Cineasta paraense apresenta produção na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes
“Casa de Luiza” é a segunda produção da trilogia do cineasta Rodrigo Antonio
O cineasta paraense Rodrigo Antonio apresenta ao público a produção “A Casa de Luiza”, nesta quarta-feira (25), na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes. Na programação, o lançamento faz parte da Mostra Panorama, mostra composta por 29 curtas-metragens de todo país, sendo três da região Norte, 2 do Amazonas e o único do Pará, que têm como ponto em comum reflexões e experimentações sobre as relações entre pessoas e também espaço.
É o segundo curta integrante de uma trilogia do diretor. “Meus santos saúdam seus santos”, primeiro da série, também esteve na Mostra Tiradentes em 2021, circulou por mais de 20 festivais nacionais e internacionais.
Rodrigo Antonio é formado em História (UFPA) e produção audiovisual (EICTV). Produziu curtas-metragens de ficção e documentário, webséries, videoclipes, documentários educacionais e uma série para televisão, Boto (TV Amazonas). Destacam-se os curtas Nada ni nadie (2015); Gaiola (2017) e Portugal Pequeno (2020), que circularam por festivais como Clermont-Ferrand F. Festival, Málaga Film Festival, Durban Film Festival. Integrou a equipe de produção executiva dos longas Sol Alegria (Tavinho Teixeira, 2018), Pequeno Mal (Lucas Camargo & Nicholas Thomé, 2018) e Fôlego (Renato Sircilli, 2018).
1.Fala da tua relação com a ilha do Marajó e como esse trabalho inicia.
Passei quase dez anos sem ir ao Marajó, retornei à Soure, a casa de meus avós, e me vi ali, entendi naquele momento o pertencimento como base de uma proposição artística, como forma de afirmação da subjetividade e afirmação enquanto sujeito; então decidi por buscar e coletar testemunhos de distintos personagens que habitam a memória da minha infância e que comigo compartilharam histórias naquele lugar, muito diferente em sentido físico, mas que segue sendo o local onde repousam afetos e histórias com diferentes significados para as pessoas que, antes, davam vida àquela casa.
2.Casa de Luíza é resultado da tua pesquisa de mestrado e resultado de reflexões que fazias dentro da APAN sobre o audiovisual ser uma ferramenta de memória de famílias negras, quase inexistente no Brasil.
Então, estou propondo um experimento de arquivos do meu retorno, com as imagens que encontrei da minha avó, com as imagens e relatos coletados com minha família, primos, vizinhos da minha avó e do próprio processo de retorno como o meu corpo naquele território se tornando o arquivo, a matéria viva de memória que eu tanto busquei e não encontrei, mas já estava em mim e está em todas as pessoas negras, aos nossos ancestrais que no processo de fuga da casa grande, de um sistema colonial e na entrada pra mata mostram que a fuga foi a libertação que me permitiram e permitem a muitos cineastas negros hoje estamos criando as imagens e afirmando as subjetividades que nos foram roubadas
3. Como te sentiste e te sentes nesse processo de escavar, de descobrir memórias da tua família?
A ideia do segundo curta então é essa embaralhamento do tempo da história dessa familia, trabalhando com a ideia de tempo espiralar da ancestralidade negra, fincada na oralidade e na ideia do corpo negro como território da memória. Então entendendo o que escrever em filme a história dessa família despertou no meu pai, fiz exercícios de memórias do desejo de manutenção da casa, colocando ele em cena, no registro do tempo presente da casa como está hoje e do que era essa casa da minha memória da infância em diálogo com a memória do meu pai que a construiu, num jogo da manutenção do espaço físico e afetivo. Assim, pra esse segundo filme, me guiei no sentido de me conectar com meu pai, personagem no filme, entendo que o espaço da casa é porto onde diferentes memórias repousam, mas ainda não se comunicam. E eu me propus a cruzar essas memórias
4. Para além da Casa de Luíza, tu estás planejando fazer uma trilogia desse teu reencontro com a história da tua família no Marajó, certo?
O filme que fecha a trilogia, está em montagem, é um jogo com arquivos que ao mesmo tempo de concreta como filme, mas como símbolo do que foi meu processo de retorno ao Marajó.
“Casa de Luiza”, de Rodrigo Antonio
25 de janeiro, às 16h Cine-Tenda, cidade de Tiradentes (MG) e com o sinal do filme aberto até o dia 28 de janeiro no site mostratiradentes.com.br.
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