Vítima da covid-19, influencer Ygona sofreu com transfobia e gordofobia
A jovem que morreu na quarta-feira ganhou fama por seu jeito espontâneo
A influenciadora Ygona Moura, que morreu na quarta-feira (27), aos 23 anos, vítima da covid-19, teve uma carreira marcada por ser vítima de transfobia e gordofobia. Ela foi sepultada ontem (28), em um cemitério da Zona Leste de São Paulo, após passar dias internadas por complicações da doença.
A jovem ganhou fama por seu jeito espontâneo. Entretanto, também enfrentou polêmicas: pouco antes de contrair o novo coronavírus, Ygona Moura debochou das medidas de prevenção da pandemia.
“Gente, que noite foi essa? Noite de aglomeração com sucesso! Saí da festa quase 8 horas. Aglomerei mesmo! E recebi bem para isso. Beijos para as más-línguas!”, disse, no fim do ano passado, em um dos vídeos que compartilhou na internet.
Porém, antes e depois da carreira na internet, a trajetória de Ygona foi marcada por diversos problemas. Ela se assumiu então gay, aos 16. A descoberta como trans veio aos 20. Rejeitada pela família, principalmente pela mãe, que não aceitava sua identidade de gênero, a jovem não conseguia emprego – também por ser negra e gorda.
“Em casa, minha mãe diz que aceita minha ‘opção sexual’, mas já me negou até prato de comida só porque eu estava sem trabalho”, relembrou Ygona, em entrevista ao National Geographic, em dezembro.
Devido à situação em que se encontrava, ela, assim como muitas jovens, foi buscar sustento na prostituição. Antes da pandemia, ela conseguiu um emprego formal. Porém, com a crise econômica, perdeu o trabalho, voltou a morar com a mãe e, novamente, enfrentou problemas.
Enquanto vivia o drama pessoal, Ygona foi ganhando fama pelos vídeos engraçados que compartilhava no Instagram. Já na casa da mãe, ela foi vítima de transfobia por parte de seu irmão, que, segundo seu relato, tentou matá-la.
“Vocês quase me perderam. Quase eu morri, ia ser assassinada pelo meu irmão que não me aceita, tem inveja de mim. Minha mãe chamou a polícia e me obrigou a sair de casa, eu que era a vítima. Não sei o que fazer, se jogo tudo pro alto, se me jogo da ponte. Dá vontade de eu mesma me matar”, comentou Ygona, à época.
Ygona atraiu a solidariedade da internet e recebeu doações. Ela foi para uma casa de acolhimento de trans e travestis, onde viveu até sua morte.
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