Artistas se sensibilizam com o ecoar e movimento das águas e celebram Iemanjá

A reportagem pede licença para conhecer um pouco mais sobre a história de Iemanjá e das vivências e celebração de artistas paraenses

Bruna Lima
fonte

Chegou mais um 2 de fevereiro, dia de Iemanjá, orixá que inspira artistas a falarem de amor, de força da natureza, do feminino, da água e tantas outras mensagens. A reportagem pede licença para conhecer um pouco mais sobre a história dessa orixá e das vivências e celebrações de artistas paraenses como Gláfira, Jeff Moraes, Samily Maria, além da pesquisadora Eduarda Souza com o arquétipo religioso.

Em 2019, a artista paraense Gláfira fez o disco "Mar de Odoyá" em homenagem a Iemanjá. Ela começa a entrevista explicando que Odoyá é uma saudação a Iemanjá, pois muitas pessoas acham que se trata também do nome da orixá. Ela chega a exemplificar que esse tipo de saudação é feito antes de entrar no mar. "É muito dito Odoyá, minha mãe. É uma forma de pedir licença", explica a artista.

O disco todo fala de empoderamento feminino. Trata de histórias de mulheres e o título foi escolhido como forma de saudar todas as mulheres. "Eu escolhi o arquétipo de Iemanjá, pois se trata de um ícone feminino, se trata de uma mulher forte", destaca Gláfira.

Para fazer o trabalho visual do álbum, Glafira disse que por respeito às religiões de matriz africana preferiu não usar nenhuma imagem, mas sim fazer fotos próprias se baseando na orixá. "Eu fiz algumas pesquisas e o Viny Araújo, responsável por essa parte do trabalho, é da religião e disse que eu não poderia me vestir como a orixá, mas que poderíamos fazer referências e uma reverência", explicou a artista.

No dia da sessão de fotos, um fato curioso, Gláfira estava mudando o cenário e ao se deparar com uma lona azul teve a ideia de que seria legal usá-la como se fosse um manto. "A gente mexeu na lona e quando sacudimos ela se formou igual um vestido. Eu entrei nele, fizemos algumas amarrações e ficou incrível. A gente passou um dia inteiro nas fotos, mas as fotos usadas foram as que fizemos nessa fase final do ensaio, que foi um improviso", recorda.

Gláfira diz que a relação de Iemanjá vem do local onde nasceu, ilha do Marajó. É neta de pescador e tem relação direta com a água e natureza de um modo geral.

image Jeff Moraes

Jeff Moraes, que é cantor e ator, fez uma música chamada "Maiandeua", ao lado da cantora Naieme. A música fala de Iemanjá em suas diversas personificações. Eles estavam em Algodoal, em uma a maré cheia, quando tiveram a inspiração. A letra fala da relação que o povo tem com a força vital que rege a Amazônia. 

"Iemanjá tem uma influência muito forte na nossa região, pois além da água doce também estamos rodeados de água salgada e temos uma relação muito forte com a natureza em suas diversas perspectivas. Então Iemanjá é uma orixá que está muito perto da gente", explica Jeff.

Dança e documentário

Mas não é só por meio da música que os artistas celebram Iemanjá. A dançarina e carimbozeira Samily Maria resolveu se aventurar, em 2015, em vídeos-danças que traduzem o movimento da água em sua vida. O projeto se chama "Corpo- maré”, ela faz uma pesquisa como forma de mergulhar e se aprofundar nestes movimentos.

image Trecho do documentário "Zunzunzum do mar"

A dançarina é cria de Icoaraci, distrito de Belém rodeado por água, e o pulsar das águas é forte na vida da artista. Ela dança desde cedo e disse que sempre se sentiu tocada e emocionada pela vivência da dança com o ecoar dos tambores e com o som das águas. O trabalho de vídeo-dança acabou promovendo outro material, o documentário "Zunzunzum do mar", ao lado de Lu Peixe, com participação de Doné Nadir, mestra Maria Cristina, Marilu Campelo e Ila Falcão. O documentário foi aprovado no edital Vicente Sales da Fundação Cultural do Pará. 

" O 2 de fevereiro é uma oportunidade de acessar os meios de comunicação e receber os recados que vêm das águas". Nesta quarta (2) será divulgada a Playlist do documentário em todas as plataformas digitais e no dia 8 será lançado o documentário. 

A presença de Iemanjá nas religiões de matriz africana

Eduarda Souza é pesquisadora da área de antropologia da religião, ela atuou na pesquisa "Tem mulher no tambor. Uma etnografia do feminino entre a afro religiosidade e o carimbó em Belém", ela explica que a diferença da saudação ao dia de Iemanjá está vinculada ao sincretismo religioso católico. 

No dia 2 de fevereiro, a Bahia comemora por ser o dia da santa católica Nossa Senhora da Candeias. O candomblé baiano, as religiões de matriz africana da Bahia celebram em virtude do sincretismo com a Nossa Senhora da Candeias. Aqui na Amazônia é sincretizado com a Nossa Senhora da Conceição, dia 8 de dezembro.

O dia 2 de fevereiro acabou popularizando porque o candomblé tem  maior influência na Bahia, é como se fosse o berço principal, no Brasil, e tudo que vem de lá se torna referência para as religiões de matriz africana de modo geral. "Como lá eles celebram essa data acaba se entendendo que dia de Iemanjá é 2 de fevereiro e, na verdade, conforme as religiões foram se regionalizando e chegando nos estados de forma diferente foram celebradas de forma distinta", explica a pesquisadora.

Iemanjá foi ganhando várias perspectivas dentro das religiões de matriz africana, as religiões são colocadas no plural, pois elas são diversas, tendo seu berço na África e quando elas vêm para o Brasil com os negros na condição de escravizados ela ganha essa versão de candomblé na Bahia. Mas quando outra parte dos Africanos vêm para a Amazônia, eles encontram a pajelança indígena, o batuque e acaba nascendo uma nova versão.

"Iemanjá vai ganhando várias facetas conforme vai transitando nas regiões. No candomblé baiano ela é um orixá que se popularizou, considerado um orixá que molda a nossa cabeça. Nesse caso todos nós, segundo a religião de matriz africana somos regidos por Iemanjá, pois é ela que mora na nossa cabeça. Ela é a grande mãe de todos. Dos seios dela jorram águas que formam os oceanos, que jorram peixes que alimentam o mundo. Ela é uma orixá feminina e a grande mãe de todos", acrescenta a pesquisadora.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA