Conheça alguns nomes da Cena do ‘Cinema Negro’ no Pará e as novas narrativas audiovisuais

A reportagem de O Liberal conversou com duas produtoras e cineastas negras paraenses, Joyce Cursino e Rayo Machado, sobre o caminho que este cinema vem trilhando na Amazônia

Emanuele Corrêa
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O termo "Cinema Negro" não é recente no Brasil e, no Pará, vem ganhando, nas últimas décadas, mais representatividade. O movimento propõe o protagonismo dos corpos pretos na direção, produção, atuação e em outros cargos que, na indústria audiovisual, essas pessoas não ocupariam, devido o racismo estrutural, apontam os estudiosos do tema. A reportagem de O Liberal conversou com duas produtoras e cineastas negras paraenses, Joyce Cursino Rayo Machado, sobre o caminho que este cinema vem trilhando na Amazônia.

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O debate sobre a representação e a representatividade negra nas telas cresce desde a década de 1990 e com o chamado "Cinema Negro", considera que os filmes devem ter a temática racial como centro e/ou ser dirigidos por pessoas negras. Lazaro Ramos é um dos nomes do cinema negro atual; em sua última direção apresentou a distopia "Medida Provisória", filme 15 vezes indicados em categorias no 22º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, um dos maiores prêmios do segmento nacional.

A paraense Joyce Cursino, 27 anos, faz parte da nova geração do cinema negro paraense. Estreou no cinema em 2016 como atriz, protagonizando séries com relevância nacional, tais como: "Squat na Amazônia", "Webserie preta" entre outros. "Participei da Webserie Pretas, dirigida por Lucas Moraga, onde além de atuar, fui desafiada a construir a obra como roteirista e na produção da trilha sonora. Foi o cruzamento dessas vivências, estudo e pesquisa que me fez compreender a importância do cinema negro", iniciou.

A partir dessas experiências que decidiu criar a sua própria produtora audiovisual, diz. "Inquieta com o cenário de desigualdade e marginalização dos nossos corpos e narrativas, veio a necessidade de criar um espaço onde tivesse mais de nós e mais dos nossos. Fiz então meu primeiro curta independente chamado 'É coisa de Preta' e daí em diante comecei a me aprofundar na escrita de projetos e montar equipes negras para produzir. Assim nasce a Negritar Filmes e Produções", declarou.

Joyce revela que desde 2019 a Negritar se fixou como produtora audiovisual, com cunho social, na formação de novos produtores negros. "Embora tenhamos uma coordenação e equipe mais fixa para cuidar da produtora, montamos equipes por projetos. Então, dependendo do ano e da quantidade de projetos, conseguimos fazer muitas contratações. Em 2022, foram mais de 200 contratações", revelou.

"O Telas em Movimento é o projeto de maior orgulho, pois conseguimos agregar a luta pela igualdade racial, a defesa dos territórios a partir de uma construção coletiva e comunitária. Prova do impacto é o reconhecimento do poder legislativo de Belém que resolveu homenagear o projeto com a medalha do mérito cultural e patrimônio de Belém na Câmara Municipal", completou.

Questionada sobre a importância do mês de novembro, para a população negra, mas também a população não negra aliada, Joyce destaca a conscientização, por meio do cinema. "O trabalho de conscientização sobre as questões raciais existe como forma de resistência para manter viva nossa identidade desde o período da colonização. O cinema e o audiovisual são ferramentas para que essa história não seja esquecida e que o mundo avance no combate ao racismo dentro dos novos contornos que ele se estrutura. É um trabalho que requer pensar o passado, construir o agora e projetar um futuro de mais liberdade e emancipação", finalizou.

image A publicitária e roteirista Raynéia Machado, 36 anos, também conhecida como Rayo Machado tem no seu currículo produções a exemplo do longa-metragem "Para Ter Onde Ir", da diretora paraense Jorane Castro e a série "Fronteiras" de Jorge Furtado. No audiovisual ela começou como assistente de figurino, mas roteirizar virou a sua paixão, conta. (Reprodução / Arquivo Pessoal)

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A publicitária e roteirista Raynéia Machado, 36 anos, também conhecida como Rayo Machado tem no seu currículo produções a exemplo do longa-metragem "Para Ter Onde Ir", da diretora paraense Jorane Castro e a série "Fronteiras" de Jorge Furtado. No audiovisual ela começou como assistente de figurino, mas roteirizar virou a sua paixão, conta. "Quando tive contato pela primeira vez com um documento de roteiro, e embora apaixonada pelo figurino, percebi que era aquilo que eu queria fazer no audiovisual: escrever", disse.

Uma história familiar a levou integrar a Academia Internacional de Cinema (AIC) para roteiristas negras, relembrou. "Surgiu a sinopse de 'O vento é meu irmão', e através dele fiz parte de uma turma da academia internacional de cinema (AIC) para roteiristas negras. Passei três meses em São Paulo estudando estrutura narrativa, criação de personagens, preparação para pitching, dentre outras coisas importantes para quem estava iniciando a carreira como roteirista", observou.

Rayo adotou como ferramenta de produção o conceito da escritora Conceição Evaristo para criar as suas narrativas. "De lá pra cá, adotei o conceito de 'Escrevivência', da escritora e grande inspiração Conceição Evaristo, e passei a criar narrativas tendo como ponto de partida as minhas vivências enquanto mulher negra amazônida. Essa é minha marca principal como Roteirista, e a ela adiciono uma camada de ativismo socioambiental, colocando holofotes sobre questões urgentes e relevantes para essa região e para o Brasil, afinal de contas estamos falando de Cinema Nacional", finalizou.

Em alusão ao Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares, relembrada amanhã, 20, Negritar em parceria com a Semana Academia da Universidade Federal do Pará, a Multi Week com a programação de filmes, aberta ao público.

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