Tema da redação do Enem 2023: invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher

Estudantes vão tratar sobre “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”

Bruna Lima

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 é "“Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Foi divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), na tarde deste domingo (5). O primeiro dia de prova foi de linguagens, ciências humanas e redação.

De acordo com o Inep, o texto (de até 30 linhas) precisa ser dissertativo-argumentativo. As ideias precisam estar embasadas por explicações fundamentadas e argumentações sobre o assunto. Os participantes também contam com textos motivadores para desenvolverem os seus conceitos.

A professora de redação Treicy Castro diz que mais uma vez a vulnerabilidade configura o tema do Enem e destaca que, particularmente, ficou satisfeita com proposta desse ano. "É uma discussão extremamente necessária, atual, sobretudo, quando a gente percebe o cenário cheio de desigualdades e, principalmente, no que diz respeito ao gênero. Então foi um tema que nós discutimos em sala, porém, não especificamente com relação ao cuidado. Falamos muito sobre questões de gênero, sobre desigualdade de gênero, sobre o papel da mulher frente a sociedade pós-moderna, sobre exploração da mão- de -obra feminina, mas especificamente essa relação com o cuidado acredito que surpreendeu os professores", explica a professora.

Ela acrescenta que muita gente apostou em vários outros temas, inclusive, em outros eixos temáticos, mas novamente o Enem traz a vulnerabilidade como foco, ao mesmo tempo que surpreende é um tema acessível. "É um tema que os alunos conseguem dissertar sem tantas dificuldades. Principalmente à medida que vão lendo os textos motivadores, eles estão muito didáticos", diz.

Quanto a parte argumentativa, Treicy diz que há um leque de repertório sociocultural e biológico para trazer abordar a discussão. O primeiro ponto que a professora coloca é com relação a reflexão histórica-social sobre o próprio sistema patriarcal e o lugar que o sujeito feminino, infelizmente, ainda é de opressão.

"A sobrecarga recai sobre a mulher e essa essa reflexão histórica. os alunos vão poder citar o feminismo, trazer questões de gênero da Judith Butler, trazer também a própria Simone de Bouvoir para falar sobre essa construção social do que é ser mulher e lembrando da famosa frase 'não se nasce torna-se mulher'. Também uma reflexão sobre igualdade e direitos, uma reflexão sobre essa desigualdade que nos atravessa. E penso também que seria muito interessante trazer artigos da constituição ou da própria declaração universal dos direitos humanos sobre todos somos iguais, que todos os indivíduos são iguais em dignidade, em direitos", destaca.

Marcela Castro, que também é professora de redação, diz que se trata de um tema acessível para o aluno que abordou a sensibilidade do olhar. "Aquele aluno que olha ao seu redor e percebe que o mundo vai além das bolhas sociais nas quais ele está inserido. Afinal, ele precisa observar o comportamento do outro, as ações do outro. Se ele enxerga as mulheres atuando, trabalhando ele conseguiu escrever a respeito", pontua a professora.

Sobre alguns dos argumentos que devem ser abordados na dissertação, Marcela detalha a importância de observar esse tipo de invisibilidade, pois é algo que estrutura a sociedade. Já que muitas pessoas dizem que uma mulher que cuida do lar é uma mulher que não tem profissão. "Quando na verdade cuidar de uma casa é algo exaustivo porque o serviço não termina nunca. Um outro ponto é quem cuida de idosos, quem cuida de pessoas com deficiência a quem cuida de pessoas adoecidas. Geralmente são mulheres que muitas vezes deixam as suas profissões, deixam de trabalhar", detalha.

Ainda sobre os argimentos, a professora explica que muitas pessoas se negam a pagar os direitos trabalhistas de quem trabalha em âmbito doméstico. "Tudo isso poderia ser abordado pelos alunos para que eles pudessem fazer uma excelente redação", acrescenta.

Marcela Castro diz que o tema inserido dentro da economia do cuidado foi debatido em sala de aula não só a partir da proposta de redação, mas também a partir das vivências dos alunos. "Quantas vezes eles não ignoraram, não perceberam que quem cuida de uma casa, que quem cuida de um idoso, quem cuida de uma criança, quem ensina as primeiras letras, quem abraça nos momentos de adoecimento,  quem está presente geralmente é uma mulher. Então por mais que nós tenhamos trabalhado esse tema no primeiro semestre ele acabou se tornando uma reflexão constante disso".

As redações são avaliadas de acordo com cinco competências e a nota pode chegar a mil pontos. Por outro lado, há critérios que conferem nota zero, como fuga ao tema, extensão total de até sete linhas, trecho deliberadamente desconectado do tema proposto, não obediência à estrutura dissertativo-argumentativa e desrespeito à seriedade do exame. Não houve mudanças nos critérios para o Enem 2023.

O processo de correção é monitorado pelo Inep em todas as suas etapas e segue, rigorosamente, os parâmetros estabelecidos pelo Instituto. Os textos podem passar por até quatro correções para o cálculo da média final. 

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