Aparelhagens de Belém: música, som e potência que movimentam a cidade
Além de entreter e marcar a cultura da periferia, DJs e proprietários dos equipamentos ressaltam a importância social e econômica das festas de tecnobrega
A cultura das aparelhagens de Belém tem registro desde os anos 80, onde surgiram as primeiras na capital e nos interiores. De acordo com o último levantamento da Associação Profissional das Aparelhagens Sonoras e Festeiros do Estado do Pará (APASEPA), existem cerca de 1000 aparelhagens cadastradas de pequeno e médio porte por todo o Pará, estado onde a tradição de iluminação, caixas de som coloridas e mascotes perduram há anos.
No último domingo (09), o tecnomelody paraense invadiu o festival Cosmic Spirit III, festival indiano realizado no estado de Goa, oeste da Índia. A música que agitou a multidão foi o hino da aparelhagem Mega Príncipe Negro, fato esse que viralizou nas redes sociais, chamando atençao de artistas consagrados no Brasil e no mundo.
O proprietário e criador da aparelhagem “Crocodilo”, o Dj Neto MT está aproveitando muito bem essa projeção. Ele conta que o “Croco” nasceu em 2013, no bairro do Jurunas. A ideia era trazer uma nova roupagem para o sistema de som, um símbolo que revelasse a força do Pará e o seu marcante tecnobrega. “Quem nunca ouviu uma pessoa de fora perguntar se tem jacaré andando no meio das nossas ruas? Foi por esse motivo que escolhemos o Crocodillo, que além de lembrar o jacaré, mostra toda nossa força”, disse ele ao relembrar que o “Animal” deu “bom dia” na Time Square - se referindo ao trabalho recente feito em parceria com a cantora Anitta e o DJ Pedro Sampaio, que foi mostrado nessa que é uma das mais movimentadas ruas do mundo.
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Além de divertir, a aparelhagem é propulsora não só do entretenimento, mas também de emprego e renda. Uma “porta de festa”, por exemplo, movimenta inúmeros profissionais como seguranças, vendedores de bebidas, o de copos personalizados, e até do tradicional churrasquinho. Ele explica que para fazer uma festa, cerca de 60 pessoas são utilizadas na montagem e desmontagem do evento, além das bandas participantes, cada um com um staff de cerca de 20 pessoas por atração.
Outra aparelhagem tradicional do Estado, o Tupinambá - também do bairro do Jurunas -, enfatiza a importância do movimento para a comunidade do entorno, onde faz festas que revertem em ajuda para as pessoas do bairro e prioriza o morador para compor a equipe, gerando renda para mais famílias.
O Super Pop New Generation também é consciente da sua importância no cenário musical. Nascido e criado no bairro do Guamá, em 1987, começou seu trabalho no mês de dezembro daquele ano, tocando em aniversários, festas de 15 anos e casamentos. “Nessa época já fazíamos o trabalho social, pois o Sr. Elias Carvalho (criador da aparelhagem) não cobrava nos eventos para famílias que não tinham condições de custear. O intuito sempre foi a satisfação de ajudar e levar alegria e ver seu aparelho de som tocar”.
“O Super Pop é uma aparelhagem que contribui com o social por meio de doações em todas as campanhas que somos procurados. Disponibilizamos toda a nossa infraestrutura de equipamento de som, luz e iluminação para realização de eventos filantrópicos a fim de arrecadar fundos para famílias em vulnerabilidade”.
Além disso, a produtora da aparelhagem Crocodillo, Carla Carvalho, diz que sempre disponibiliza sua frota e seus funcionários para ajudar a população, como: cortejos, mudança de famílias carentes, sinistros, arrecadação de alimentos, roupas e outros.
A empresa também dá preferência para que seus empregados sejam do mesmo bairro onde pertence a sede: o Guamá. “Nossos empregados são 50% do bairro e de outros bairros vizinhos, mas também empregamos pessoas dos municípios como Mosqueiro, Barcarena, Benevides e Benfica”, complementou Carla.
As aparelhagens são o símbolo de festa na cidade, e garantem que - além de presentear Belém com entretenimento -, projetos sociais sejam criados e empregos sejam gerados, espalhando por aí o que o povo paraense tem de melhor: a alegria e a tradição festeira que o Belemense carrega.
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