Candidatos sem respostas em um mundo cada vez mais perigoso

Gustavo Freitas

Estamos vivendo os últimos dias da eleição nos Estados Unidos, um processo desnecessariamente longo e arcaico para escolher o novo comandante da maior potência do planeta. A disputa entre Trump e Kamala está acirrada demais para apontar um claro favorito, mas há uma única certeza nesta história: o mundo é hoje um lugar muito mais inóspito para ser presidente. 

Joe Biden assumiu em janeiro de 2021 sob a expectativa de ser um apaziguador de discurso antagônico a Trump, que deixava a Casa Branca bloqueado das redes sociais, brigado com seu vice-presidente e sob a suspeita de ter provocado os ataques ao Capitólio no dia 6 de janeiro.

Mas, como na política nem tudo é o que parece ser, o tempo se encarregou de mostrar que Joe Biden não era exatamente um pacificador. Discursos muito mais moderados, é verdade, mas seu histórico belicista como senador não ficou para trás e, hoje, deixa para seu sucessor um mundo muito mais perigoso do que encontrou.

Sob seu comando, adversários históricos avançaram em todas as partes pelo mundo. No Oriente Médio, o Talibã voltou ao poder no Afeganistão, o Irã passou a atacar Israel e Israel entrou em uma guerra de múltiplas frentes que a Casa Branca não conseguiu impor sua força e voz para cessar.

Apesar do discurso firme e uma pesada política comercial contra a China, a situação na região não é animadora. Washington falhou em cumprir com suas metas de construir submarinos no acordo com Austrália, Japão e Filipinas, enquanto assiste os chineses ameaçarem Taiwan semanalmente sem maiores entraves.

Na América Latina, Biden viu Nicolás Maduro enganá-lo com um acordo de alívio das sanções ao petróleo venezuelano sob a promessa de uma eleição democrática no país. Ledo engano. O ditador fez o que pôde para ameaçar a oposição e, até agora, não conseguiu comprovar o contestado resultado eleitoral que o reelegeu em julho passado.

O mais grave, certamente, foi a invasão russa à Ucrânia em fevereiro de 2022. A guerra já dizimou milhares de pessoas em solo ucraniano e destruiu um país que ainda tenta resistir aos russos diante de um cenário cada vez mais irreversível. A principal consequência não foi no campo de batalha, mas no jogo diplomático: Biden permitiu que Putin e Xi Jinping se tornassem aliados inseparáveis, irmãos siameses em um mundo cada vez mais caótico. 

Nunca os Estados Unidos estiveram com a imagem tão debilitada internacionalmente como está agora, e quando uma potência escancara suas fragilidades, os adversários se deleitam nas oportunidades. Isso, independente de quem for eleito, terá que mudar.

Mas, o que Trump e Kamala farão de diferente? Trump foi um presidente muito mais diplomático e surpreendentemente menos belicista do que seus discursos pareciam ser, mas governou o país diante de um mundo muito mais tranquilo. Teria muitas pontas soltas para colocar em ordem e, até aqui, não diz como pretende fazer isso. 

“Isso jamais aconteceria sob minha presidência” é a resposta de Trump para qualquer conflito acontecendo no globo. Isso não é mais suficiente, é preciso de respostas que nenhum dos dois soube dar.

Kamala Harris nada mais é que a continuação de Joe Biden sob o bonito discurso de eleger a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. Por trás dos sorrisos e discursos bem redigidos sobre liberdade, tem uma política sem soluções para crises globais, perfeitamente capaz de agravar guerras que precisam de um ponto final.

Sem respostas, o mundo aguarda para ver o que farão os americanos nas urnas nesta terça-feira. Este é, de fato, um mundo muito mais inóspito para se trabalhar da Casa Branca.

Gustavo Freitas é articulista do jornal O Liberal

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