Vídeos ensinam a fazer dentes falsos com resina; dentistas apontam riscos

Diversos vídeos mostrando pessoas fazendo dentes de resina sozinhas, em casa, estão espalhados nas redes sociais. O famoso "dente da Shopee" pode ser feito usando um material barato, que pode ser comprado com cerca de R$ 20,00 nas plataformas online. Apesar da popularidade dos tutoriais na internet, dentistas alertam: a prática é perigosa e desaconselhada.

Como funciona o "dente da Shopee"?

Os vídeos mostram o uso de resina termoplástica, um material vendido em pequenas esferas. Quando mergulhadas em água quente, essas esferas viram uma massa plástica maleável, que pode ser moldada no formato do dente.

Depois de modelado, o dente improvisado precisa ser colocado na água fria, onde endurece e adquire uma cor branca, parecida com a dos dentes naturais. Veja a imagem abaixo:

Vídeos ensinam a como fazer dente fake nas redes sociais (Reprodução)

Muita gente comenta que criar um dente provisório em casa sai bem mais barato do que um implante odontológico profissional, que pode chegar a R$ 2,5 mil. Mas os dentistas alertam que essa "economia" pode custar caro para a saúde bucal e geral.

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Riscos e prejuízos à saúde segundo especialistas

O Liberal conversou com Ana Rosas, cirurgiã-dentista e bucomaxilofacial. Ela alerta que fabricar dentes em casa é extremamente arriscado e destaca os principais problemas:

• Não há garantia sobre a procedência da resina, nem clareza quanto aos seus componentes químicos. Esses materiais podem liberar substâncias prejudiciais dentro da boca.
• O dente feito em casa não respeita o formato natural da arcada dentária, o que compromete a higiene bucal e dificulta a manutenção dos espaços entre os dentes.
• Sem o acabamento profissional, a superfície do dente improvisado fica áspera, facilitando o acúmulo de restos de alimentos e aumentando o risco de cáries.
• O uso de dentes caseiros pode gerar pressão inadequada sobre os dentes inferiores, levando ao desalinhamento da mordida, dores de cabeça e até enxaquecas.

"Por serem materiais muito porosos, essas resinas acumulam bastante biofilme, que são as bactérias responsáveis pela formação da placa dental. Esse acúmulo ocorre tanto por baixo da resina, devido à má adaptação, quanto nas laterais. Com o tempo, esse biofilme pode causar halitose (mau hálito), cáries nos dentes vizinhos e até levar à perda de outros dentes", alerta a especialista.

Ana Rosas também ressalta que as próteses provisórias de resina utilizadas em consultórios são recomendadas apenas durante o tratamento para implantes. Já as próteses definitivas são feitas de porcelana, um material seguro e biocompatível.

Sobre as próteses caseiras, ela explica que o desgaste causado pelo contato inadequado — ou seja, o contato direto e desajustado entre os dentes — favorece inflamações nas mucosas gengivais. Esse processo geralmente começa como gengivite e, se não tratado, pode evoluir para periodontite, uma doença periodontal grave que pode levar à perda dos dentes a longo prazo.

Outro ponto importante destacado pela especialista é que essas resinas, por serem termoplásticas, liberam calor durante o processo de endurecimento, conhecido como polimerização. Nessa fase, além do calor excessivo — que pode causar queimaduras na gengiva, uma mucosa bastante sensível — as resinas também exalam um odor forte e liberam substâncias químicas nocivas.

CFO age para coibir a venda das resinas ilegais

O Conselho Federal de Odontologia (CFO) montou uma ouvidoria, em parceria com as plataformas de venda online, para remover os anúncios ilegais desses produtos.

De acordo com o conselho, foram firmadas parcerias com a Shopee e o Mercado Livre para que denúncias feitas por dentistas ou consumidores sejam analisadas, e os anúncios de resinas sejam retirados do ar.

Para denúncias, pode entrar em contato pelo e-mail: ouvidoria@cfo.org.br.