O cristiniasmo, o espiritismo e o valor da vida desde a concepção Océlio de Morais 03.09.24 8h49 Um dia desses, ouvi uma mensagem espírita – tenho especial gosto pela doutrina – cujo título era “Se eu não tivesse nascido”, na qual o personagem se refletia àquelas possibilidades desperdiçadas e seus respectivos pranteios ou choramingos. Magnifica, aquela mensagem me provocou esta reflexão, com outro personagem, também sobre fato verídico, agora na perspectiva da supremacia da vida desde o embrião – aquele ser humano absolutamente indefeso em fase de desenvolvimento, renovando a maravilhosa arte da vida, ali ainda em suas oito semanas de vida. Aos 40 anos, o pai de família recebeu, incrédulo, a notícia da mãe. “Meu filho, vou lhe confessar algo que me atormenta por todo esse tempo: por três vezes, logo no início da gravidez, tomei abortivos (medicamento usado para interromper gravidez). Eu estava desesperada, mas logo me arrependi daquele ato insano! Te peço perdão, meu filho tão amado!”. Abro um parêntesis: A Bíblia Sagrada não utiliza diretamente a palavra aborto, porém, nela são encontradas diversas referências em defesa da vida, desde a concepção. Isso pode ser visto em Gênesis 9: – “Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua imagem”; também no Salmos 139: – “Tu modelaste as entranhas do meu ser e formaste-me no seio da minha mãe” e, ainda, em Jeremias 1,15: – “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado…”. A mensagem é clara: o embrião que viceja nas entranhas da mãe é um ser humano em desenvolvimento, concebido à imagem e semelhança de Deus. Para a Igreja Católica, segundo o Cân. 1398 do Código de Direito Canônico, “Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”, também conhecida como excomunhão automática. Para a doutrina Espírita – Allan Kardec trata disso no Livro dos Espíritos – o aborto em qualquer fase da gravidez é uma gravíssima violação às leis divinas, pois impede que o Espírito já vinculado ao embrião renasça no corpo físico do qual necessita para evoluir espiritual. A doutrina Espírita também ensina que, quando nasce um bebê, às vezes se trata de um Espírito que, na vida passada, teve graves problemas (assassinato, aborto espontâneo, suicídio induzido ou espontâneo) com estes que agora serão seus pais ou irmãos, sendo que o retorno do Espírito à matéria corporal no seio da nova família é uma forma de expiação ou reconciliação relativamente à vida passada e, anda, nova oportunidade ao progresso espiritual. Fecho o parêntesis. Ao filho, a revelação sobre as tentativas de aborto provocou um turbilhão de pensamentos angustiantes. Ele se indagava: e se eu tivesse sido abordado? Aquela chance de vida, arrancada brutalmente na raiz, sem nenhum direito de defesa, seria definitivamente nulificada, pensou ao mesmo tempo em que a imaginação retornava à infância. E por sua pequena língua, por seus pequenos lábios e sua pequena boca, o leite materno não seria sugado e não correria pelo seu sangue como um néctar e não estabeleceria aquela relação tão especialmente maternal entre mãe e o frágil bebê. E a mulher perderia a chance de se sentir biologicamente mãe-mulher, daquele jeito que só realmente assim se sente a mulher que engravidou e deu à luz. E se eu não tivesse nascido – continuavam fervilhando os pensamentos diante da revelação da mãe, que, chorando, suplicava pelo seu perdão. Se eu não tivesse nascido –revolvia ele a mesma pergunta silenciosamente – inexistentes seriam as páginas do livro de minha vida, pois seriam inexistentes as experiências de colono, de menino vendedor de redes e pão; de aprendiz de sapateiro e de pedreiro; não teria conhecido os padres americanos e não teria sido alfabetizado tardiamente em colégio religioso e tampouco estudado teologia e filosofia para ser sacerdote, e tampouco teria obtido os títulos acadêmico de doutor e pós-doutor. Se eu não tivesse nascido, – imaginava o homem de 40 anos – eu não teria conhecido o maravilhoso desígnio de Deus: não teria a chance de aprender a servir, através da minha profissão, assim como seriam nulificadas todas as chances de contribuir com humildes saberes nas salas de aulas ou através das páginas da minha literatura ou ainda contribuindo para solucionar conflitos humanos. Se eu não tivesse nascido – permanecia absorvido e analisando todas as consequências do aborto – não teria tido as experiências amargas e os dissabores desafetos, nem teria tido a bênção pelas preciosas amizades fraternas construídas. Se eu não tivesse nascido – pensava ainda o homem do abordo abortado – não saberia a especial dimensão de ser pai, nem conheceria a sua segunda geração, pois não teria conhecido a sua amada alma gêmea. Enquanto o filho continuava impactado pela revelação e absorvido nos seus pensamentos, a mãe, por certa medida, parecia mais aliviada com a confissão. O homem prosseguia envolvido em seus pensamentos: e se eu tivesse nascido com anomalias decorrentes dos abortivos, como seria a minha vida?, indagava-se, em sua auto-reflexão, o filho por três vezes quase abordado. Não sei como seriam as dificuldades físicas e mentais, se tivesse nascido com deficiência, prosseguia o auto-reflexivo, enquanto por sua mente passavam imagens de pessoas com anomalias genéticas: embriotóxico (afetação tóxica do embrião) ou teratogênico (estado de deficiência presente durante a vida embrionária ou fetal e que produz alteração na estrutura ou função da descendência). A revelação mexeu com a estabilidade emocional daquele homem e a mãe, arrependida, suplicava o seu perdão. Mas o episódio, a rigor, não era de perdão, porque não havia o que perdoar, afinal, aquele o evento relativo ao abordo abordado estava espiritualmente entrelaçado nas trajetórias de vidas da mãe e do filho. Era como um script necessário para a evolução humana e espiritual: no arrependimento da mãe, quanto às tentativas do aborto, revelou-se a grandeza de seu Espírito ao desistir do ato infortunado — a arrependimento que representou o respeito à vida embionária. Não era caso de perdão, antes, era caso concreto de expressar a gratidão à mãe, afinal, ela – corajosa e determinada – a partir daquele sentimento de contrição, ela dedicou com integralidade todo o amor maternal ao filho. Era o caso, singularmente, de compaixão em face daquele ato ou impulso irracional e de instabilidade espiritual, que a levaram às tentativas abortivas. Por tudo isso, cabia admiração pelo arrependimento e pela filantropia que passou a fazer com seu trabalho. Depois do aborto abortado, a mãe dedicou-se a assistir mulheres nos partos, ajudando as parturientes na hora sagrada do nascimento dos filhos. Parteira foi um de seus ofícios a partir dali, como se fosse uma espécie de reparação. E, em primazia, suas mãos passaram a ser zelosos instrumentos para inúmeros bebês, que iniciavam sua nova aventura espiritual terrena. A vida é o primeiro e mais importante direito de todo o ser humano, embrionária ou não! —--------------------------- ATENÇÃO: Em observância à Lei 9.610/98, todas as crônicas, artigos e ensaios desta coluna podem ser utilizados para fins estritamente acadêmicos, desde que citado o autor, na seguinte forma: MORAIS, O.J.C.; Instagram: oceliojcmoraisescritor Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱 Palavras-chave colunas ocelio de morais COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA Océlio de Morais . Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo! Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é. Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos. Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado! 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