'Batuque da Matinta' leva cultura e folclore paraense para a Estação das Docas
O projeto de valorização cultural deu oportunidade para que artistas da ilha de Mosqueiro apresentassem suas criações
A estação das Docas abriu espaço no domingo (28) para uma iniciativa cultural oriunda do distrito de Mosqueiro, que levou artistas locais para realizarem diversas apresentações e exposições inéditas. Chamada de "Batuque da Matinta", o projeto apresentou músicas tradicionais do Pará, grupos de capoeira e até representações artísticas da Matinta Pereira.
O idealizador e coordenador do projeto, Biramar Marques, explica que o projeto nasceu na necessidade de fortalecer e valorizar mais as produções culturais realizadas na ilha de Mosqueiro.
"O batuque é uma forma da gente motivar os fazedores de cultura a mostrar os seus trabalhos de forma lúdica. A gente apresenta a Matinta como defensora da floresta, como uma protetora da natureza. Aqui temos artistas da literatura, da música, dança, artesanato é tudo junto e misturado", diz Biramar.
O espaço da estação realmente ficou tomado pelas artes produzidas em Mosqueiro. A população que estava na orla do armazém 3 pode ter o primeiro contato com iniciativas e obras que nunca haviam chegado a Belém, já que esta foi a 1ª vez que o Batuque da Matinta viajou até a capital.
Biramar conta que os artistas da ilha de Mosqueiro ficaram emocionados por poder mostrar suas produções para um público maior. "Queremos mostrar que mosqueiro é um celeiro enorme de cultura. "Os artistas estão tendo a oportunidade de sair da invisibilidade e vir para a visibilidade, através de um projeto que valoriza a nossa cultura", pontua o coordenador.
Ainda segundo Biramar, o Batuque da Matinta não tem a intenção apenas de valorizar a cultura, mas também, de garantir uma contrapartida social para as comunidades que apresentam vulnerabilidade social.
"Nosso objetivo também é a responsabilidade social de ajudar comunidades carentes da ilha. Já tivemos o matinta solidária, entre outros eventos, que promovem cursos e oficinas gratuitamente. A intenção é fazer com que a população ribeirinha também seja inserida em nossas programações", afirma Biramar.
Além de muita musicalidade através de grupos de música popular paraense, a programação do Batuque da Matinta oportunizou a exibição de obras de escritores de Mosqueiro. Autores de diversos gêneros tiveram seus livros expostos na programação pela primeira vez na capital, uma chance de apresentar novos leitores às produções culturais feitas na ilha.
E no meio de tantas produções culturais, um ser pintado de preto, de capa e chapéu pretos, chamava a atenção de todos que passavam na Estação. O chamado "Capa Preta", nada mais é do que o personagem do livro de Sandro Magalhães, que escreveu a obra “Contos e Causos”. Ele conta com entusiasmo um pouco sobre a sua criação e a importância do evento para a valorização dos escritores.
"Ele é um ser sobrenatural que aparece nas horas indevidas, principalmente em horas como meia noite, ou 18h, ele aparece nos locais inadequados", explica ele sem dar muito spoiler.
"Esse projeto é uma porta aberta para a gente, porque Mosqueiro tem uma grande importância cultural e essa programação incentiva a gente a mostrar nossas obras. O Batuque da Matinta garante que as coisas aconteçam na nossa ilha, porque divulga várias artes, não só a literatura", salienta o escritor.
O evento de um projeto chamado Batuque da Matinta não seria completo se a própria personagem não estivesse presente. Interpretada pela atriz Maria Borges, a chamada "Matinta Encantada" é uma composição autoral da artista, de um ser que é protetor da natureza e amigo das crianças.
Durante os cortejos e músicas apresentadas na estação, a mulher fantasiada de Matinta se mantinha numa constante animação, dançando e brincando com as pessoas que se aproximavam dela.
"Há 30 anos eu vinha interpretando a Matinta Pereira, mas há 5 anos criei a Matinta Encantada, porque a Matinta Pereira era sempre vista como algo ruim. Então eu criei a história da Matinta encantada, que protege a natureza e é uma defensora da floresta e dos animais", esclarece a artista.
A professora Simone Quaresma observou com felicidade toda a riqueza cultural apresentada na estação das docas. Para ela, iniciativas como o Batuque da Matinta devem ser incentivadas e valorizadas na região.
"Eu estou achando espetacular porque é um evento que promove e valoriza a nossa cultura, que fala das lendas amazônicas, no caso da Matinta, e nada mais nosso do que a Matinta e Carimbó. Eu acho importante porque isso faz parte da nossa história, da religiosidade e da cultura do povo paraense", diz a professora.
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