Círio 2023: romeiros de São João de Pirabas pedalam 200 km até a Basílica de Nazaré
Grupo de ciclismo "Romeiros de Pirabas" foi criado em 2001 e realiza o trajeto em devoção à santa desde 2006, contando atualmente com 35 integrantes
Um grupo de ciclistas partiu na tarde desta quinta-feira (5) da cidade de São João de Pirabas, no nordeste do Pará, com destino a Belém, para participar do Círio de Nazaré. Motivados pela fé e em agradecimento pelas bênçãos alcançadas, os 'Romeiros de Pirabas' pedalam 200 quilômetros até a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré.
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O grupo foi criado em 2001, com a proposta inicial de se aventurar em uma viagem de bicicleta, no período do Círio, até a Basílica Santuário. Cinco anos depois, a organização da romaria mudou o propósito do percurso, que se transformou em um ato devocional.
Ao todo, 35 romeiros partem de Pirabas em bicicletas seguidos por um carro de apoio e com uma expectativa de chegar ao destino às 5 horas da sexta-feira (6). Segundo a atendente Elane Chagas, as pessoas que acompanham o grupo no veículo fornecem aos ciclistas água, alimentos e medicamentos - doados por outros devotos e com apoio do comércio da cidade - durante todo o trajeto.
"Nosso roteiro conta com oito paradas para hidratar e lanchar. A maior pausa do grupo acontece em Castanhal, onde há um jantar. De lá, partimos para Benevides, no ponto de apoio oferecido aos romeiros. Depois, vamos direto e só paramos na Basílica de Nazaré", explica a integrante do RDP.
Preparo para a romaria
Para aguentar o desafio anual, os 35 ciclistas começam os treinos no mês de maio. Primeiro mudam a alimentação, aumentam o consumo de água e regulam o sono para melhorar a condição física e mental.
"Cortei o que comia em exagero e passei a beber bastante água para hidratar. Em 2021 fui pela primeira vez, ano passado não pude ir, pois fiquei com problemas sérios de saúde, e graças à 'Nazinha' e a Deus fui curado. Quando fiquei doente prometi que, se fosse curado, iria participar todos os anos dessa linda festa, o Natal dos paraenses", conta o ciclista Felipe Costa.
Com pelo menos 30 dias de antecedência à partida, eles realizam treinos diários, além dos chamados "longões" - grandes percursos para outras cidades, pelo menos duas vezes por semana. Nessas rotas, os romeiros conseguem percorrer de 190 a 230 quilômetros para garantir condicionamento físico.
Amor por Nossa Senhora de Nazaré
Vitor Emanuel, 47, faz o percurso de bicicleta há seis anos. Ele conta que se preparou há um mês e está empolgado com a chegada do Círio. “Todos os anos faço esse trajeto só em forma de agradecimento e agora vou ter o privilégio de poder levar meus dois filhos. A sensação é inexplicável, não tem como não se emocionar”, relata.
O percurso de 200 quilômetros até Belém motivou o eletricista a pensar em um novo roteiro, com um destino ainda maior, em nome da fé. Em novembro de 2022, ele, Justino Silva, 40, e Ruvanildo Oliveira, 32, ambos integrantes do grupo de ciclismo, enfrentaram mais de 3 mil quilômetros, pedalando até o Santuário Nacional de Aparecida.
“A primeira viagem até a Basílica me fez pensar em outros projetos mais audaciosos, como a viagem para Aparecida do Norte, para estar com Maria, mãe de Jesus. É muito difícil conter a emoção, é tudo maravilhoso.”
Para Dyego Lins, 28, a ideia de chegar à casa de Maria causa uma explosão de bons sentimentos. "Aquela sensação de se aproximar cada vez mais do destino, a adrenalina, é uma felicidade que nem consigo explicar. Ao chegarmos na Basílica o que resta é somente agradecer por todas as horas pedaladas e graças alcançadas", relata.
Devoto desde a infância, foi só aos 18 anos que o motorista passou a se interessar pela ciclorromaria. Tudo surgiu a partir do momento em que viu romeiros de São João de Pirabas indo para Belém e percebeu que poderia ser capaz de fazer o mesmo. A viagem feita por ele há cinco anos é uma forma de agradecer pela vida, após ter sido baleado e conseguido se recuperar.
"No ano de 2016, no domingo do Círio de Pirabas, eu sofri uma tentativa de assalto e o tiro atingiu a minha artéria. A caminho do hospital, tive uma hemorragia e minha mãe orou e pediu a Nossa Senhora que não me deixasse partir desse mundo, porque ela não ia suportar a dor de perder um filho tão jovem. Quando cheguei em Belém, o sangramento já tinha parado e eu estava consciente. Com menos de 24 horas tive alta e fui para casa. Foi desde então que a devoção ficou maior, sou muito grato a Nossa Senhora."
(*Juliana Maia, estagiária sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Cidades)
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