COP 30 em Belém: audiência no Senado discute preparativos para evento
Representantes de todos os âmbitos do poder Executivo apresentaram aos Legislativo que está sendo feito para receber o evento
Representantes dos governos municipal, estadual e federal detalharam nesta terça-feira (23/04), em uma audiência na Comissão do Meio Ambiente do Senado, todas as ações que estão em curso para preparar a cidade de Belém para receber a 30ª Conferência do Clima sobre Mudanças Climáticas (COP 30). O evento, que acontece entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025, deve reunir cerca de 50 mil pessoas de diversas partes do mundo na capital paraense.
Assista na íntegra:
O debate foi conduzido pelo senador Beto Faro (PT), que propôs a audiência, e contou com a participação de Ana Toni, secretária nacional de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente; de Liliam Beatris Chagas de Moura, diretora do Departamento de Clima do Ministério de Relações Exteriores; de Valter Correia da Silva, Secretário Extraordinário da COP 30 pela Casa Civil da Presidência da República; e da vice-governador do Pará, Hana Ghassan; entre outros.
Cláudio Puty, coordenador do comitê organizador da COP 30 no âmbito municipal, detalhou que o investimento previsto representa um aumento de 20 a 30 vezes nos recursos aplicados em obras na cidade. "Além de toda a dimensão política, a COP 30, de maneira concreta para Belém, representa esse aumento exponencial da taxa de investimento público em obras na cidade. E isso, por si só, já tem um impacto muito relevante para o nosso município, de emprego e geração de renda", destacou Puty.
VEJA MAIS
Para o gestor, a exposição da capital paraense para o mundo também possibilita tratar de questões estruturais, como o transporte público na Região Metropolitana de Belém. "Há uma grande iniciativa para a renovação da frota de ônibus. Nós tivemos uma operação de crédito aprovada ontem, junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para compra de ônibus Euro 6 (com baixa emissão de gás carbônico) e também de ônibus elétrico", destacou Puty.
Ele acrescentou que cerca de 50% das emissões de gases do efeito estufa em Belém são oriundas da queima de combustíveis fósseis. "Essa mudança da matriz energética traz desafios para cidades como a nossa. Enquanto um ônibus elétrico custa 3 milhões, um movido a óleo diesel custa de R$ 800 mil a R$ 900 mil, por exemplo. E em uma região tão sensível quanto a Amazônia, de características urbanas e de vulnerabilidade, precisamos enfrentar esses problemas”, disse Puty.
Gargalo
Um dos pontos de maior destaque durante o debate foi sobre a capacidade hoteleira de Belém. O assunto foi aprofundado pelo Secretário da COP 30 pela Casa Civil, Valter Silva, que elencou a hospedagem como um dos pontos críticos na preparação da COP em Belém. Na avaliação do gestor, embora a cidade possua uma quantidade razoável de acomodações, há uma grande falta de hospedagem de alto padrão para acomodar chefes de estado e delegações. Como solução, ele destacou o uso de navios transatlânticos para servir como hospedagem temporária.
“Estamos trabalhando intensamente junto com o governo do estado e o município para mitigar essa fragilidade. Para trazer esses navios, precisamos fazer uma dragagem no rio. Estamos fazendo agora uma sondagem e, ao término, precisamos de uma licitação para fazer essa dragagem. Esse processo demora praticamente todos os 18 meses que teremos pela frente. Estamos correndo no limite das nossas forças para poder viabilizar para que tudo isso aconteça”, disse Valter.
A vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, que preside o Comitê Estadual para a COP 30 em Belém, destacou experiências exitosas quanto à estratégia de utilizar navios de cruzeiro como meios de hospedagem, citando como exemplo, a Copa do Qatar em 2022 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2026. Além disso, ela acrescentou que o governo do estado fez um protocolo com a plataforma Airbnb para mapear imóveis que possam ser incluídos na plataforma.
“Em poucos meses, já conseguimos dobrar o número de imóveis no Airbnb em Belém. Além disso, temos outras soluções como alugueis de temporada e também estruturas modulares como hospedagem. O governo do estado está trabalhando em conjunto com o governo federal e o governo municipal em todas as soluções. Já passamos da fase de estudos, agora são ações concretas para ampliar o número de leitos na nossa capital e assim receber os nossos participantes”, afirmou Hana.
Confirmação
O senador Beto Faro avaliou a audiência como extremamente positiva.Ele afirmou que o momento serviu para confirmar e garantir que Belém e o estado do Pará estarão prontos para receber participantes de todo o mundo que discutirão questões climáticas importantes. “Muito se falou sobre a capacidade de Belém para sediar a COP 30. Essa foi uma oportunidade para dissipar incertezas e assegurar que todas as preparações estão no caminho certo”, pontuou o senador.
Faro também defendeu a criação de uma comissão no Senado para acompanhar de perto a COP 30. Ele afirmou que o assunto já está sendo discutido e que ela seria fundamental para garantir que o Senado esteja envolvido e informado sobre todos os aspectos da preparação e realização do evento. “A comissão teria o papel de participar mais ativamente dos debates e questões relacionadas à COP, integrando esforços do governo federal, estadual e municipal”, explicou.
Liliam Moura, do Ministério de Relações Exteriores, defendeu que a localização da conferência é secundária em relação ao contexto histórico e aos desafios científicos do momento. Elas citou que cidades de diversos portes, como Katowice na Polônia e Glasgow na Escócia, já sediaram eventos semelhantes, demonstrando que o impacto não depende do tamanho da cidade, mas das decisões tomadas durante o evento. “Belém tem todas as credenciais para a COP”, reforçou Moura.
COP das pessoas
Mauro Ó de Almeida, secretário de Meio Ambiente Pará, defendeu que a realização da COP em Belém, será uma experiência única, uma vez que o evento focará nas pessoas: indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos. Será uma experiência diferente de outras, mais pasteurizadas, mas inacessíveis para a população. Penso que essa COP terá que ser um evento acessível para a população, com debates para além das pautas já coordenadas e comandadas pela ONU”, disse.
Valter acrescentou que a importância do evento não reside na quantidade de participantes, mas na qualidade do conteúdo e nos acordos alcançados que possam influenciar positivamente o futuro do clima mundial. Ele finalizou reforçando o compromisso de garantir que todas as representações, não apenas através de delegações, mas também as sociais, estejam presentes no evento. “Nosso objetivo é estabelecer um padrão de qualidade para futuras conferências”.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA