Brasil pouco tem feito para transformar patrimônio genético em riqueza para a humanidade

Estudos na Vale apontam que é possível usar o DNA como estratégia para a conservação de espécies na Amazônia

O Liberal

O pesquisador Guilherme Oliveira, que é diretor científico da Vale, aponta que é possível criar estratégias de conservação que visem a preservação de espécies, mas também a conservação da diversidade genética original dela e isso é extremamente relevante para a manutenção da espécie a longo prazo.

VEJA MAIS

image Instituto Tecnológico Vale realiza, na Amazônia, o maior projeto de sequenciamento genômico do País
Uma das metas da iniciativa é contribuir para a conservação das espécies da região

“E, a partir daí, também podemos ter mecanismos de avaliar a espécie ao longo do tempo e de uma maneira não invasiva. É possível, por exemplo, fazer isso com amostras de pena ou com pequena amostra de tecido, sem retirar o indivíduo da natureza”, diz Guilherme Oliveira. Ainda segundo ele, todos reconhecem que o patrimônio genético existente na Amazônia é riquíssimo, porém, de modo geral, o Brasil tem feito pouco para revelar esse patrimônio e transformar isso em riqueza para a humanidade.

“O conhecimento genômico viabiliza, de uma forma bastante profunda, o entendimento profundo das espécies e é a informação básica para que possamos entender como que essas espécies produzem enzimas e fármacos, que podem ser de interesse humano. E, hoje, existem rotas de uso dessa informação que não são destrutivas. Ou seja, é possível usar desse conhecimento gerado de uma espécie nativa para a produção de um produto que seja de interesse da humanidade e isso sem ter que extrair essa espécie do ambiente. Essa é uma rota bastante interessante, porque gera produtos de grande valor agregado, enquanto se mantém a floresta de pé e os rios correndo e com a sua biodiversidade intacta”, acrescenta.

Trabalho para o futuro

O primeiro passo do projeto é coletar as espécies e, depois, por meio do trabalho de um taxonomista, dar nome a elas. O taxonomista é uma profissão muito antiga. Lineu, que foi a primeira pessoa a dar nomes às espécies de maneira sistemática. Ele fazia a descrição morfológica e dava um nome para elas.

image Guilherme Oliveira é diretor científico da Vale (Ricardo Teles / Vale)

“O que a gente faz hoje é dar uma outra camada de informação ao trabalho do taxonomista do ponto de vista molecular. É a base genética da taxonomia. Com a informação, temos agora uma referência genética para essa espécie, então, posso abstrair do trabalho do taxonomista ou encapsular todo o conhecimento da pessoa numa sequência de DNA. Em seguida, posso coletar o DNA dessa espécie ou no meio ambiente (água e solo, por exemplo) e, sabendo dessa referência, dizer qual é a espécie. Isso é uma nova ferramenta de monitoramento ambiental”, afirma. E acrescenta: “Para sabermos saber de peixes que estão na água, agora não necessariamente temos que coletar peixes. Podemos coletar a água e, no laboratório, fazer uma descrição de sua biota (conjunto de seres vivos que habitam um determinado ambiente ecológico, em estreita correspondência com as características físicas, químicas e biológicas do ambiente)”, explica Guilherme.

Guilherme reforça a importância da pesquisa para a proteção ambiental da Amazônia. “Nós temos pressa, não podemos basear os processos de proteção em anos de pesquisa. Então, se essa espécie é extinta, acabou o DNA, e não tem mais como resgatar a informação dela. Nós fazemos o sequenciamento genômico, que vai contribuir de maneira central para a sobrevivência da espécie, garantir que a gente tenha informação, que é o patrimônio genético, o produto de evolução de milhares de anos que agora já conhecemos”, disse. 

O laboratório do ITV, em Belém, é um dos mais bem equipados da América Latina para trabalhar no mapeamento genético das espécies coletadas. No laboratório central, as amostras são processadas e é feita a extração do DNA. “Usamos dessas tecnologias avançadas de sequenciamento de DNA para permitir andar muito mais rápido com a caracterização da biodiversidade. Tem aquele trabalho do taxonomista, que é, por natureza, bem lento e metódico, mas a gente acelera isso e coloca no mundo digital todo esse conhecimento. A partir dessa base de conhecimento da biodiversidade muitas novas possibilidades de auxiliar na preservação da biodiversidade e gerar conhecimento e valor para as pessoas.”, diz.

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Reportagem
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!