São Benedito, o Santo Preto, motiva composições e manifestações culturais

A cultura com a dança e a música, mistura-se com a religiosidade para homenageá-lo

Emanuele Corrêa
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Hoje, 5, é celebrado no Brasil o Dia de São Benedito. O santo preto, como é conhecido, tem devotos atraídos pela sua história de humildade e vida simples. A cultura com a dança e a música, mistura-se com a religiosidade para homenageá-lo. Um exemplo está na região Bragantina e em Santarém Novo, no nordeste paraense, quem têm o Carimbó e Marujada em homenagem a ele, que é considerado o padroeiro dos afrodescendentes, cozinheiros /cozinheiras, donos/donas de casa.

Apesar do mundo todo comemorar o dia 4 de abril - dia do seu falecimento -, como a data de São Benedito, o Brasil comemora este dia 5, pois marca a deferência canônica especial concedida pelo Vaticano em 1983. Toni Soares, arte educador em escola pública de tempo integral e músico, explica a ligação entre devoção religiosa e criação artística. "Desde o surgimento da Marujada de Bragança, em 1798, que o bragantino tem uma ligação muito forte com o culto a São Benedito, a partir do surgimento da Irmandade do Glorioso São Benedito, criada por 14 escravos. São 224 anos de devoção", explicou a relação do padroeiro com a cultura na região.

A Marujada de Bragança é diferente da Marujada do Nordeste, que remete a Nau Catarineta, afirma Toni. A festividade da Marujada acontece entre 18 e 26 de dezembro. "Mas inicia em abril, quando três comitivas de São Benedito saem em peregrinação por três regiões do nordeste: praias, colônias e campos. Andando de casa em casa, rezando ladainhas e recebendo donativos para o grande leilão que acontece em dezembro", relembrou.

"Na minha reflexão, é uma das maiores expressões culturais do mundo em ação. São nove meses de caminhada a pé. Além das comitivas, a festividade apresenta a Cavalhada e a beleza da Marujada comandada por uma 'capitoa'. As mulheres predominam na Marujada. Dançam o retumbão (de origem indígena), xote, mazurca, contradança, roda, valsa (influências europeias)", completou.

Toni conta que é devoto do padroeiro e, desde que, começou a morar em Bragança já gravou quatro CDs em homenagem: 'Caminhando com São Benedito', 'Marujada', 'Tambores de São Benedito', e 'O Chamado dos Tambores'. Todos disponíveis nas plataformas, com participações de vários artistas paraenses e de outros estados, contou.

O músico deseja que São Benedito continue intercedendo por ele e por todos. "Sou devoto desse santinho, e me aproximei mais ainda dele quando deixei tudo em Belém e passei a residir em Bragança, a partir de 2007", finalizou.

 

Carimbó de São Benedito

Isaac Loureiro, é pesquisador e produtor cultural, em Santarém Novo, além de membro da Irmandade do Carimbó de São Benedito do município e parte da coordenação do Movimento da Campanha Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro. "Nossa relação se dá através das irmandades criadas pela igreja católica, como estratégia para catequizar e converter negros, indígenas e mestiços nas colônias portuguesas na África e aqui no Brasil. Foi nesse contexto, ainda no século 19, que em Santarém Novo, minha cidade, o carimbó acabou se integrando às festividades do padroeiro, tornando parte das atividades que a comunidade realizava para homenagear São Benedito. Foi aí que nasceu a nossa Irmandade, que hoje mantém viva a tradição do Carimbó de São Benedito em Santarém Novo", ponderou.

O pesquisador revela que o Carimbó fazia parte da área recreativa da festa do santo católico e era "tolerado" pela igreja, no entanto, com o tempo passou a ser um elemento central ligado à devoção. "A música, a dança, a bebida levou a uma ruptura entre a irmandade e a igreja na década de 80, com a festa sendo proibida pelo padre e a irmandade se retirando para continuar fazendo sua devoção peculiar. O fato é que o povo mais humilde, pescadores, agricultores, se identifica profundamente com o santo. Então manifestam sua gratidão fazendo sua festa em dezembro, mediados diretamente pela irmandade e não mais pela igreja", contou, reforçando que a cultura popular permanece.

Em Santarém Novo a festividade segue de 21 a 31 de dezembro, todos os anos, desde o século 19, declara Isaac. "Dura 11 dias e 11 noites. Essa tradição é que chamamos de 'Carimbó de São Benedito', hoje, antes era só festa de São Benedito ou festas de carimbó. Em Santarém Novo não há sincretismo religioso com divindades africanas, o santo é católico mesmo, se reza ladainhas e folias cristãs, a vinculação com a religiosidade católica permanece. O que é diferente é a forma como essa devoção acontece, como o povo celebra seu padroeiro, com festas, música, comida e bebida, mastro de frutas, entre outros elementos que mantém conexão com outras tradições culturais e religiosas indígenas e africanas também", diz.

"Essa miscigenação religiosa, inclusive, foi sempre odiada pelas autoridades eclesiais católicas e passou a ser perseguida e suprimida das comunidades, após a restauração do controle do Vaticano pela igreja brasileira depois do período pombalino. Foi a 'romanização' imposta a ferro e fogo que levou aos conflitos e à separação dessas irmandades populares da igreja institucional em nossa região. Já na região bragantina essa miscigenação gerou a tradição da Marujada, que inclusive pode ser mais antiga que o próprio Carimbó", finalizou,

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