Ações do governo Trump ameaçam acordos na COP 30, avaliam cientistas políticos
Sinalizações atuais do presidente americano indicam um cenário de menor impacto na agenda do encontro
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As últimas ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já sinalizam possíveis impactos durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), prevista para ocorrer entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém. Cientistas políticos de Belém avaliam que as atitudes recentes do presidente americano ameaçam a pauta ambiental, central no evento, e enfraquecem a possibilidade de acordos e arrecadações para ações práticas entre os países. A cientista Karen Santos destaca entre essas ações a saída do Acordo de Paris e o incentivo à exploração de combustíveis fósseis.
A tensão em torno das negociações da conferência aumenta à medida que Trump se posiciona contrário à agenda ambiental, afirmando um interesse em investir na exploração de combustíveis fósseis, por exemplo. A cientista política enfatiza que o país norte-americano desempenha um papel central nas negociações, já que possui uma capacidade grande de impor uma agenda política no cenário internacional, embora não seja o único. Nesse sentido, avalia que “o maior impacto vai ser no financiamento”, essencial para a aplicação de medidas de mitigação dos agravos no clima.
O Acordo de Paris, do qual Trump retirou o país norte-americano, representa um pacto firmado por mais de 190 países, em 2015, para manter a temperatura do planeta abaixo de dois graus Celsius. Esse movimento concretiza a sua intenção de investir em atividades econômicas contrárias à agenda climática, em uma tentativa de impulsionar a economia americana. Esta posição, além de incentivar outros países a não seguirem a agenda, deve enfraquecer acordos entre as partes durante a COP 30.
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“Para a gente ter uma política global de enfrentamento à crise climática é precisa ter um comprometimento orçamentário desses países no sentido de promover programas, rever políticas de consumo e também de ter uma espécie de seguro para a crise climática Então, o acordo na COP do Azerbaijão era justamente para isso e com a saída dos Estados Unidos a gente vai ter novamente uma artificialidade… talvez seja uma espécie de vislumbre de novos atores de negociação, mas sofrerá o impacto econômico fundamental para termos acordos mais sólidos no futuro”, observa Santos.
Diplomacia climática
A atitude dos EUA desalinha as relações diplomáticas no que diz respeito à agenda climática, como avalia o cientista político e docente da Universidade da Amazônia (Unama) Rodolfo Marques. “Como o Trump tem uma retórica agressiva que ataca principalmente os movimentos de enfrentamento à questão das mudanças climáticas, fica muito difícil pensar, até do ponto de vista diplomático, nessa construção de coalizões para apoiar iniciativas climáticas”, afirma. Em consequência da ausência do país e dessa postura, os compromissos firmados na Conferência deste ano tendem a ser menos ambiciosos e enfraquecidos.
O saldo da conferência deste ano, que já herda os acordos não firmados da conferência anterior, a COP 29, realizada no Azerbaijão, segue sem muitas expectativas, devido às sinalizações estadunidenses. Marques também pontua efeitos negativos sobre o setor produtivo do Brasil, que depende em alguma medida das exportações, o que pode estar ameaçado caso as relações comerciais sigam movimentações parecidas. “Essa ausência de diálogo compromete em vários níveis os processos de evolução da sociedade como um todo”, enfatiza.
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