Carimbó completa dez anos de reconhecimento, mas comunidade cobra políticas públicas e apoio

Comunidade destaca a necessidade de um fundo permanente que possa garantir o suporte necessário para a preservação do carimbó e o cuidado com seus fazedores

Abílio Dantas e Amanda Martins
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O carimbó celebra, nesta quarta-feira (11/09), uma década como Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro, reconhecimento concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Esse marco é fruto de uma mobilização intensa da comunidade carimbozeira, que conduziu a campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro – Nós Queremos”. No entanto, apesar das comemorações, a comunidade segue lutando pela valorização e dignidade da cultura popular.

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Solange Loureiro faz parte da coordenação da campanha do carimbó e representa a campanha do carimbo dentro do Comitê da Salvaguarda do Carimbó. Ela afirma que os membros do movimento se reuniram para fazer uma avaliação sobre os últimos 10 anos e se perguntaram: o que comemorar?.

“No âmbito federal houve corte expressivo nas ações dos bens imateriais do Brasil, em âmbito estadual não existem políticas públicas permanentes de Salvaguarda, no âmbito municipal também não. O que nos mantém em atividade são as ações desenvolvidas nas comunidades pelos nossos Mestres, Mestras e a comunidade carimbozeira que se mantém firme”, diz Sol, como é conhecida.

Segundo ela, dentro do movimento “Carimbó do Meu Brasil”, haverá programação em referência a data em diversos municípios paraenses, como Marapanim, São Miguel do Guamá, Cachoeira do Arari, Parauapebas, Ananindeua, dentre outros. 

image Priscila Cobra, jornalista, multiartista, produtora cultural (Pierre Azevedo)

Priscila Cobra, jornalista, multiartista, produtora cultural e delegada do Comitê Gestor do Plano de Salvaguarda do Carimbó pelo município de Belém, também reflete sobre o aniversário do título. Segundo ela, o interesse pelo carimbó aumentou, com novas gerações se aproximando e fortalecendo os mestres e mestras dessa tradição. “Surgiu um ambiente mais propício para que os grupos divulguem seus trabalhos em âmbito nacional. Cidades como Rio de Janeiro e São Paulo têm buscado beber da fonte do carimbó de raiz”, afirmou.

Apesar desse cenário positivo, Priscila também ressalta a falta de políticas públicas adequadas. “Há uma dezena de mestres que, quando adoecem ou enfrentam problemas de saúde, não têm qualquer subsídio. A única solução que encontramos é a auto-organização, fazendo vaquinhas e shows solidários”, explicou.

Ela destaca ainda a necessidade de um fundo permanente que possa garantir o suporte necessário para a preservação do carimbó e o cuidado com seus fazedores. A precariedade nas políticas públicas também se reflete na educação. Priscila lembrou que, apesar da obrigatoriedade de ensino da cultura afro-brasileira nas escolas, o carimbó raramente está presente de forma estruturada.“O carimbó só entra nas escolas quando vamos voluntariamente ou quando somos convidados. Não há uma política pública que garanta oficinas permanentes, nem a absorção da mão de obra dos mestres e mestras”, pontuou a produtora.

MESTRA NEYA

O projeto intitulado “Carimbó pra Encantaria - O Futuro é Ancestral!”, desenvolvido por Mestra Neya e pelo Grupo de Carimbó Jangada Encantada, realiza hoje duas oficinas. A primeira, com o tema “Tecnologia Ancestral do Carimbó - Instrumentos musicais reciclados a partir do lixo urbano”, na Escola Professor Francisco das Chagas de Azevedo Cacau, em Icoaraci, vai abordar os processos de construção de instrumentos musicais reciclados a partir do lixo urbano, trazendo matérias-primas sustentáveis e narrativas culturais. “Nós contribuímos transmitindo conhecimentos, repassando pela oralidade, da musicalidade, e através das oficinas de preservação e temas relacionados à preservação do meio ambiente e reciclagem do lixo, tudo isso ajuda a preservar o meio ambiente.”, conta Mestra Neya, de 58 anos e com 28 de carreira estudando diretamente com outros mestres da cultura popular paraense.

A segunda oficina “Carimbó pra Encantaria - Musicalização com Maracás frente às mudanças climáticas” será realizada na Barca Literária, na comunidade da Vila da Barca, no bairro do Telégrafo em Belém. Nesta oficina, a partilha com jovens e adolescentes será sobre as técnicas de musicalização em saudação aos caboclos e encantados, presentes da identidade amazônida e na cultura de matriz africana e indígena, a partir de um repertório musical e cultural de enfrentamento das mudanças climáticas e de justiça climática e social.

SANTARÉM

Preocupado com o rumo que o movimento estava tomando, o Mestre Capoeira, que trabalha com a Salvaguarda do carimbó no oeste paraense, decidiu agir, mobilizar amigos e empresas locais para organizar de forma independente uma edição do “Carimbó do Meu Brasil”, em Alter do Chão, em Santarém, dos dias 11 a 14 de setembro no Centro de Atendimento ao Turista (CAT), com início às 19h. O evento é aberto ao público.

Segundo ele, os primeiros cinco anos após o reconhecimento foram marcados por progresso, com o carimbó servindo de referência para outras culturas que também haviam sido tornadas patrimônios, já que o plano de salvaguarda estava pronto. No entanto, os últimos cinco anos foram de abandono.

“Não recebemos um centavo do governo federal ou municipal para continuar salvaguardando a tradição. Isso me deixou muito inquieto”, comenta o mestre, que destaca a falta de apoio financeiro para manter viva a cultura do carimbó. “Estamos fazendo esse movimento para festejar a nossa luta, mas também para lutar pelos direitos que a gente merece”, afirmou ainda Mestre Capoeira.

image Mestre Capoeira e Mestra Marcele (Arquivo pessoal)

A programação inicia no dia 11 com apresentações musicais do grupo Banzeiro de Carimbó e Priscila Cobra com convidados; no dia seguinte, 12, serão tratadas vivências de carimbó com a produtora cultural; no dia 13, é a vez do Mestre Capoeira e Mestra Marcele compartilharem suas experiências com o público; e, por fim, dia 14, os moradores e turistas se divertem com o show “Olha já” Alter Nativo e Banzeiro de Carimbó.

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