Chico Buarque agradece Bolsonaro por 'não sujar' o Prêmio Camões

O artista brasileiro recebeu a honraria nesta segunda-feira, 24, quatro anos depois de ter ganhado o prêmio, em cerimônia ao lado de Lula e do presidente português.

Enize Vidigal
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O Prêmio Camões, um dos mais importantes da literatura do idioma português, finalmente foi entregue a Chico Buarque, quatro anos após ter sido concedido pelo governo lusitano. A comenda não foi entregue antes devido à recusa do ex-presidente Jair Bolsonaro em assinar a concessão do título. Nesta segunda-feira, 24, o cantor, compositor e escritor brasileiro de 78 anos finalmente foi agraciado com o diploma, em cerimônia na cidade de Sintra, em Portugal, na presença de Lula e do presidente lusitano Marcelo Rebelo de Sousa.

"Conforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu prêmio Camões, deixando espaço para a assinatura do nosso presidente Lula", ressaltou Chico no discurso de posse. "Recebo esse prêmio menos como honraria pessoal e mais como desagravo a tantos autores e artistas humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo", completou o artista em clara reprovação ao ex-presidente brasileiro.

"Hoje, para mim, é uma satisfação corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos. Digo isso porque esse prêmio deveria ter sido entregue em 2019 e não foi. Todos nós sabemos por quê", disse o presidente Lula.

O presidente lusitano comparou Chico a Bob Dylan, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2016, pelo fato de que o artista americano também é admirado por sua trajetória musical.

Chico lançou a ficção "Fazenda Modelo" (1974), o infantil "Chapeuzinho Amarelo" (1975), os romances "Estorvo" (1991), "Benjamin" (1995), "Budapeste" (2003), "Leite Derramado" (2009) e "Irmão Alemão" (2014).No teatro, o artista é autor das peças "Roda Viva" (1968), "Calabar" (1972), "Gota D’Água" (1974) e "Ópera do Malandro" (1978).

Prêmio Camões

O Prêmio Camões foi criado em 1988 pela parceria dos governos brasileiro e português. O homenageado recebe 100 mil euros (o equivalente a R$ 555 mil), sendo metade do valor subsidiado pela Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério da Cultura, e a outra metade pelo governo de Portugal

Após Chico Buarque, irão receber o prêmio o escritor português Vitor Manuel de Aguiar e Silva, que foi escolhido em 2020, a moçambicana Paulina Chiziane, em 2021, e o brasileiro Silviano Santiago, 2022.

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