Artistas indígenas falam de suas artes de luta e resistência
Artistas como Márcia Kambeba, Moara Brasil e Daniel Munduruku usam da arte e da ancestralidade dos povos indígenas para fazer suas lutas
Os escritos, as canções, os traços e dentre diversas linguagens artísticas que marcam os povos tradicionais indígenas são peças e vozes que devem ser valorizadas não para se prender na existência, mas para reforçar a importância da luta e resistência que os povos originários enfrentam até hoje.
Artistas como Márcia Kambeba, Moara Brasil e Daniel Munduruku usam da arte e da ancestralidade dos povos indígenas para fazer suas lutas, mostrarem suas indignações e divulgarem suas belezas. A escritora, fotógrafa, atriz e cantora Marcia Kambeba explica de forma bem didática sobre a importância da valorização e também sobre o entendimento da data, pois por muito tempo as pessoas tratam o 19 de abril de forma incorreta.
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"Para nós Indígenas, o 19 de abril, que agora deixa de ser " dia do índio" e passa a ser " dia dos povos indígenas" por um projeto que foi aprovado pela CCJ. A Deputada Joênia Wapichana. É um dia que não se tem o que celebrar, é um dia para se refletir sobre as resistências que os povos vêm fazendo e enfrentando durante anos e décadas de presença no mundo. O abril indígena nasce com esse intuito de promover debates, manifestações de resistência. A cada dia uma aldeia é invadida, uma mulher indígena é violentada, um cacique ou liderança é morto por pessoas que visam a ocupação de suas terras", pontua Kambeba.
Por meio da literatura, os indígenas buscam pela força da caneta fazer resistência, adentrando instituições, universidades e escolas e demais espaços. Márcia Kambeba afirma que cresce cada vez mais o número de escritores indígenas " e isso é por demais significativo, se chama partilha de saberes", pontua a artista indígena.
"Ter indígenas nas universidades estudando, fazendo graduação, mestrado e doutorado é ganho de luta, porque eles podem contribuir com os saberes locais de seus povos e fortalecer a resistência por meio da ciência. Enfim, muita coisa vem acontecendo. Mas não podemos perder o foco de quem somos e de nosso legado. Estamos na cidade e nem por isso deixamos de ser quem somos pois a identidade é intrínseca ao ser humano. Nossa memória de lugar, de povo, nossa história de luta e resistência e nossa presença como povo originário deveria ser orgulho para o Brasil. E não nos ver como entraves do progresso. Quem tem memória, tem legado, tem história, sabe e valoriza a luta que nós indígenas temos. E ao sair da aldeia como eu saí com nove anos carrego comigo toda essa bagagem de legado e memória e lutas", acrescenta a escritora.
Ancestralidade
Toda essa ancestralidade e vivência fazem parte da arte de Kambeba. A produção dos seus trabalhos em diferentes ramos artísticos é uma forma de transformar os anseios e o ativismo em obras artísticas. No poema "Índio eu não sou" é possível verificar.
"Não me chame de “índio porque esse nome nunca me pertenceu. Nem como apelido quero levar. Um erro que Colombo cometeu.", diz a primeira estrofe.
Muitas das letras compostas por Marcia Kambeba se transformam em músicas, mesmo sem tocar nenhum instrumento de corda ela diz que consegue chegar a um resultado com linha melódica. E ela explica que de forma independente tenta chegar ao maior número de pessoas com a divulgação de sua arte.
Daniel Munduruku além de escritor é professor e não abre mão de retratar o Pará e a Amazônia em suas obras. Autor de 54 livros publicados por diversas editoras no Brasil e no exterior, a maioria classificados como literatura infanto-juvenil e paradidáticos. Ele diz que a data foi erroneamente tratada como dia do “índio”.
“Com essa alcunha índio, os povos originários do Brasil acabaram sendo colocados apenas como conceito único, uma visão única de mundo. E isso foi se espalhando, mas esse índio comemorado e celebrado não existe, é uma ficção. Além do viés romântico tem o viés ideológico, que é de colocar o indígena como escravo de um passado e um agente que atrapalha o progresso e o desenvolvimento do Brasil”, critica o escritor.
Nas artes visuais, a artista Moara Brasil está fazendo uma pesquisa sobre o etnocídio que a nação Tupinambá sofreu em todo o tempo de invasão. Ela Vai dar essa questão da plasticidade. “É um trabalho que envolve história, antropologia e a resistência indígena em contexto urbano”, explica.
Para expor suas lutas, a artista utiliza de multiplataforma como desenho, pintura, colagens, instalações, vídeo-entrevistas, fotografias e literatura para mostrar sua poética que percorre pela memória, identidade, ancestralidade, resistência indígena e pensamento anticolonial.
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