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'Acabou Chorare': Novos Baianos eletrizam os sons da floresta em Belém

Grupo faz show na cidade e pretende vibrar junto com a plateia no festival Se Rasgum, no espaço Na Bêra, neste sábado (14)

Eduardo Rocha
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Na Floresta Amazônica, existem muitos sons que se propagam na imensidão desse bioma, mas também se encontram com outros que chegam para realçar ecossistemas variados, inclusive, o dos seres humanos apreciadores da música de qualidade daqui e de fora da região. Assim, o retorno do grupo Os Novos Baianos a Belém, quebrando um hiato de 51 anos após a última apresentação em 1973, credencia-se como um grande momento musical em 2024 e para os próximos anos. Isso porque a brasilidade do grupo já encantou e encanta gerações, incluindo o mago do violão, o também baiano João Gilberto, que inventou a batida da Bossa Nova, e continua a dar frutos. Os Novos Baianos vão tocar na terra de Ruy Barata, Dona Onete, Bruno de Menezes, Fafá de Belém, Waldemar Henrique, Nilson Chaves, maestro Isoca e Lucinnha Lins, entre tantos outros sons, a partir das 23h40, no espaço Na Bêra, no bairro da Cidade Velha, neste sábado (14).

Em entrevista ao Grupo Liberal, Paulinho Boca de Cantor, fundador, letrista e vocalista da banda, conta um pouco da trajetória dos Novos Baianos e fala sobre o que o público vai assistir neste sábado. Como ele conta, em 2016, os Novos Baianos foram convidados (após se separarem em 1979) para reinaugurar um espaço estrutural na vida cultural de Salvador (BA), a Concha Acústica do Teatro Castro Alves, e não parou mais de fazer shows. Assim, Belém vai conferir o show "Acabou Chorare: os Novos Baianos se encontram". Logicamente, Paulinho lamenta muito a perda de Moraes Moreira e Galvão. A formação inicial básica dos Novos Baianos envolvia Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, Baby Consuelo (hoje, Baby do Brasil) e Pepeu Gomes. O baixista Dadi Carvalho integrou o grupo. A banda tem, inclusive, se apresentado em vários festivais. 

Para esse show em Belém, os Novos Baianos trazem o repertório do "Acabou Chorare", disco premiadíssimo da banda. Só para se ter uma ideia: em 2007, uma enquete da Revista "Rolling Stone" elegeu esse disco como o melhor feito no Brasil em todos os tempos. Em junho último, a revista norte-americana "Paste Magazine" elegeu dois discos brasileiros na lista dos 300 melhores do mundo. "E nós estamos lá na lista, nós e o 'Clube da Esquina' (de Milton Nascimento e Lô Borges). A gente fica muito feliz pelo trabalho ser duradouro, ter um público jovem, um trabalho que não é nosso, já é do povo brasileiro", diz Paulinho.  

Nas apresentações, o público canta junto com os músicos sucessos como "Preta, Pretinha", "Brasil Pandeiro", "Mistério do Planeta", "Dê um Rolê", "Samba da Minha "Terra" e "Suingue do Campo Grande". Em um meio spoiler de Paulinho, no final de "Acabou Chorare" no show "tem um momento muito emocionante". Desse modo, a banda vai reunir no palco, em Belém, a Família Gomes (Jorginho, Didi); Pedro Baby, filho de Baby e Pepeu; dois percussionistas; e Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor. Paulinho diz que dar continuidade ao trabalho do grupo funciona como uma homenagem a Moraes Moreira e Galvão. "Belém pode esperar o melhor da gente, uma festa inesquecível", ressalta Paulinho. 

Os Novos Baianos inventaram uma grande e diferente família. Paulinho conta que conheceu Moraes Moreira e o poeta Galvão em Salvador (BA) em 1968. Foi uma identificação muito grande entres, como conta Paulinho, que já cantava naquela época. Moraes e Galvão pretendiam ir mostrar canções para artistas no sul do país, e o compositor Tom Zé sugeriu que também fossem junto Paulinho e Baby do Brasil. Naquela época, o grupo chegou a fazer um show intitulado "Desembarque dos Bichos depois do Dilúvio Universal". No Rio de Janeiro, tiveram contato com o produtor João Araújo, que vem a ser o pai do inesquecível cantor e compositor Cazuza. João os levou para São Paulo, onde fizeram o primeiro disco "Ferro na Boneca". 

Uma das músicas desse disco foi selecionada para o Festival da TV Record, nos anos 60. "A música passou a tocar no rádio, mas na hora de chamarem a gente para defendê-la no festival, alguém gritou: 'Olha, segura esses Novos Baianos!', para diferenciá-los de outros baianos do Tropicalismo. Os músicos gostaram do nome e ele ficou. Eles iniciaram a carreira, e, depois de um tempo, João Araújo os chamou de novo para a inauguraçao do Selo da Som Livre. E foi nessa gravadora que surgiu o álbum "Acabou Chorare", de 1972. 

Agora, inclusive, os Novos Baianos pensam em relançar o disco "Futebol Clube". Sobre o "Futebol Clube", Paulinho conta que a banda esteve em Belém em 1973 e tomou de 5x0 de um time da capital do Pará. Isso porque os Novos Baianos tinha um time desse esporte e quando faziam shows pedia um espaço para enfrentar uma equipe da cidade. "Mas dessa vez a gente vai revidar, vamos dar uma goleada de 100x0, com música muito boas e momentos muito felizes, no espaço Na Bêra, dia 14, no festival Se Rasgum", diz Paulinho.

João

Os Novos Baianos têm um caldeirão de ritmos embalados pela guitarra hendrixiana de Pepeu Gomes, como diz Paulinho, acrescentando o tom Janis Joplin da cantora Baby do Brasil, o clima malandro brasileiro e também rock and roll de Paulinho Boca de Cantor e o jeito mais rural de Moraes Moreira.  

"O grande lance dos Novos Baianos foi quando nós encontramos o grande mestre, o grande guru da música brasileira, digo guru, porque é guru de todos, de Caetano Veloso, de Gilberto Gil, e todos os grandes artistas acham que esse artista é o mais importante da música do Brasil, que é o baiano João Gilberto, o inventor da Bossa Nova", enfatiza Paulinho Boca de Cantor. João gostou da música dos Baianos, "uma banda em casa", e sugeriu que eles fizessem uma mistura de sons (brasilidade).

image João Gilberto e filha Bebel: histórias com a turma dos Novos Baianos (Foto: Reprodução)

'Acabou Chorare'

Ao regressar do México, João Gilberto chegou, certa vez, ao apartamento dos Novos Baianos em Botafogo, no Rio, com a filha Bebel Gilberto, ainda bem pequena e se adaptando ao idioma português. Ela tinha arranhado o joelho e ficava indo e vindo junto ao pai que tocava com os Baianos, até que chegou uma vez e disse: 'Acabou Chorare', dizendo que não tava chorando mais. E no outro dia, Luiz Galvão ligou para João Gilberto que estava com o poeta Capinam. 

No meio da conversa sobre uma abelha no local, Capinam disse que a abelhinha faz zum zum e mel. Galvão aproveitou também essa expressão na letra de "Acabou Chorare", com música de Moraes Moreira. A canção também virou um hino no contexto da Ditadura Militar. Como nunca se banha duas vezes no mesmo rio, o show dos Novos Baianos no Se Rasgum é um convite e tanto para que não abre mão de sonoridades ancestrais no Brasil. 

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