Pai de aluno que matou colega faz apelo: 'Quem tem arma em casa, entregue'
O motoboy Marcos Tuci, 51, disse que tinha a arma há quase duas décadas por conta do trabalho de risco que desempenhava tempos atrás, mas nunca usou: “É uma coisa negativa”
O pai do adolescente de 16 anos que matou uma colega a tiros em uma escola na zona leste de São Paulo se entregou à Polícia Civil nesta quarta-feira (24). A arma utilizada no crime pertencia a ele e foi encontrada pelo filho durante o fim de semana, quando ele passou algum tempo na casa do pai. A vítima do jovem foi Giovanna Bezerra da Silva, de 17 anos, atingida com um tiro na cabeça. Outros dois estudantes ficaram feridos, mas, foram levados a um hospital da região.
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"Armas são um problema. Aqueles que possuem armas em casa devem entregá-las. Eu tive uma por 29 anos e nunca a utilizei. Vejam a tragédia que isso causou na minha vida", declarou o pai do adolescente, Marcos Tuci, de 51 anos, que trabalha como motoboy.
Tuci relatou ter adquirido a arma em 1994, quando estava envolvido em atividades de risco, como corte e religação de água. “Tinha um trabalho de risco. Muitos funcionários andavam armados, mas é uma besteira. Na época, era moleque novo”, disse.
Durante o tempo em que manteve o revólver, Tuci não efetuou o devido recadastramento e a arma permaneceu guardada. “Teve aquelas campanhas de desarmamento, eu morava em outra casa, em São Mateus [zona leste]. Era bem inseguro, o muro era baixo, eu tinha um pouco de medo e não me desfiz”, afirmou. "Como mudei agora para uma comunidade, e não é um ponto visado, até estava pensando em me desfazer dela".
Sobre o filho, Tuci compartilhou que jamais imaginou que ele pudesse cometer um atentado. "Não via potencial no meu filho para cometer uma tragédia dessa", afirmou.
Segundo o motoboy, o jovem parecia não reagir de maneira adequada às agressões que sofria e ele temia que algo pior pudesse acontecer. "Achava que fosse acontecer algo com ele, de morrer e não reagir", disse.
Tuci também apontou o bullying como um fator prejudicial que poderia ter influenciado seu filho a cometer o crime. "O bullying coloca alguém em uma situação sem saída. A pessoa sente que não tem alternativa senão se livrar disso de alguma forma, seja cometendo um ato violento ou se ferindo. Não sei se estou expressando isso da maneira correta", acrescentou.
O motoboy afirmou que não pretende julgar ninguém, mas que a escola, o governo e outras entidades não ofereceram apoio adequado ao seu filho antes da tragédia. Ele mencionou que o jovem passou por um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde uma psicóloga realizou algumas consultas e concluiu que ele não tinha distúrbios mentais.
Tuci contou que está separado da mãe do adolescente desde 2019 e que encontrava com os filhos a cada 15 dias. Além de uma filha de 29 anos, ele tem também um adolescente de 11, irmão do jovem que cometeu o atentado. “Perde aquele vínculo diário, de pegar para conversar”, lamentou.
O motoboy disse que nunca poderia ter previsto que estaria diante dos microfones para falar sobre uma tragédia envolvendo o próprio filho, mas, fez questão de enfatizar que o garoto teve uma criação adequada, sem envolvimento com armas e que era religioso. Por fim, pediu desculpas à família da vítima. “Sei que não adianta, mas peço perdão do fundo do coração pelo que meu filho fez. Sei que ele está sofrendo na prisão, eu como pai tenho um sentimento de culpa. A arma era minha, eu sinto, mas o que estou sofrendo não é nem 10% do que essa família está sofrendo com a perda da filha”, declarou.
O motoboy foi interrogado pela Polícia Civil na noite de terça-feira (23) e deverá prestar mais esclarecimentos ao longo da semana. Segundo o advogado Douglas Oliveira, que representa a família, o adolescente teria encontrado a arma no fundo falso de um box de cama. “Levantando o box, ainda tem um fundo falso. Como foi e voltou de mochila, então o pai não percebeu. Só ficou sabendo depois. As munições estavam em uma caixa e a arma e outro lugar”.
Apesar da tragédia ocorrida na Escola Estadual Sapopemba, Marcos Tuci disse que tem esperança na recuperação de seu filho. “A gente nunca desiste de um filho, mesmo com a gravidade dos fatos”
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