Agricultores familiares do Pará se preparam para fornecer insumos para a COP 30

Iniciativas da Seaf e Emater impulsionam cerca de 300 mil pequenos produtores no Pará

Agência Pará

Kleiton Souza Rodrigues é um dos 300 mil agricultores familiares do Pará que podem fornecer insumos para a produção de alimentos aos participantes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que acontece em novembro de 2025, em Belém. Ele trabalha na roça em uma comunidade quilombola de Nossa Senhora de Fátima do Crauateua, em São Miguel do Guamá, e vive a expectativa de parte da sua produção compondo as refeições que vão alimentar mais de 20 mil pessoas no maior evento sobre o clima do mundo.

“Eu me sinto privilegiado de poder contar com esse apoio, ser reconhecido por toda uma dedicação, toda uma história e toda uma luta que a gente, como povos tradicionais, estamos trazendo com nossa ancestralidade. Eu reconheço que é um privilégio poder participar (da COP 30)”, comemorou o agricultor quilombola.

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O Governo Federal anunciou que insumos produzidos por agricultores familiares serão comprados para atender às necessidades alimentares da COP 30. No Brasil, a agricultura familiar é uma importante fonte de emprego, com mais de 10 milhões de pessoas envolvidas. Esta medida visa não só apoiar a economia local, mas também destacar a qualidade e a diversidade dos produtos agrícolas do Pará. No Estado, são cerca de 300 mil agricultores familiares.

Kleiton e sua família fazem parte de uma das 86 comunidades quilombolas que se estendem por todo o nordeste paraense, de Santa Izabel até Cachoeira do Piriá – fronteira com o Maranhão. São cerca de 640 famílias e 40 mil pessoas que se dedicam  à agricultura familiar, produzindo mais de 60 tipos de insumos como açaí, milho, mandioca, jambu, chicória, cheiro verde (coentro), frutas, mel e legumes. Toda essa produção é responsável por 70% de todo alimento consumido pelos brasileiros, além de a agricultura familiar ser a principal fonte de emprego no campo, representando 67% das ocupações rurais, de acordo com os dados do IBGE.

image (Alex Ribeiro / Ag. Pará)

Preparação para a COP 30 

À medida que Belém se prepara para sediar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) em novembro deste ano, a relevância das políticas ambientais e seu impacto nas comunidades rurais ganham destaque. Este evento internacional não apenas discute desafios globais, mas também celebra e integra soluções locais, especialmente da agricultura familiar, crucial para a sustentabilidade regional e a segurança alimentar.

Cássio Pereira, secretário de Estado da Agricultura Familiar do Pará (Seaf), enfatiza a oportunidade única oferecida pela COP 30: "Basta lembrar que 70% do que é produzido vem da agricultura familiar e que durante a COP 30 o maior divulgador dos produtos será a nossa culinária extremamente conhecida e desejada pelos participantes, e precisamos informá-los que todos ingredientes vêm de áreas da agricultura familiar, como é o caso do tacacá, pato no tucupi, farinha, tapioca e beiju, todos derivados da mandioca, principal produto da agricultura familiar".

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Outro ponto destacado pelo secretário da Seaf é a vocação do Pará para a bioeconomia. Produtos de alta qualidade produzidos por comunidades tradicionais, como o chocolate e cacau da ilha do Combu, ficavam basicamente no consumo interno, mas se tornaram expoentes da cultura alimentar paraense.

“Isso vale também para outros produtos como cacau/chocolate, cupuaçu, açaí, bacuri e castanha-do-Pará, que vêm das áreas de floresta das nossas comunidades tradicionais. Isso vai abrir novos mercados consumidores e valorizá-los impulsionando nossa economia”, ressaltou Cássio Pereira.

Vitrine 

Em Benevides, que fica na região metropolitana de Belém, o produtor Sidney Paula da Luz, conhecido na região como Paulo da Horta, é um dos beneficiados pelo programa de incentivo e assistência técnica promovido pelo Governo do Pará. Produtor há mais de 30 anos e com mais de 25 variedades de insumos regionais, Paulo da Horta acredita que a possibilidade de ter seus produtos comprados para a produção das refeições aos participantes da COP 30 é mais uma forma de valorização do pequeno agricultor.

"Participar da COP 30 é uma vitrine incrível, aumentando não só a visibilidade dos nossos produtos, mas também o reconhecimento da nossa cultura agrícola", afirma Sidney, que fornece desde hortaliças até frutas regionais como cupuaçu e açaí.

image (Alex Ribeiro / Ag. Pará)

Para participar de programas de compra de insumos, agricultores como Sidney precisam estar inscritos no Cadastro Nacional de Agricultura Familiar e buscar assistência técnica fornecida por entidades como a Emater, que os orienta sobre melhores práticas agrícolas e acesso a recursos.

Investimento 

De acordo com Anderson Serra, diretor da Seaf, o Governo do Pará tem investido em várias frentes, que vão desde a necessidade da regularização fundiária, para que os agricultores sejam inseridos nas políticas públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), até o fomento e assistência técnica rural.

“Há um compromisso que sejam comprados dessas famílias, agricultores e comunidades tradicionais, que têm uma grande diversidade produtiva, qualidade da produção. São alimentos saudáveis e em grande parte livres de agrotóxicos", ressaltou.

E o reflexo de todas essas ações de capacitação e incentivo aos agricultores familiares do Estado do Pará já é evidenciado na comunidade quilombola de Santa Rita do Crauateua. “Nós formamos a cooperativa para alavancar a produção quilombola. Temos três anos de existência e já estamos comercializando pelo PNAE, PAA Conab. Já estamos com 30 famílias sendo beneficiadas diretamente pela cooperativa, que têm suas produções comercializadas de forma mais organizada e incentivada”, contou Antônio Baía Araújo, presidente da Cooperativa Quilombola do Nordeste Paraense Agricultura Familiar e Agroecologia (Cooquinopafa).

“A chegada da COP é muito importante para que possam ver a realidade de nosso território quilombola. Já escutei que os territórios quilombolas não têm produção, isso é uma grande mentira. Produção temos, o que precisamos ainda mais é de investimentos e a presença de técnicos para desenvolver junto conosco, coletivamente e trocando saberes”, completou.

Em sua propriedade familiar, Antônio Baía cultiva diversos insumos amazônicos e também emprega técnica de piscicultura na criação de 1.700 unidades de tambaquis e tilápias. Segundo ele, os quilombos do nordeste do Estado trabalham de forma coletiva e colaborativa dentro de um território previamente demarcado pelo Estado e devidamente registrado em cartório, gratuitamente, dando segurança jurídica às famílias quilombolas.

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