Objetos de cera: tradição se renova com pedidos inusitados e histórias de fé
Desde a pandemia, pulmão tem sido uma das representações mais encomendadas para pagamento de promessas de cera no Círio
A tradição de produzir peças de cera para o Círio de Nazaré é longa e cheia de significados. A diretora de uma fábrica que existe há 86 anos em Belém, localizada na rua Dr. Assis, ao lado da Catedral Metropolitana, diz que, antigamente, as formas eram feitas de gesso; um processo manual e bastante trabalhoso. “Lembro de quando era garota, amarrando as formas de gesso com barbante. Hoje, usamos alumínio e silicone, o que facilita muito o processo”, relembra Ana Brahuna, filha do fundador.
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Segundo Ana, a produção para o Círio começa em junho e, a partir de setembro, o movimento aumenta significativamente. As peças de cera encomendadas são as mais variadas, mas todas carregam histórias profundas de fé e gratidão.
“A maioria das promessas envolve partes do corpo humano, como braços, pernas e pulmões. Especialmente após a pandemia de covid-19, o pulmão se tornou uma das peças mais procuradas. As pessoas fazem promessas relacionadas a problemas de saúde e trazem objetos específicos para serem banhados em cera, como um cinto de UFC ou até uma tesoura, simbolizando conquistas pessoais e profissionais”, conta a diretora.
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A relação da fábrica com o Círio vai além do aspecto comercial. Ana, que tem uma ligação pessoal com Nossa Senhora de Nazaré, descreve com emoção o papel da fábrica em ajudar as pessoas a cumprirem suas promessas. “Eu tenho uma relação de muito carinho e respeito por quem faz promessa. Nossa Senhora só quem precisa sabe, né? Eu já precisei. Tenho muita fé e gratidão. A cada ano, é emocionante ver o quanto as pessoas se dedicam e como a devoção se mantém viva”, comenta.
“No sábado à tarde, quando eles vão embora, eu choro. Porque todos eles foram entregar suas promessas”, acrescenta, emocionada.
Pedidos inusitados
Além das formas tradicionais, a fábrica também atende a pedidos inusitados, que muitas vezes desafiam a criatividade e a capacidade técnica de produção. “Recebemos pedidos curiosos, como uma senhora que trouxe um cofrinho de barro em forma de porco, em agradecimento pela porquinha dela que estava enfrentando complicações na gravidez”, diz a diretora. Outros pedidos, no entanto, não podem ser atendidos devido à complexidade, como a de uma Santa Ceia completa ou um pirarucu de dois metros. “Tem coisas que as pessoas pedem que realmente não temos como produzir. Mas tentamos sempre atender da melhor forma possível”.
A diretora da fábrica também compartilha sua experiência pessoal com o Círio. “Eu já tive câncer, meu marido também, e ao longo da vida, você vai entendendo o poder da fé e da gratidão. Hoje, não acompanho a procissão devido à minha saúde, mas sempre faço questão de levar minhas promessas à Basílica e agradecer”, revela.
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À medida que o Círio se aproxima, a fábrica se torna um lugar de intensa atividade, acolhendo aqueles que vêm buscar uma forma de expressar sua devoção e gratidão à Nossa Senhora de Nazaré. “O Círio é algo que se sente, não se vê. Para mim, é um privilégio poder ajudar as pessoas a cumprirem suas promessas. Cada peça que produzimos é um símbolo de fé, esperança e renovação”, finaliza.
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