Boi da Terra faz a festa dos moradores da Terra Firme
O arrastão cultural aconteceu na tarde deste domingo, 26.
O Boi da Terra voltou a fazer arrastão cultural pelas ruas do bairro da Terra Firme, em Belém, após sete anos, na tarde deste domingo, 26. A manifestação folclórica foi embalada por um grupo de carimbó. A concentração aconteceu na esquina das Passagens Nossa Senhora das Graças e Comissão, atraindo crianças e adultos. O boi-bumbá percorreu as ruas do bairro acompanhado do Batalhão de Ouro, formado por brincantes, que convidou o público a cantar e a dançar.
O cantor Héryk Monteiro, de 40 anos, levou a família para conhecer o Boi da Terra. “Eu já toquei (na banda) nesse boi desde antes dos meus filhos nascerem. A gente tava morrendo de saudade dessas festas”, disse. “Achei que o Ulisses (filho de um ano e oito meses) fosse se assustar com o boi, mas não”. Já Renan, de oito anos, aproveitou para tocar o focinho do boi: “Achei legal”, comentou o menino. “É a primeira que venho (no boi). Estou gostando”, disse Cristiane, esposa de Héryk.
O brinquedo do Boi da Terra traz vários elementos estampados, como a saia de estampa arco-íris, numa referência ao movimento LGBTQIA+, inscrições no dorso sobre o Transtorno do Espectro Autista (T.E.A) e elementos da cultura popular, como a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, açaí, indígena, muiraquitã, a descrição da “paz” e a foto do fundador do boi, Antônio Terra Trindade, já falecido.
“Nosso bairro precisa disso, é muito marginalizado e discriminado. Nosso bairro tem muita gente boa, têm famílias que criaram seus filhos aqui. Hoje em dia, esse bairro tá maravilhoso, não tem tanta violência. Não saio daqui”, conta a contabilista aposentada Maria de Nazaré Ribeiro, a “Nazira”, de 65 anos, que há 60 anos mora na Terra Firme.
Como começou o boi
Não se sabe o ano em que o folguedo popular foi criado. “Há anos atrás surgiu esse boi, só que com a pandemia, ele caiu, não se podia sair. Agora, eu disse: ‘Não pode morrer esse boi, vamos continuar’. Os meus filhos com os amigos se reuniram e o boi tá saindo”, conta madrinha do Boi da Terra e viúva do Seu Trindade, Maria das Dores Terra da Trindade, de 84 anos. Ela revela que a inspiração para criar o Boi Terra veio da vivência em Inhangapi, onde nasceu.
O filho do Seu Trindade e da Dona Maria, Ildo Terra, um dos coordenadores da festa, explica que a proposta do folguedo é trazer entretenimento, mas também estimular a inclusão social e a defesa dos direitos humanos, além de reafirmar a resistência popular.
A deputada estadual Marinor Brito foi prestigiar o boi: “O Seu Trindade era um dos maiores incentivadores da cultura popular neste bairro. Ele foi uma das pessoas que mais lutaram pela ocupação da Terra Firme, nos anos 80, foi um parceiro da luta por direitos. Como presidente da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Pará, estou honrada em participar da retomada desse boi e testemunhar a juventude vindo participar para dar continuidade a essa festa”.
Outra brincante que veio de longe prestigiar o boi foi a professora aposentada Maria das Graças Santa Brígida, de 74 anos: “Eu trabalhei 25 anos como professora na escola Fonte Viva, do estado, da Terra Firme e, mesmo residindo na Cidade Nova (em Ananindeua) retorno por causa dos amigos. Esse é o boizinho que a gente acompanha desde o início, que mora no nosso coração”.
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