Pedro Veriano Marco Antonio Moreira 10.01.25 17h02 Pedro é autor de "A Critica de Cinema em Belém”, “Cinema no Tucupi” e “Fazendo Fitas” (Foto/Divulgação) Mister Kubrick! Durante vários anos, era desse modo que o mestre Pedro Veriano me cumprimentava. Pelo telefone ou pessoalmente, essa era a saudação de amizade e fraternidade com que ele me recebia, sempre de forma única e singela. Ele sabia da minha admiração pelo cineasta Stanley Kubrick, de quem ele também gostava, especialmente do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço. Essa saudação é uma das memórias eternas que guardarei deste mestre do cinema, que faleceu nesta semana. Neste momento de saudade e tristeza, é bom lembrar de sua intensa trajetória. Ele foi crítico de cinema, cineclubista, pesquisador, escritor e cineasta. No entanto, é difícil resumir sua trajetória em poucas palavras, pois, no cinema e na vida, Veriano fez tudo com muito amor, carinho e dedicação. Sua relação apaixonada e encantada com o cinema o levou a realizar muitas ações vinculadas à sétima arte, e sua história se intercala com a história da cinefilia paraense. Sua colaboração foi essencial para o desenvolvimento do cinema no Pará, desde suas primeiras críticas nos anos 1950, passando pela coluna diária de cinema no jornal A Província do Pará (de 1966 até 2001), até a fundação do cineclube da Associação Paraense dos Críticos de Cinema, em 1967. Veriano também foi responsável por debates e cursos de cinema, pela programação do cineclube por diversos anos, exibindo filmes inéditos e relançamentos essenciais para a cinefilia local. Além disso, realizou filmes em Belém, idealizou e colaborou na programação dos cinemas 1 e 2 ao lado do meu pai, foi programador do Cine Líbero Luxardo durante vários anos e desenvolveu pesquisas e livros sobre o cinema paraense. Essas e outras ações realizadas por Veriano marcaram profundamente a cinefilia de muitas pessoas, inclusive a minha. Tive o privilégio de conviver com meu pai, Alexandrino, em muitas jornadas cinéfilas pela cidade. E, muitas vezes, essas jornadas incluíram a presença de Pedro Veriano. Eu, criança, adolescente e adulto, tive a chance de ver e ouvir esses dois homens apaixonados pelo cinema conversarem sobre filmes, diretores, atores e atrizes. Sempre percebi um brilho especial em seus olhares quando falavam sobre cinema. Alexandrino e Pedro compartilhavam uma alegria juvenil pelo cinema que me conquistava intensamente. Era emocionante encontrar ou ligar para ambos e falar sobre filmes, percebendo sua empolgação. Dr. Pedro, como geralmente o chamava, manteve essa alegria pelo cinema até recentemente, quando, infelizmente, enfrentou sérios problemas de saúde. Estivemos juntos em muitas ações culturais relacionadas ao cinema nos últimos anos, e é difícil pensar que não poderei mais trocar ideias sobre cinema com ele.Certamente, entre tantas práticas que tínhamos juntos, sentirei muita saudade desse contato pessoal, marcado pela interação e pelo encantamento que o cinema proporcionava. Imerso em muita saudade de Veriano, é inevitável lembrar dos filmes que ele gostava, como A Felicidade Não Se Compra (1946) de Frank Capra. A mensagem de fraternidade e solidariedade deste filme tocou profundamente Veriano, que o escolheu como seu preferido. Ele fazia questão de que todos pudessem assistir a esse filme e se apaixonar pela obra de Capra. E assim aconteceu com diversas pessoas, a partir de sessões programadas por ele em cineclubes e cinemas. A partir da lembrança deste filme e do modo como ele insistiu para que muitos cinéfilos tivessem a oportunidade de assisti-lo, preciso destacar uma das mais belas características de Pedro Veriano: o que chamo de "solidariedade cinéfila". Ou seja, ele amava os filmes, mas não se contentava apenas em amar; entendia que era necessário que muitas pessoas tivessem a chance de conhecer essas obras. Era encantador vê-lo destacar um filme e nos convencer a ampliar nossa cinefilia. Agora, é difícil lidar com a saudade, as memórias e tantos momentos que vivemos juntos nos cinemas, cineclubes, debates, eleições anuais dos melhores filmes do ano pela associação de críticos e conversas pessoais e ao telefone. Mas, certamente, pretendo manter viva a memória do Dr. Pedro Veriano por meio de tudo o que ele ensinou e realizou no cinema. Desse modo, espero que novas gerações de cinéfilos conheçam sua paixão pelo cinema e se inspirem no encantamento tão intenso que ele teve por essa arte maravilhosa e transformadora. Meio perdido em meio à intensa saudade do mestre Veriano, concluo este texto de agradecimento a ele, lembrando carinhosamente dele como o nosso George Bailey, personagem principal de A Felicidade Não Se Compra. Um personagem digno, fraterno, solidário e exemplar, que o cinema mostrou e que nós, que tivemos o privilégio de conhecer Pedro Veriano, acreditamos que também existia na vida real. Obrigado, Dr. Pedro George Bailey Veriano! Saudades eternas, mestre! Agora e para sempre, espero que meu pai Alexandrino e Dr. Pedro estejam juntos, mantendo sua eterna parceria de amor pelo cinema! Dedico este texto ao querido mestre Pedro Veriano e à sua família carinhosa, especialmente à querida Luzia Álvares. 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