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Viúva de preso do 8 de Janeiro morto na Papuda afirma que 'gritou por socorro'

Dias antes de morrer, Cleriston se queixou de dores no peito para a esposa, em dia de visita

O Liberal

“Eu pedia por socorro”, afirma Jane Duarte, esposa de Cleriston Pereira da Cunha, que morreu vítima de um infarto fulminante. O homem teria reclamado, dias antes, de fortes dores no peito e dito que não se sentia bem. Ele estava preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) II do Distrito Federal, no Complexo Penitenciário da Papuda, suspeito de participar dos atos antidemocráticos na Praça dos Três Poderes, em Brasília (DF), no dia 8 de janeiro.

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“Eu avisei, dei atestado médico, laudo. Eu falava: ‘Gente, pelo amor de Deus”, recorda. A comerciante informou que constantemente levava os remédios para Cleriston não interromper o tratamento. Ele tomava nove medicamentos por dia e, segundo a esposa, passava mal com frequência.

“Sempre relatava sobre a saúde dele. Nada foi ouvido, nada foi visto, nada”, relatou. “Hoje eu me encontro viúva. E os nossos sonhos? Quem vai realizar nossos sonhos?”, questionou Jane. Os dois tinham 25 anos de casados e moravam há dois anos em uma casa localizada em Vicente Pires. Jane e Cleriston eram donos de uma distribuidora de bebidas no Assentamento 26 de Setembro.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) chegou a emitir, em setembro, um parecer favorável à liberdade provisória do detento. Porém, a manifestação da PGR não chegou a ser apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), responsável por julgar os processos contra presos pelos atos antidemocráticos.

Revoltados com a lentidão em analisar a situação de Clériston, a família entende que a morte dele foi uma tragédia anunciada. “A gente estava sempre no aguardo de que ele iria sair, mas ninguém liberou ele. Eu sempre falava que meu esposo tinha comorbidades”, destacou a viúva.

Jane contou ainda que não foi informada a respeito do falecimento do marido pela equipe da penitenciária. “Uma amiga me falou que ele tinha passado mal. Fiquei ligando, mas ninguém me falava nada”, detalhou. Ela lembra que, ao chegar no local, viu um carro do Instituto Médico Legal (IML) saindo, mas não fazia ideia de que seu marido havia morrido.

Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape) confirmou que o óbito ocorreu na manhã da última segunda-feira (20), por volta das 9h. Desde que deu entrada na prisão, Clériston era acompanhado por uma equipe multidisciplinar da Unidade Básica de Saúde (UBS). A causa da morte ainda está sendo investigada.

“Hoje [segunda-feira], essa mesma equipe de saúde realizou manobras de reanimação assim que foi constatado o mal súbito até a chegada da equipe do Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] e dos bombeiros, imediatamente acionados”, destacou a pasta.

Quem era Cleriston Pereira

Nascido na Bahia, Clériston morava há cerca de 20 anos no Distrito Federal. Ele era popularmente conhecido por familiares e amigos como “Clezão do Ramalho”. O comerciante era irmão do vereador Cristiano Pereira da Cunha – do município baiano de Feira da Mata, no oeste do estado –, também conhecido como Cristiano do Ramalho. O patriota estava entre os acusados de invadir o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro deste ano.

(*Kamila Murakami, estagiária de jornalismo, sob a supervisão de Hamilton Braga, coordenador do núcleo de Política)

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