Canaã dos Carajás e Parauapebas recebem oficinas de criação de pássaros juninos
Os cordões de pássaros e bichos juninos, tradição nascida nas periferias de Belém, resiste ao tempo e se expande pelo interior do Pará
Os cordões de pássaros e bichos juninos, tradição nascida nas periferias de Belém, resiste ao tempo e se expande pelo interior do Pará. Esta semana, estão sendo iniciadas as oficinas de criação dos novos pássaros Arara Azul, em Canaã dos Carajás, e Arara Vermelha, em Parauapebas, ambos no Sudeste do estado.
O projeto de resgate e criação de cordões de pássaros e de bichos é coordenado por Laurene Ataíde, socióloga com especialização em Acessibilidade Cultural, que é guardiã do Pássaro Colibri, existente há 50 anos na ilha de Outeiro, em Belém, além de fomentadora dessa tradição.
“Eu faço o resgate da manifestação (folclórica) no estado do Pará e a oficina de criação dos espetáculos. O projeto iniciado em 2005 já resgatou pássaros em Belém, como o Curió, do Outeiro, e a Borboleta, do bairro do Carananduba, em Mosqueiro, que há 72 anos não brincava, assim como no interior do estado, como o Pavão, em Barcarena, na mesorregião de Belém, que não brincava há 18 anos; e o Tucano, em Portel, na região do Marajó, que não brincava há 24 anos”, descreve.
Tradição vem do período da Belle Époque
Também chamados de “ópera cabocla”, os cordões de pássaros e de bichos teriam sido criados por populares de Belém que ouviam as óperas italianas do lado de fora do Theatro da Paz, no período da Belle Époque. Sem acesso a esses espetáculos suntuosos, eles criaram as próprias versões de teatro, música e dança influenciados por costumes locais e elementos de influência erudita, como ritmos regionais e o ballet. Além de possuírem personagens amazônidas como indígenas e matutos, além de feiticeira e elementos da corte europeia, como reis e rainhas. O enredo se desenrola em torno da proteção do pássaro perseguido por um caçador, em que se destaca o papel do “porta-pássaro”, criança que carrega a ave ou a representa.
O desejo de criar as Araras Azul e Vermelha surgiu a partir de moradores de Canaã e de Parauapebas, que contaram com Laurene para criar os cordões de pássaros. “Eles escolheram as araras porque são aves que eles já têm um trabalho de preservação”, conta a guardiã. O projeto nessas cidades tem o patrocínio do Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Oficinas de janeiro a março
Nesta sexta-feira, 7, Laurene chega a Canaã para iniciar a oficina de criação do espetáculo da Arara Azul. Ela ensina os participantes da cidade sobre a tradição do cordão de pássaro junino, leva instrumentos musicais e os materiais necessários para a confecção de indumentárias e adereços que serão usados nas encenações dos grupos. Já em Parauapebas, a oficina de criação do espetáculo iniciou nos mesmos moldes, na última quarta-feira, 5.
As oficinas seguem até março e finalizarão com apresentações das Araras Vermelha e Azul nas comunidades de Parauapebas e Canaã, nos dias 25 e 26 de março.
Laurilene observa que a cultura dos pássaros e dos bichos juninos resgata a história do povo, traz mensagens de preservação da natureza e auxilia jovens, adultos e crianças a adquirirem confiança em si mesmos e a participarem de forma ativa na arte.
“A Amazônia possui uma fauna exuberante. Uma rica variedade de pássaros e um imaginário colossal traduzido em sua cultura. Para o Instituto Cultural Vale, que foi criado para a salvaguarda de nossos bens culturais e levá-los a mais pessoas, é uma alegria estar ao lado do Cordão de Pássaro Colibri do Outeiro nesse belo trabalho que vai levar a tradição dos cordões de pássaros para Parauapebas e Canaã dos Carajás. Que, juntos, possamos preservar essa manifestação popular folclórica paraense e mantê-la viva, encantando a todos por onde passa”, afirma a gerente do Instituto Cultural Vale, Christiana Saldanha.
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