sem falsa modéstia, acho que o conteúdo do curso inaugura uma nova geração de comunicação para cultura em Belém. Vejo que cada pessoa inscrita é uma semente que certamente desabrochará nos próximos anos e fico muito animado de ver isso acontecer. Realizar esses encontros é garantir que, pelo menos na comunicação, temos profissionais muito bem formados e com senso crítico para desenvolver histórias sobre a Amazônia com a visão e protagonismo de quem é daqui, com a mesma força narrativa e de mídia que o Sudeste tem sobre nós há décadas. Vai ser lindo assistir isso”, finaliza.

Sobre o ministrante

Gustavo Aguiar é diretor de comunicação da Psica Produções e tem no currículo mais de 30 festivais paraenses, como Festival Psica, Festival de Tecnobrega e Aparelhagem, Se Rasgum, Sonido, Festival Amazônia Mapping, Circuito Mangueirosa, Afropunk Belém e Festival Amazônia de Pé, além de eventos em São Paulo, Rio de Janeiro e Santarém. Jornalista formado pela Faculdade de Comunicação da UFPA, natural de Ourém do Pará, no alto Rio Guamá, suas pesquisas atuais envolvem identidade, Amazônia, arte e ancestralidade.

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