O.J.C. MORAIS

OCÉLIO DE JESÚS C. MORAIS

PhD em Direitos Humanos e Democracia pelo IGC da Faculdade de Direito Coimbra; Doutor em Direito Social (PUC/SP) e Mestre em Direito Constitucional (UFPA); Idealizador-fundador e 1º presidente da Academia Brasileira de Direito da Seguridade Social (Cad. 01); Acadêmico perpétuo da Academia Paraense de Letras (Cad. 08), da Academia Paraense de Letras Jurídicas (Cad. 18) e da Academia Paranaense de Jornalismo (Cad. 29) e escritor amazônida. Contato com o escritor pelo Instagram: @oceliojcmorais.escritor

Um presidente agnóstico reverenciou a Virgem de Nazaré

Filho de padre, se dizia agnóstico, mas respeitava as religiões

Océlio de Morais
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Na crônica “Um presidente sem camisa, mas de calção" - que relatou a inesperada visita e banho do então presidente portguês, Mário Soares, à praia do Murubira, em Mosqueiro no ano de 1995 - prometi outra crônica sobre  aquele estadista,  a partir de sua visita à Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará.

A visita à Basílica - ao que se sabe também foi o único presidente protuguês até hoje a conhecê-la fisicamente - só não passou  despercebida da comunidade católica paraense, porque o jornal O Libeal estava lá. Com primazia, tivemos a felicidade de fazer aquela cobertura jornalística. 

Quem o viu, como foi o meu caso, fazendo uma breve mas bem significativa reverência à imagem original alusiva à Nossa Senhora de Nazaré (aquela encontrada pelo caboclo Plácido, em 1700 e que fica exposta numa redoma de cristal no alto do Glória da Basílica), jamais poderia imaginar que o ilustre visitante fosse agnóstico.

Só para relembrar: o agnóstico, define o dicionário de filosofia do filósofo italiano Nicola Abbagnano, o “alma mater da Universidade de Nápoles Federico II, é a pessoa que  não acredita em Deus, mas também não nega a  sua existência.

Claro, eu não sabia. Apenas em junho de 2012,  numa viagem à Lisboa, por ocasião de uma visita à Fundação Cultural Mário Soares, fiquei sabendo sobre o agnosticismo do ex- presidente português. 

Na biografia de Mário Soares,  lá exposta, e que desperta muita curiosidade aos visitantes, também consta que é filho de Joaquina Ribeiro da Silva (uma mulher católica), engravidada por  João Lopes Soares, à época ainda padre da Igreja Católica. Nascido a 7 de dezembro de 1924, os pais casaram quando o filho já tinha 10 anos, mas foi apenas uma casamento no regime civil em 1934,  porque não fora permitido o seu casamento religioso na Igreja Católica, à época do  Pontífice Pio XI,  período de fevereiro de 1922 a fevereiro de 1939.

Então, Naquela visita do notório líder europeu à Basílica católica de Belém do Pará - só para recordar, a pedra fundamental foi lançada em 1909 e  a construção acabou após a II Grande Guerra Mundial -  pareceu ser  adepto do catolicismo e  fiel devoto de Nossa Senhora -  a Santa que possui cerca de 300 invocações pelo mundo inteiro, conforme  nos relata o filósofo Avertano Rocha,  notável Acadêmico da Academia Paraense de Letras, na belíssima crônica “A figura de Maria  como a mãe da Igreja  e um simpósio internacional da mariologia que muito  me ensinou", que gentilmente o poeta e escritor compartilhou comigo, mas também publicada no seu  Vana Verba” cultural.

Confesso que, se soubesse à época, que o então presidente português era agnóstico, teria perguntado a ele qual a sincera sensação de entrar num templo católica e fazer a reverência à Virgem de Nazaré exposta no  Glória, o Altar-Mor.

Mas como desconhecia esse fato, na  breve oportunidade que tive para me aproximar dele, lhe fiz duas perguntas: se ele se sentia abençoado naquele momento; e se em Portugal  havia uma igreja em igual estilo ao da nossa  Basílica?

Gentil e atencioso, à primeira pergunta, o presidente respondeu que se sentia muito bem naquele ambiente de paz, acrescentando que em Portugal também havia a devoção à Nossa Senhora de Fátima, local de permanentes peregrinações de fiéis católicos. 

A simplicidade e o respeito como falou sobre a fé católica, referindo-se ao santuário de Fátima,  realmente não deixava margens para dúvidas de que era um católico, jamais um agnóstico.  

Depois, nos anos de 2012 e 2016, quando visitei o Santuário de Fátima, constatei as palavras do presidente: realmente, no Santuário de Fátima há um clima no ar, um clima do encanto e de envolvimento espiritual dos fiéis católicos, que ali se reúnem para rezar por graças alcançadas ou para pedir novas e permanentes bênçãos de Nossa Senhora de Fátima. Eu pensei: é igualmente o que ocorre no Santuário de Nossa Senhora de Nazaré em Belém e no Santuário de Nossa Senhora de Aparecida, em Aparecida (São Paulo): a oração une as mentes e corações próximos ou distantes numa só corrente de fé pela Virgem Maria.  

À pergunta sobre a beleza arquitetônica da nossa Basílica, templo sagrado da fé paraense, o presidente Mário Soares respondeu, sorrindo, que em Portugal também havia templos religiosos tão belos como a nossa basílica.

Sua resposta não discriminou e nem especificou religiões, quando se referiu aos templos religiosos portugueses.  Foi  mais uma clara demonstração de respeito à diversidade religiosa, um exemplo extraordinário de que, mesmo agnóstico, não segrega religiões.  

Tive nítida sensação, naquele cobertura jornalística, que o presidente português saiu encantado com a beleza interna da Basílica de Nazaré, projeto dos italianos Gino Coppede e Giuseppe Predasso,  inspirada na Basílica de São Pedro (o principal templo da fé católica mundial, sediada na Cidade do Vaticano), conforme narram os livros sobre a história da Basílica da Nazaré.

Para quem se admitiu agnóstico,  mas que teve tempo para presidir a Comissão portuguesa da Liberdade Religiosa (2007-2011) e teve velório no Mosteiro dos Jerônimos ou Catedral de Belém (Lisboa) -  um templo da Igreja Católica   construído a partir do século XVI (e onde estão os restos mortais de Vasco da Gama) - é possível dizer que o Mário Soares acreditava em Deus muito mais  do que pudesse duvidar.

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Océlio de Morais
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