Encontro no Bar do Parque é tradição de fotógrafos após a chegada do Círio

Desde os anos 1980, grandes nomes da fotografia paraense se reúnem no local boêmio para confraternizar pelo trabalho feito durante a cobertura nazarena

Gabriel da Mota

O Círio de Nazaré é um espaço-tempo de encontro entre pessoas, histórias e emoções. Assim como as famílias paraenses se reúnem para o almoço do Círio na tarde do segundo domingo de outubro, profissionais da imprensa visual também possuem um momento para confraternizar assim que Nossa Senhora chega à Basílica: são as conversas no Bar do Parque, na Praça da República, realizadas há pelo menos 40 anos.

Miguel Chikaoka recorda o primeiro momento que teve um encontro casual no Bar do Parque, após a procissão.

"Foi em 1982. Nós estávamos aqui para tomar uma cervejinha, e o encontro acabou virando uma festa antes do almoço do Círio", diz.

Paulo Santos, que também fotografa desde os anos 1980, complementa: "Nunca houve uma combinação formal, aconteceu naturalmente. É normal que, depois de uma jornada cansativa, os fotógrafos se encontrem e confraternizem".

A conexão entre os profissionais começou de maneira espontânea e, com o passar dos anos, se transformou em tradição. "A cada ano, mais pessoas se juntavam, e hoje em dia temos de 30 a 40 fotógrafos aqui depois do Círio", explica Chikaoka. No entanto, a evolução do evento não trouxe apenas alegria; mudanças significativas na cobertura e na dinâmica da procissão também foram notadas. "O Círio mudou muito desde então. A corda que antes era um anel agora é um cordão, e isso altera a experiência estética", observa.

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Para Paulo, o Círio é uma manifestação religiosa poderosa, que transcende a fé individual.

"Eu não sou católico, mas admiro a devoção das pessoas. É um momento onde se testemunha algo de uma potência extraordinária", comenta.

Ele ressalta, porém, sua preocupação com a crescente presença de propagandas durante a procissão. "É uma falta de respeito com as pessoas que estão ali acreditando. O uso da fé como ferramenta de marketing me incomoda muito", critica.

Ursula Bahia, outra fotógrafa veterana que há mais de 20 anos documenta o Círio, compartilha sua perspectiva sobre o evento e sua importância. "O Círio é um reencontro, não só de amigos, mas de toda uma história. Desde criança, participei do Círio pelo colégio, e isso me motivou a fotografar", diz. Ela destaca uma de suas fotos favoritas, que capturou o Mercado de Carne do Ver-o-Peso ao fundo, onde a multidão e a Berlinda se entrelaçam em um momento significativo. "Quando editei a foto, coloquei em sépia. Essa escolha traz à tona a nostalgia e a memória do que o Círio representa", revela.

O trabalho árduo dos fotógrafos durante a cobertura do Círio é inegável. "Mal dormimos, é um rodízio intenso, principalmente para quem acompanha as carreatas e os eventos ao longo da semana", confessa Ursula. No entanto, a adrenalina do momento, a busca por imagens que capturem a essência da devoção e a solidariedade são o combustível que motiva esses profissionais. Para a fotógrafa, os encontros no Bar do Parque servem para desaguar as emoções acumuladas pela intensa cobertura de vários dias do evento: “Desde sexta-feira, estamos cheios de emoção. Não só alegria, mas também por coisas tristes que acontecem no Círio”, conclui.

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