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A magia do Circo continua viva no Brasil, muito além do picadeiro

No Dia Nacional do Circo, artistas provam que arte ainda encanta, no picadeiro ou fora dele

Enize Vidigal e Ana Carolina Matos
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"O circo está em constante transformação", afirma a pesquisadora Virgínia Abasto, proprietária da Escola Vida de Circo, que dá aulas de várias técnicas para pessoas de todas as idades, inclusive, instrutores de pilates e de dança e outras pessoas que almejam melhorar a forma física, especialmente aumentar a performance e a força e a resistência física.

Neste Dia Nacional do Circo, comemorado nesta quarta-feira, 27, Virgínia, que é a principal referência em conhecimento sobre a arte circense, em Belém, afirma que o circo, ao longo da história foi se "ressignificando, reestruturando e revitalizando, mas não morreu". Hoje, vários grupos artísticos apresentam espetáculos que misturam atividades circenses com dança, teatro e poesia, como o Projeto Vertigem, Palhaços Trovadores e Notáveis Clowns. Porém, nada que efetivamente suplante o encantamento do tradicional circo de lona, formado por trupes viajantes.

"A tradição, a arte e a cultura não são estáticas ou herméticas. Muito pelo contrário. Quem estudar o circo em sua origem, seu desenvolvimento e os lugares em que se manifesta, vai entender que o circo vai criando diferentes formas. O circo sempre vai se renovar, é característico dele. Nós já tivemos no circo a contação de novelas, antes da televisão. Quando os ciganos e saltimbancos vendiam coisas nas ruas, também faziam circo. O Circo dos Horrores apresentava pessoas consideradas diferentes, como a mulher barbada. Sempre existiu o perna de pau em porta de loja, artistas circenses em vários locais. Sempre tivemos circos itinerantes. A maior renovação do circo nos últimos anos foi o surgimento de escolas de circo tanto sociais (como da Fundação Curro Velho), quanto profissionalizantes", descreve Virgínia, que é pedagoga, especialista em gestão cultural, técnica em Treinamento Físico e mestre em Arte pela UFPA.

Marina Trindade, do Projeto Vertigem, descreve as "interseções" das técnicas circenses com outras artes como uma fase natural impulsionada pelos artistas e pesquisadores. "O circo tradicional não vai deixar de existir. Apenas existem formas diferentes de fazer e de difundir a arte", afirma.

Em 2017, o Vertigem circulou pelo país com o espetáculo "Trunfo", que foi contemplado pelo Prêmio Carequinha, da Funarte. Na opinião dela, as novas formas de entretenimento digital, bem como a proibição da exploração de animais nos picadeiros, levaram o circo a se adaptar com a inclusão de números fantásticos como o Globo da Morte em substituição aos antigos domadores de leões e também o uso de recursos tecnológicos nos espetáculos.

"O circo tem a coisa onírica de colocar a plateia diante do limite da vida. Você vê as pessoas 'voando', carregando coisas pesadas, fazendo números de equilíbrio, contorcionismo, mágica e outras coisas incríveis. Hoje, a técnica (circense) se tornou mais o meio de poetizar e de trabalhar, do que o fim", diz Marina. Ela é professora de dança, mestranda em Artes na UFPA e colaboradora da gestão do Casarão do Boneco.

Novas atividades nascem inspiradas no circo

As atividades circenses têm conquistado cada vez mais adeptos, por conta das "várias modalidades que trazem diferentes benefícios". De acordo com a pesquisadora Virgínia Abasto, praticantes de outras modalidades buscam no circo uma maneira de reforçar a saúde física e mental. "Tenho alunos com 20 a 30 quilos de sobrepeso, e massa magra sem força devido ao alto nível de sedentarismo, profissionais da dança e ginástica que me procuram para ter mais flexibilidade ou melhor rendimento e performance, inclusive alunos de cross fit e pilates", destaca ela, que ensina acrobacias aéreas e, dentro dessa especialidade, tecido, corda, trapézio e lira (aro); acrobacias de solo (salto, rolamento); malabares; pernas de pau; monociclo e "slackline" (equilíbrio na fita).

image Yure Almeida Martins leva a magia do circo para festas particulares e para as ruas com a Cia. Nós Tantos (Divulgação)

Apesar disso, Abasto avalia que os belenenses ainda têm concepções equivocadas a cerca da arte do circo. "Em Belém, ainda falta as pessoas perderem o preconceito. Não conhecem os benefícios do treinamento do circo e não conhecem espaço para treinar. Não se tem o hábito, como fazer pilates e cross fit", compara.

"As pessoas que treinam ou já treinaram dificilmente param por não gostarem. Além de conseguir melhor performance cardiovascular, de respiração e coordenação motora, tem também grandes vantagens quanto à concentração, parte física, resistência e força", pontua.

Há dez anos, Yure Almeida Martins, de 30 anos, montou a Cia. Nós Tantos, ao lado do irmão e de um amigo, já falecido. O grupo, que hoje conta com a participação de outros artistas circenses, leva a magia do circo para dentro de festas de aniversário, de empresas e também faz apresentações na rua, dentro e fora do Pará.

"Nós fazemos vários tipos de número de circo. Temos espetáculos e mini espetáculos e a gente faz tanto apresentações mais simples, como também espetáculos completos em festa e eventos", explica Yure, que além de trabalhar com o circo, é professor de História e cursa Educação Física.

O artista circense conta que as apresentações passaram por uma reformulação, já que saíram do ambiente "comum", com a tradicional lona e picadeiros circenses, para locais diferentes. "Nossa apresentação é pautada em teatros de rua e comicidade, então a gente pesquisa coisas de circo tradicional e adequa. Quando você utiliza as técnicas de circo fora do local natural, você tem que trazer uma nova roupagem pra que funcione fora do picadeiro", explica.

"A maior diferença é o local. No circo profissional, tem um picadeiro, você tá naturalmente mais visível para o público e há uma parte em que não há plateia. Já no teatro de rua você tá envolto de público, quando tem que falar, tem que se direcionar pra todos os lados", acrescenta.

Além da palhaçaria, Yure conta que outras técnicas circenses são usadas nas apresentações do grupo que conta com artistas que, em sua maioria, têm formação em teatro e circo de rua. "A gente trabalha a partir da palhaçaria, do teatro de rua, do circo de rua, que também é uma linguagem. Nós somos palhaços, temos formação de palhaçaria, de circo, de rua e nós adequamos isso pra uma coisa que é chamada de apresentação performer. Dentro do palhaço, desenvolvo outras técnicas de circo, como malabarismo e acrobacias coletiva, que é com o público", destaca.  

A companhia já recebeu o Prêmio Agente Jovem de Cultura do Ministério da Cultura e Premio Funarte Petrobras Carequinha de Estímulo ao Circo 2012-2013. Com o solo "Espetáculo de um homem só", o grupo recebeu, em 2018, o Prêmio Seiva Pauta Aberta da Fundação Cultural do Estado.

Serviço:

Aulas da Escola Vida de Circo para crianças de 7 a 12 anos (acrobacias de solo e aéreas)
Início: Sábado, 6/04, de 9h às 10h30 (aulas sempre aos sábados)
Endereço: Casarão do Boneco (Rua 16 de Novembro, 815, Batista Campos)
Inscrições pelo (91) 98118-7916
Valor R$ 150

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