Ana Cañas lança álbum autoral ‘Vida Real’; saiba quem são os convidados
Disco chega com 11 faixas que versam sobre verdades e mentiras, encontros e desencontros na estrada de cada um

Os versos são sugestivos, bem construídos, envolventes e também cortantes, desconcertantes, a ponto de provocar reações em cadeia, desde um tom lírico até algo mais metafísico. Tudo ao som básico de um violão, baixo, percussão e muito trabalho de vocal e carisma, contando, inclusive, com vozes convidadas. Assim surge o novo álbum da cantora e compositora paulista Ana Cañas, intitulado “Vida Real”, acessível nas plataformas digitais a partir desta sexta-feira (4). O título tem tudo a ver com Ana, uma pessoa que se entrega de corpo, alma e ... voz em cada uma das 11 faixas inéditas do disco, em que ela faz dueto com Ney Matogrosso (“Derreti”), Ivete Sangalo (“Brigadeiro e Café”) e Roberta Miranda (“Amiga, se liga”), entre outras atrações. Em entrevista com o Grupo Liberal, Ana conta tudo que cerca o novo trabalho, essa ‘Vida Real” essencialmente poética, musical, surpreendente e também desafiadora.
O álbum começou a ser gestado, mas, na pandemia da covid-19, Ana fez uma live interpretando canções do saudoso compositor cearense Belchior (1946-2017). Com o impacto da apresentação no público, ela mergulhou no projeto do disco e show “Ana Cañas Canta Belchior”. “Eu não cantei o Belchior, eu vivi o Belchior por quatro anos, com muito orgulho, com muita alegria, mas, agora, chegou o momento de eu retomar o autoral. São sete anos desde o meu último disco autoral, o ‘Todxs’, de 2018”, pontua. Ana diz que aprendeu com Belchior a dizer a verdade, acima de tudo.
“Várias vezes, porque foram 180 shows, dificilmente eu fiz um show do Belchior em que eu não chorei, me emocionei em cima do palco (ela veio duas vezes em Belém com o show ‘Ana Cañas Canta Belchior”). Dentro desse show, tinha um momento em que eu contava a minha história, que era dentro da canção “Fotografia 3x4”, e isso começou a ser uma parte muito importante do show, no sentido psicanalítico, de cura e de assumir mesmo a minha identidade”.
“A coisa que eu estava mais buscando na arte aconteceu dentro do show do Belchior, porque eu contava das minhas dificuldades, que eu saí de casa cedo, que eu morei num pensionato com várias profissionais do sexo e elas dividiam um prato de comida comigo, eu dormia num quarto sem janela com um monte de rato no teto, eu distribuía panfleto no farol para sobreviver e foi assim que eu me tornei cantora”, ressalta a artista.
Ana começou a cantar nos bares para sobreviver. Ao contar essa história no show, ela entendeu, a partir da reação emocionada que a plateia tinha que “eu não estava contando a minha história, estava contando a história de todo mundo que vai no show”. Isso porque, como ela frisa, todo mundo passou por alguma dificuldade, necessidade, altos e baixos, porque a vida real é isso”. Daí, surgiu o novo disco de Ana Cañas.
À flor da pele
As canções do álbum são muito biográficas, canções que falam sobre o falecimento do irmão dela, canções relacionadas a ex-namorados. “Então, esse disco é um retrato dos últimos dez anos da minha vida e o amálgama do conceito do disco foi, como diz o Oscar Wilde, ‘a beleza é a verdade e a verdade é a beleza’ “. A canção título do álbum, “Vida Real”, é fruto da influência de Belchior e autores como Bob Dylan, que era muito admirado pelo próprio compositor cearense e é curtido por Ana.
Sobre a canção "Vida Real", de janeiro de 2024, Ana diz: “Ela é super autobiográfica. E eu fico muito feliz quando as pessoas dizem para mim: ‘Essa canção tem uma cara de Belchior, de Raul Seixas, de Bob Dylan, de Zé Ramalho, porque eles são minhas referências”, afirma Ana.
E Ana fez um disco com músicas autorais, autobiográficas e uma pegada pop, com sentido radiofônico. Isso se explica pelo fato de Ana ser fã de pop: Lulu Santos (tem uma referência a ele na faixa composta com Nando Reis, “O Que Eu Só Vejo em Você”), Skank, Marina Lima, Rita Lee e outros. Ele foi em busca de fazer canções pop que não soassem superficiais. Quando se ouve o disco, descobre-se que deu tudo certo. Ana declara que nos shows que fez em Belém vibrou com a energia positiva do público.
Canções da vida
Um fato interessante no disco. A canção “Vai passar” foi gravada nas últimas duas semanas de encerramento da gravação do álbum. Ela não estava no disco, mas Ana decidiu gravá-la. É uma canção que fez para um amigo dela que tirou a própria vida, há dois anos. E uma médium que mora em Belo Horizonte (MG), que costuma assistir aos shows da cantora, e, em um show recente em BH, falou para Ana sobre um espírito de nome Guilherme que a tinha procurado para falar de uma canção que a compositora tinha feito para ele. “Eu fiquei muito impactada, porque eu sou espírita. Eu acredito muito nisso, e não tinha como ela saber disso, ela não sabia dessa história do Guilherme”, conta. A médium disse que ele pede para Ana cantar a música para ele, porque faz bem para ele no plano espiritual. E aí, Ana começou a cantar a música para ele em casa. E pensou que se gravasse, a canção poderia alcançar mais pessoas. E, então, a canção está no disco.
O álbum traz músicas como “Derreti”, uma canção saborosamente sensual em dueto com Ney Matogrosso, amigo e oráculo da cantora. Era originalmente uma balada lenta e foi transformada em um latin pop que tem ecos de “Mania de Você”, da inesquecível Rita Lee, de quem Ana é fã.
Outras duas mulheres admiradas por Ana são Ivete Sangalo e Roberta Miranda. Roberta, como frisa Ana, foi a primeira compositora no universo da música sertaneja a estourar, a ser ouvida, fruto de toda uma luta dela. Ana diz ter muita coisa em comum com Roberta: filha de um dependente de álcool e a luta no feminismo. Já Ivete tem uma conexão muito forte com o público dela, “é um sol na vida da gente”. “Muito vida real para mim’, diz Ana. Ivete e Roberta têm muito a ver com as canções que cantam com Ana, como a cantora aponta.
A música em dueto com Roberta Miranda fala de uma relação entre uma mulher e homem casado, experiência vivida por Ana, que pretendia gravar a canção com a saudosa Marília Mendonça, cantora que falava de assuntos espinhosos. Como diz Ana Cañas, “Vida Real” fala da verdade de cada um e, assim, se mostra interessante para quem quer se conhecer mais e seguir em frente.
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