Batalhão de Estrelas faz último ensaio para o Arrastão do Círio
Dez mil brincantes são esperados no cortejo popular após dois anos de pandemia.
Os 450 participantes das oficinas do Instituto Arraial do Pavulagem realizam nesta quinta-feira, 6, o último ensaio para o esperado 20º Arrastão do Círio, que acontecerá no sábado, 8. Dez mil brincantes são esperados no cortejo popular que se inicia com a chegada da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré na Escadinha do Cais do Porto ao final da Romaria Fluvial. Este ano, o arrastão vai conduzir um barco de miriti ao som de folias de santos até a Praça Dom Pedro II, onde haverá o show do Arraial do Pavulagem.
“Em junho, tivemos o retorno oficial depois da pandemia com o arrastão junino, e agora, esse momento de devoção e de homenagem à Nossa Senhora”, explica Júnior Soares, um dos fundadores do Arraial. A organização do evento inaugura um novo percurso, que vai descer a Boulevard Castilhos França até a Rua 16 de Novembro. “A gente está voltando para a Cidade Velha (bairro). Nos últimos cortejos finalizamos aqui (em frente ao Instituto do Arraial do Pavulagem). Decidimos ir para a Praça Dom Pedro II pensando na arborização e no conforto dos brincantes. Estamos voltando para o trajeto original, que vai passar pelo Ver-o-Peso”, conta.
“Há 20 anos a gente vem acumulando uma experiência de construir esse cortejo em Belém em junho e também nessa homenagem à Nossa Senhora de Nazaré”, acrescenta Ronaldo Silva, outro fundador do Arraial. “Quando a santa chegar, vamos virar um rio de gente com o brinquedo de miriti, como se continuasse a romaria em terra. Foram feitas folias, um segmento musical bastante significativo da floresta, que são especiais para Nossa Senhora”.
Os integrantes do Batalhão de Estrelas, pessoas que participam das oficinas de percussão, canto, dança popular e perna-de-pau, estão ansiosos pelo Arrastão do Círio. Isabel Favacho, 23 anos, que participará do cortejo como “pernalta”, conta que participou do primeiro Arrastão do Círio em 2019: “É o melhor momento da minha vida porque a gente se conecta com os nossos ancestrais, com a cultura popular e as pessoas. Isso pra mim é lindo”.
Já o vendedor de loja Ian Maciel, de 22 anos, que toca percussão conta como se sente durante os ensaios e o cortejo: “As músicas tocam a gente, arrepiam. É muito apaixonante, não tem como não se sentir bem de estar aqui. É uma válvula de escape. Venho pra cá para descarregar os problema e recarregar as energias”. Para ele, tocar para a Virgem de Nazaré é uma forma de pagar promessa: “É uma energia e sentimentos incríveis, não tem como descrever. As cores, as tradições, os cheiros, a gente sentir a fé das pessoas é maravilhoso”, conta, ele participa do Arraial desde 2017.
O cantor e compositor Renato Rosas, professor de canto da oficina, antecipa que haverá uma roda cantada com folias de santo, incluindo algumas inéditas: “Vamos tocar ‘Barcabeleira’ em homenagem a São Benedito, porque a gente sabe que nesse corredor da Boulevard e Ver-o-Peso tinha uma louvação para São Benedito. Vamos cantar ‘Santa Maria’, canção de Ronaldo Silva que gravei no meu disco de ‘Folias’, e também a canção ‘Mairí’, de Allan Carvalho, que mostra a ancestralidade da matriz indígena, que é muito forte”.
Júnior Soares avisa que o arrastão começa com a chegada da imagem da santa, sem hora marcada: “Começa quando quando ela desce da Romaria Fluvial e entra na Moto Romaria”. E Ronaldo completa que o arrastão também é um momento reflexivo sobre a preservação da natureza e o sentido sagrado da floresta. “A Virgem Nazaré é a Rainha da Floresta, é a nossa padroeira, a nossa esperança nesse momento difícil”.
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